postado em 22/08/2010 08:27
A Coordenação de Investigação de Crimes contra a Vida (Corvida) da Polícia Civil quebrou o silêncio sobre os homicídios do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos, da mulher dele, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e da empregada Francisca Nascimento da Silva, 58, ocorridos há quase um ano no Bloco C da 113 Sul. Em entrevista coletiva com duração de pouco mais de uma hora, a diretora-adjunta da unidade, Mabel Alves de Faria, reafirmou que a filha do casal assassinado, Adriana, 46 anos, é a única suspeita de ser a mentora do crime e pode até ter ajudado a esfaquear os próprios pais. ;Nós temos duas vertentes e não podemos afastar a possibilidade de ela (Adriana) ter participado da execução;, disse Mabel Faria. Conforme o Correio adiantou na edição da última sexta-feira, a polícia diz ter evidências suficientes para indiciar Adriana Villela pelo crime, antes do término da prisão temporária de 30 dias decretada pela Justiça.Adriana está detida desde a noite da última segunda-feira. Um dia depois, também foram presos o policial civil José Augusto Alves e Guiomar Barbosa da Cunha, ex-empregada da família. Após viajarem de Porto Alegre (RS) para Brasília, a paranormal Rosa Maria Jaques e seu marido, João Tocchetto, chegaram algemados na última quinta-feira. Todos são acusados de atrapalhar as investigações, dificultando o trabalho policial. Segundo as autoridades que estão à frente do caso, a motivação para os assassinatos seria a fortuna dos Villela.
Os cinco já foram indicados por alguns crimes. Adriana, Rosa Maria e João foram enquadrados por denunciação caluniosa (incriminar falsamente alguém), com pena de dois a oito anos de detenção. Contra os três, as investigações continuam (veja quadro). José Augusto Alves responderá por fraude processual ; seis meses a quatro anos de prisão em caso de condenação. Guiomar também será denunciada à Justiça por denunciação caluniosa. A delegada espera concluir o inquérito em breve ; pois ;tudo já está bastante adiantado;. Ela, porém, não fixou prazo. E ainda há lacunas, como a própria arma do crime. ;O executor tem astúcia. O fato de o instrumento usado para esfaquear as vítimas ter sido levado da cena demonstra conhecimento mediano;, reconhece Mabel.
Impressões digitais
Entre as provas reunidas pela polícia estão depoimentos, impressões digitais de Adriana colhidas na casa dos pais ; embora ela pouco frequentasse o local ; e escutas telefônicas. De acordo com fontes policiais, peritos encontraram digitais da filha do casal no closet do apartamento, onde eram guardadas as joias e o dinheiro roubados na noite do crime. Havia ainda vestígios na pia e nas toalhas de um banheiro do imóvel. Para a defesa de Adriana Villela, as provas são frágeis e insuficientes para incriminá-la, uma vez que ela era a filha e as digitais apareceriam na casa naturalmente. ;Não acreditamos nessas alegações. A defesa repudia as suspeitas e não existe fundamento para incriminar Adriana;, disse ao Correio o advogado Rodrigo Otávio Barbosa de Alencastro. Por intermédio dele, a filha e o irmão de Adriana, Carolina e Augusto, divulgaram uma declaração defendendo a inocência da familia (Leia a íntegra acima). Durante a coletiva, a delegada garantiu: ;As provas não são frágeis. Estamos caminhando de forma adequada e com elementos de convicção;.
A prisão temporária de Adriana foi pedida pela polícia e aceita pelo juiz Fábio Esteves, que, em seu despacho, disse haver levantado suspeita a ;grande mobilização; da acusada para conseguir um álibi para a noite do triplo assassinato. Ainda segundo o juiz, a ligação entre Adriana e a paranormal tinha como objetivo ;evidentemente levar à não elucidação do evento criminoso;. De acordo com a delegada Mabel Faria, os investigadores perceberam que o depoimento das testemunhas apresentavam certa combinação, no sentido de imputar a autoria do crime a outras pessoas. ;Quando percebemos que existia um arranjo de pessoas sempre ofertando denúncias sobre A, B ou C, verificamos que elas estavam agindo de forma orquestrada.; Para a polícia, o grupo estava a serviço de Adriana.
Das cinco pessoas presas, a empregada Guiomar e o policial civil José Augusto tiveram pedido de habeas corpus concedido pela Justiça. Adriana teve o pedido de soltura negado em caráter liminar. A análise do mérito deve ocorrer na próxima quinta-feira. Além dela, permanecem presos a paranormal Rosa Maria Jaques e o marido João Tocchetto, pois o desembargador Romão Cícero, da Primeira Turma Criminal do Tribunal de Justiça do DF, pediu mais informações aos advogados do casal.
Declaração da família Villela
;Manifestamos nosso absoluto repúdio às suspeitas absurdas lançadas sobre a nossa querida mãe e irmã, Adriana Villela. Com a aproximação do primeiro ano da perda de nossos pais e avós, nossa família vive um momento muito triste. Somado a esse grande pesar, os responsáveis pela crueldade cometida contra nós continuam livres e acobertados pelo manto da ineficiência das instituições que, em vez de aprofundar com rigor as investigações, procuram o caminho mais fácil, qual seja, o de impor o cerceamento da liberdade, sem nenhuma prova, a um nosso ente querido, mobilizando negativamente a operação pública. Temos plena convicção da sua inocência e, por isso, a sua prisão tem nos causado uma dor indescritível. Lutaremos juntos, e iremos apoiá-la no que for preciso.Lamentavelmente, depois de quase um ano de investigações, em que também sofremos muitos e inaceitáveis constrangimentos, constatamos que há mais dúvidas do que certeza sobre a tragédia que se abateu sobre nossa família.;
Carolina Villela Perche e Augusto Villela
;Vidente estelionatária;
Ontem pela manhã, a paranormal Rosa Maria Jaques esteve na Corvida, localizada no Departamento de Polícia Especializada (DPE), para prestar novo depoimento. Durante a entrevista coletiva, a delegada Mabel Faria disse que a investigação demonstrou que a vidente agia de má-fé. ;Verificamos que essa vidente não tem esses poderes que ela diz ter. Ela tem trabalhado a vida enganando, iludindo e explorando pessoas desesperadas e até políticos. Durante toda a sua vida, ela agiu como estelionatária;, acusou.
No fim de outubro de 2009, a vidente foi até a 1; Delegacia (Asa Sul), então chefiada pela delegada Martha Vargas, dizendo que tinha a missão de ajudar a elucidar o crime. Por esse ;auxílio;, Martha Vargas teria chegado a três suspeitos moradores de Vicente Pires e encontrado uma chave do apartamento dos Villela. Mais tarde, a Corvida informou que a chave havia sido plantada no local na casa dos homens.
No primeiro depoimento à delegada Mabel na Corvida, ainda em maio passado, Rosa Maria teria reafirmado saber, por meio da clarividência, quem eram os autores do crime. A resposta da paranormal teria sido diferente em uma entrevista há dois dias. A delegada comentou: ;Eu a questionei novamente e disse que os rapazes absolutamente não estavam envolvidos no caso. Ela me respondeu: ;Ah, então, eu devo então ter dito isso inconscientemente porque eu tinha certeza que eram eles. Talvez eu precise de atendimento psiquiátrico;;. (MP)
Enquadrados
Adriana Villela, 46 anos
Responderá pela contravenção penal de fraude processual e denunciação caluniosa. Em caso de condenação, a pena somada vai de seis meses a 12 anos. Segundo a polícia, Adriana fez grande mobilização para imputar a morte dos pais a três jovens de Vicente Pires. Além disso, Adriana teria dificultado as investigações, conduzindo a polícia ao erro. Ela ainda é a principal suspeita de ser mentora e executora do triplo homicídio na 113 Sul. Adriana deverá ser indiciada pelos homicídios antes do término da prisão temporária de 30 dias.
José Augusto Alves, 41 anos
O policial civil foi indiciado por fraude processual, uma vez que ele é suspeito de ter plantado a chave na casa de dois homens, em Vicente Pires, em novembro de 2009.
Guiomar Barbosa da Cunha, 71 anos
Segundo a polícia, a ex-empregada atrapalhou as investigações. Guiomar deverá responder pela denunciação caluniosa por ter imputado o crime a outras pessoas.
Rosa Maria Jaques, 61 anos
De acordo com a delegada Mabel Faria, a paranormal mentiu durante as investigações, ao falar da existência de uma chave na casa de Alex Peterson Soares, 23 anos, e Rami Jalau Kaloult, 28, em Vicente Pires. Depois, investigadores da 1; DP ainda detiveram Cláudio José de Azevedo Brandão, 38 anos, vizinho da dupla. Mais tarde, a polícia descobriu que a mesma chave era a mesma encontrada em perícia no local do crime. Rosa Maria responderá por denunciação caluniosa. A polícia ainda não descarta um possível envolvimento da vidente no planejamento das mortes do casal Villela e da empregada Francisca.
João Tocchetto, 49 anos
Deverá responder pelo crime de denunciação caluniosa. Ele seria cúmplice da mulher, a paranormal Rosa Maria. Toccheto também é investigado se tem algum envolvimento no triplo homicídio.