postado em 21/08/2010 08:41
Brasília está longe de perder o título de canteiro de obras. Alargamentos de pistas, viadutos e prédios públicos que há tempos tiveram seus esqueletos demarcados permanecem fechados por tapumes, cones e placas de interdição. A população não tem alternativas. O jeito é engolir muita poeira e aguentar os congestionamentos quilométricos, enquanto os responsáveis dão continuidade aos serviços, que, na opinião de alguns, parecem não sair do lugar.A demora na duplicação da Estrada Parque Vicente Pires (EPVP), a DF-079, incomoda moradores de Águas Claras e do Park Way. A administradora Adriana Rezende, 45 anos, mora em um dos condomínios da região e se depara com várias situações de risco quando vai para casa. ;A sinalização é ruim. Em alguns pontos, o motorista não consegue saber se está no sentido certo ou se entrou na contramão;,
exemplifica. Segundo ela, a obra se arrasta por mais de um ano. ;A casa não fica limpa de tanta poeira;, conta. O Departamento de Estradas de Rodagens (DER-DF) garante que o alargamento da EPVP está em fase final, mas não tem previsão de término da obra.
Na DF-047, que vai do fim do Eixão Sul ao Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, não há operários nem tratores. A ausência do maquinário não significa que os serviços na região terminaram. Quase toda a rodovia tem três faixas de rolamento, menos a ponte sobre o Córrego Riacho Fundo, que ainda conta com apenas duas. O afunilamento de veículos nos horários de pico é inevitável. ;Tem mais de um ano que a situação é a mesma e os engarrafamentos continuam;, explica o pedreiro Odair Ferreira, 30 anos, que costuma passar pela pista em direção a Santa Maria.
Os blocos de concreto do trecho inacabado já foram instalados na DF-047 para abrigar a terceira faixa de rolamento da ponte. Para pavimentá-la e liberá-la para o trânsito de veículos, o DER precisa de uma licença ambiental. O órgão aguarda a aprovação do documento protocolado no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para concluir os serviços.
Avaliação
O Governo do Distrito Federal criou o Comitê de Acompanhamento e Avaliação de Obras, formado por sete secretarias diferentes. Juntos, os órgãos monitoram cerca de 500 construções e revitalizações ; não só as de trânsito ; por toda a cidade. Do total, apenas 23 foram entregues à população, incluindo serviços nas áreas de transporte, social, saúde e educação. As outras são liberadas aos poucos, com a duplicação da Estrada Hotéis e Turismo, que passa pela Vila Planalto até o Palácio da Alvorada.
A finalização do complexo viário de interligação do Setor de Autarquias Sul com a L4 Sul, na altura da Ponte JK, segue o mesmo ritmo. ;Não estamos esperando toda a pista ficar pronta. Estamos entregando em etapas;, afirma a vice-governadora do DF, Ivelise Longhi. Segundo ela, o viaduto da L2 Sul está pronto, mas os acessos ao Setor de Embaixadas ainda não foram liberados por falta de sinalização e iluminação. ;Até o fim do ano, tudo estará concluído;, adianta Ivelise. Ao todo, os serviços na região custaram R$ 21 milhões.
A nova sede da 5; Delegacia de Polícia também vai demorar a ficar pronta. O prédio, localizado entre o Shopping ID e o Estádio Mané Garrincha, é um esqueleto. A Polícia Civil informa que a empresa responsável pela construção faliu e, por isso, os serviços pararam. Segundo a corporação, uma nova licitação está em andamento.
"Não estamos esperando toda a pista ficar pronta. Estamos entregando em etapas"
Ivelise Longhi, vice-governadora do DF
Ivelise Longhi, vice-governadora do DF
A meta dos candidatos
>> Juliana Boechat
Os candidatos ao Buriti prometem dar um destino às 2 mil obras iniciadas durante a gestão do ex-governador José Roberto Arruda. Muitas delas permanecem inacabadas ou tiveram o prazo final adiado graças à crise política que tomou conta do Distrito Federal em novembro de 2009. Com a instabilidade e a ameaça de intervenção federal na capital do país, muitos investidores deixaram de injetar dinheiro nas obras de infraestrutura e contratos foram congelados por suspeita de fraude. Os candidatos a governador garantem que encontrarão formas de finalizar as obras. E explicam que a população não pode ser prejudicada com investimento pela metade.
Segundo o coordenador de comunicação da campanha de Agnelo Queiroz (PT), Luis Costa Pinto, as obras serão finalizadas com autorização da Justiça local e do Ministério Público. ;Se houver alguma orientação de cancelamento de contratação ou casos de recontratação de serviços, Agnelo obedecerá da forma mais célere possível;, disse. Ele explicou ainda que, durante a transição entre os dois governos, caso o petista seja eleito, a equipe realizará um levantamento para saber a situação de cada construção. ;Não haverá um cemitério de obras inacabadas;, prometeu.
Prioridade
O coordenador de comunicação da campanha de Joaquim Roriz (PSC), Paulo Fona, seguiu a mesma linha. Ele garantiu que, caso o ex-governador seja eleito, ele concluirá todas as obras importantes do governo anterior. ;Vai ser prioridade. Não se pode desperdiçar recursos públicos, então Roriz concluirá tudo o que está pela metade ou atrasado;, afirmou. O engenheiro civil e candidato pelo Partido Verde, Eduardo Brandão, promete realizar auditoria nos contratos com a Terracap para verificar o plano de atendimento das obras. ;É necessário que essas obras continuem, mas não no frenesi de fazer milhões de coisas ao mesmo tempo;, defendeu.
Toninho do PSol também não tem pressa. ;Vamos realizar uma auditoria nos contratos para saber a situação de cada obra inacabada;, defendeu. Arquiteto, o candidato pelo PCB, Frank Svensson, confessou não saber a relação de obras inacabadas. ;Temos que estudar cada caso.; Segundo a assessoria de imprensa de Ricardo Machado, do PCO, a proposta do candidato é rever os contratos públicos para identificar superfaturamentos e desvios de verba. E, segundo a equipe dele, a população decidirá as obras que serão prioridade. O Correio não conseguiu falar com Newton Lins (PSL) e Rodrigo Dantas (PSTU) até o fechamento da edição