Cidades

Casa de Chá de Brasília retorna à ativa após décadas de abandono

Nos anos 70 e 80, o local marcava presença no cenário da Praça dos Três Poderes. A novidade agrada tanto turistas quanto de quem nem sabia que ali foi um dos pontos movimentados da capital

postado em 20/08/2010 08:13
Nos anos 70 e 80, o local marcava presença no cenário da Praça dos Três Poderes. A novidade agrada tanto turistas quanto de quem nem sabia que ali foi um dos pontos movimentados da capitalQuem hoje passa pela Praça dos Três Poderes, na Esplanada dos Ministérios, não imagina que um dia ali foi um dos pontos mais agitados de Brasília. Centenas de pessoas de todas as idades se encontravam em uma casa de chá de 250 metros quadrados, construída em um subsolo localizado atrás do Panteão da Pátria, distante poucos metros do Palácio do Planalto. O auge do movimento foi na década de 1980, quando as noites eram sempre de muita dança e as festas varavam a madrugada. Tanto tempo após o ápice do funcionamento da famosa Casa de Chá de Brasília, ela voltará aos dias de glória. Depois de mais de 15 anos de reforma, o espaço foi entregue pela Secretaria de Obras e reinaugurado às 19h30 de ontem com direito a jantar para 150 convidados.

No subsolo da praça havia um bar onde as pessoas conversavam e se livravam do estresse do dia de trabalho. Do lado de fora, alguns formavam uma roda para cantar e tocar violão, ao mesmo tempo em que admiravam o céu estrelado da capital federal e da imponente arquitetura dos monumentos onde são tomadas as decisões políticas do país. Todo o cenário foi projetado no início da construção de Brasília pelo arquiteto Oscar Niemeyer, mas, em 50 anos, o lugar não foi bem aproveitado e a casa já não funcionava há cerca de 20 anos (veja memória). Um risco de desabamento da estrutura e interferências políticas foram responsáveis pelo fim dos encontros e pelo consequente abandono.

Na inauguração, diversas autoridades no ramo de turismo e representantes de restaurantes de 27 estados do Brasil marcaram presença. A decoração rústica e a iluminação deram ainda um toque europeu ao lugar. No cardápio, foram servidas carnes exóticas como a de javali, de tartaruga e de capivara. Para a data, foram realizados polimento do piso, pintura, reparos nas instalações hidráulicas, troca de 90 lâmpadas e limpeza do ar-condicionado. Ainda estão previstos a impermeabilização e o ajuste do depósito.

Vanira destaca o clima de A notícia da reabertura da casa trouxe felicidade para a tradutora Vanira Tavares, 44 anos. Ela se lembra que, em 1981, quando tinha 19 anos, saía direto do trabalho no Supremo Tribunal Federal (STF) para observar o pôr do sol e encontrar os amigos. ;A Casa de Chá era nosso happy hour. Sempre foi um lugar romântico para pessoas sensíveis.; Vanira conta que o espaço servia também de abrigo do sol e da chuva para os visitantes daquela época. ;Não poderia ter ficado tanto tempo fechada, porque sempre foi um lugar muito agradável;, destacou.

Filho de pioneiro, o engenheiro Marcelo Alves Venzi, 44 anos, foi um dos frequentadores assíduos da casa em 1984. Tinha 18 anos à época em que se divertia na minipista de dança da antiga estrutura. ;Tocava pop rock. Era muito animado. Às vezes a galera ficava até umas 6h, quando amanhecia. A casa era muito boa para bater papo e para namorar também;, relembrou.

Nos anos 70 e 80, o local marcava presença no cenário da Praça dos Três Poderes. A novidade agrada tanto turistas quanto de quem nem sabia que ali foi um dos pontos movimentados da capitalToda a decoração para a inauguração da Casa de Chá é assinada por Virgínia Darc, 56 anos. Ela também foi uma das jovens da década de 1970 que se divertiam no local. ;Era época de ditadura e de muita repressão. As pessoas podiam ser presas por qualquer motivo. Só aqui é que ninguém chegou a perturbar. A Casa de Chá tinha um restaurante muito charmoso e parecia muito pequena, de tanta gente.; O local era muito frequentado por gente de paletó e gravata. ;Eles chegavam em carrões pretos;, contou, entre risos.

Turista bem servido
A reforma da Casa de Chá faz parte do pacote de obras na Praça dos Três Poderes, iniciadas no ano passado e com previsão inicial de conclusão para as comemorações do cinquentenário de Brasília, em 21 de abril. Ao todo, R$ 103 milhões foram investidos somente no Palácio do Planalto, entregue em maio deste ano. A Casa de Chá custou cerca de R$ 500 mil, e as reformas na bandeira nacional da praça e do Panteão da Pátria (ainda não finalizada) já somam juntas mais de R$ 1 milhão.

Revitalizada, a Casa de Chá de Brasília não venderá bebidas alcoólicas nem funcionará até tardeSegundo o secretário de Turismo do DF, Delfim da Costa Almeida, a casa abrigará um dos CATs ; Centro de Atendimento ao Turista ; que tem previsão para ser aberto neste semestre. Por determinação da lei, não será permitida a venda de bebida alcoólica, como ocorria antigamente. A casa terá por finalidade atender visitantes e turistas que circulam todos os dias pela Praça dos Três Poderes. Haverá um cybercafé onde serão servidos lanches e bebidas como chá, água e refrigerante. ;Hoje o turista que visita a praça não tem banheiro e lugar para beber água. Tem que comprar do camelô, em caixas de isopor. A casa reaberta vai trazer conforto para os visitantes;, acredita o secretário. A partir deste mês, a Secretaria de Turismo pretende abrir processo de licitação para decidir a empresa que vai explorar o ponto. A casa deverá ter as portas abertas ao público até meia-noite.

Palavra de especialista
Praça valorizada

Não basta ter monumento e não ter estrutura para recepcionar as pessoas. A reabertura da Casa de Chá resgata uma tradição e vai ao encontro das expectativas do turista. Naturalmente, a novidade acarretará em um aumento no tempo de permanência do turista na Praça dos Três Poderes.

Neio Campos, presidente do Centro de Excelência e Turismo da Universidade de Brasília (UnB)


Memória
Uma obra arrastada


Nas décadas de 1970 e 1980, a Casa de Chá ficou sem administração por falta de arrendatário. Em setembro de 1994, o espaço virou um Centro de Atendimento ao Turista (CAT), que ficou aberto por seis anos, mas acabou fechado por risco de o teto desabar. Um convênio entre o Governo do Distrito Federal(GDF) e a Fundação Israel Pinheiro, em setembro de 2003, aumentou as esperanças de reabertura da casa. O prazo estabelecido para a entrega da reforma era 30 de abril de 2004, mas o investimento de R$ 150 mil do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) não foi suficiente. Os problemas estruturais demandaram mais verba e então o GDF resolveu assumir a obra. Desde dezembro de 2005, a Casa de Chá está sob responsabilidade da Secretaria de Obras. Na época, o presidente Lula pediu à então governadora Maria de Lourdes Abadia que resolvesse o problema o mais rápido possível. No dia seguinte, Maria Abadia ordenou que a licitação fosse realizada na semana posterior e garantiu à população que a reforma ficaria pronta em quatro meses.

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