postado em 24/08/2010 07:57
O menino Erik Ribeiro, de 9 anos, colhe um morango como se o fruto fosse frágil e pudesse quebrar. Nem sempre sua relação com as frutas foi tão amigável. Em seus pesadelos, elas tinham cara de monstro e o perseguiam. Hoje em dia, ele salta da cadeira de sua sala de aula para alcançar a mesa na qual tigelas exibem apetitosas maçãs, fatias de melancia, mamão, uvas, mangas e bananas. ;É uma delícia e faz muito bem;, justifica. Ele é um dos 340 alunos do 1; ao 5; ano do ensino fundamental, cujos hábitos têm sido modificados pelo programa Alimentação Saudável, da Escola Classe 305 Sul.A iniciativa, criada em 2009, busca mostrar às crianças e a seus pais a importância de colorir as refeições com frutas, verduras e legumes. Até sexta-feira, as atividades estão sendo reforçadas por aulas dadas pelas nutricionistas do programa Cozinha Brasil(1), do Sesi. A parceria é inédita na rede pública do Distrito Federal. ;Nosso público- alvo são, originalmente, os adultos, mas os pedidos de escolas começaram a surgir e tivemos que adaptar nossa metodologia;, afirma Fernanda Gomes, nutricionista supervisora do programa no DF. As aulas também têm turmas compostas por pais e funcionários da própria escola.
Aprendizado
Sentadas no chão, as crianças, paramentadas com toucas e aventais, observam atentamente as nutricionistas do Sesi prepararem o suco do Shrek, uma bebida verde que mistura couve, maracujá e limão. Antes de os ingredientes serem lançados no liquidificador, os alunos assistem a orientações sobre a limpeza dos alimentos e conhecem as os nutrientes de que são compostos. Depois, brincam com cartazes lúdicos. Em um deles, precisam encontrar sete erros, como botar o dedo no ouvido e pegar em notas de dinheiro enquanto manuseiam a comida. ;Se precisar espirrar, corra para longe para não contaminar os alimentos;, ensina à plateia atenta a nutricionista e instrutora Estella Brito. No fim das aulas do Cozinha Brasil, cada aprendiz vai levar para casa um livro com 100 receitas que buscam aproveitar os alimentos de forma integral, sem desperdiçar nem as cascas.
A parceria com o Sesi tem prazo para se encerrar, mas as atividades regulares vão continuar. Elas buscam envolver os pais dos alunos e os funcionários da própria escola, que são incentivados a assistir a palestras e a cuidar do que seus filhos ingerem. ;Mudar hábitos é muito complicado. Se os pais não forem atingidos, os hábitos dos alunos não vão mudar;, observa Fernanda. O melhor, segundo ela, é conscientizar ainda na infância: ;É mais fácil atingir os pais através dos filhos do que o contrário;.;Os pais nos falam: ;Nossa, o nosso filho não comia salada. Na verdade, antes eles nem ofereciam;, argumenta a vice-diretora da escola, Elane Lima. ;Não se dava muita importância. Algumas crianças chegavam aqui sem ter tomado café ou almoçado. Hoje, os educadores ficam atentos. Quando a criança traz salgadinhos para o lanche, os professores conversam imediatamente com ela sobre a importância da alimentação saudável;, ressalta.
A vigilância é dedicada. Tanto que Pedro Lemos, 7 anos, baixa os olhos e fica acanhado ao confessar: ;Eu gosto de alface porque dá força, mas às vezes não como verduras, frutas. Não gosto de todas;. Seus pais, segundo ele, não costumam insistir. Mirian dos Santos, 50 anos, até insistia, mas não adiantava. Seu filho de 9 anos era irredutível. ;Só queria batatinha frita e outras besteiras;, afirma. Mirian diz que, após o programa, o garoto se rendeu. ;Por mais que a gente fale, não é a mesma coisa que a explicação vinda da tia, que fala das vitaminas e dos nutrientes. ;Hoje mesmo, meu filho me pediu para fazer um brigadeiro de mandioca;, comemora.
1 - Bom e barato
Qualidade, economia e sabor são os pilares do programa Cozinha Brasil, desenvolvido pelo Sesc desde 2004 para conscientizar sobre a importância de se alimentar corretamente. O método é inspirado no Alimente-se Bem, programa criado no Sesi de São Paulo, e encontra excelente receptividade em diferentes públicos. No caso das escolas, o aprendizado tem mão dupla, pois muitas vezes os próprios alunos levam para casa noções importantes aprendidas na escola e que muitas vezes ajudam a esclarecer a família sobre o fato de que escolher cardápios com alto valor nutritivo é uma opção, na maioria das vezes, de baixo custo. Os alunos aprendem a aproveitar todas as partes dos alimentos, inclusive o que normalmente é dispensado ; caule, talos, cascas, folhas e sementes ; e começam a desenvolver receitas saborosas e nutritivas.