postado em 25/08/2010 07:00
O Presídio Feminino do Distrito Federal, conhecido como Comeia, nunca esteve tão alvoroçado. Detentas do Núcleo de Prisão Semiaberta (NPSA) têm feito fila para consultar o futuro. E não é por menos. Afinal, não é todo dia que elas dividem espaço com uma vidente conhecida nacionalmente e entrevistada em vários canais televisivos. E melhor: de graça. A responsável pelo feito é a paranormal Rosa Maria Jaques, 61 anos, presa há uma semana em Porto Alegre (RS) ao lado do marido, João Toccheto, 49 ; ambos são acusados de atrapalhar as investigações do crime ocorrido em 28 de agosto do ano passado, no Bloco C da 113 Sul. Rosa está na Comeia, localizada no Gama, desde a última quarta-feira. No fim de semana, uma presa teria pedido para Rosa Maria enxergar em que data ela ganharia a liberdade. A clarividente teria respondido: ;É... você vai ficar aqui por muito tempo;. Indignada, a mulher saiu resmungando: ;Ué, isso eu já sabia;.A paranormal tem sido a distração do momento, segundo fontes policiais ouvidas pelo Correio. As consultas ocorreriam sempre durante o banho de sol, uma vez que Rosa Maria ocupa, sozinha, uma cela diferenciada na ala de detentas em regime semiaberto, aquelas que saem pela manhã para trabalhar e voltam às 18h para dormir no presídio. Embora seja famosa, o rosto da paranormal ainda não é conhecido por muitas das que passam o dia ali. Isso porque as 480 internas estão divididas em alas diferentes.
Rosa Maria e o marido são acusados de fraudar a existência de uma chave do apartamento da 113 Sul na casa de dois moradores de Vicente Pires. Em 31 de outubro de 2009, ela procurou a delegada Martha Vargas, então chefe da 1; DP (Asa Sul), para dizer que tinha a ;missão; de ajudar nas investigações dos homicídios do casal de advogados José Guilherme Villela e Maria Villela; e da empregada deles Francisca da Silva. No mesmo dia, a vidente, o marido, a delegada e o policial civil José Augusto Alves ; então braço direito de Martha ; foram ao imóvel dos Villela. Usando seus supostos dons de clarividência, Rosa teria visto pelos olhos do autor o local de sua residência.
Em abril deste ano, a polícia reconheceu que a chave encontrada em Vicente Pires teria sido plantada no local. O episódio se tornou uma das razões para a decretação, na semana passada, da prisão temporária de cinco pessoas ; a vidente e o marido, o policial José Alves, uma ex-faxineira dos Villela e a filha do casal assassinado, Adriana, que, aliás, é considerada pela Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida) a principal suspeita do crime.
No despacho em que decidiu pelas prisões, o juiz Fábio Esteves escreveu que Rosa Maria e Adriana Villlea se encontraram antes de a paranormal procurar a polícia. Segundo ele, o grupo agiu de forma ;orquestrada; para atrapalhar os trabalhos de apuração do caso.
A primeira experiência paranormal de Rosa Maria teria começado aos 6 anos. Só depois dos 20 anos, na década de 1970, ela começou a dar consultas de vidência. Mas, para a diretora adjunta da Corvida, Mabel de Faria, Rosa Maria Jaques ;não tem todos esses poderes que diz ter. Ela trabalhou durante toda a sua vida como estelionatária;. O pedido de habeas corpus da vidente e do marido ainda não foi julgado.
Visita de advogadas
Há uma semana detida na Comeia, Adriana Villela ainda não teve contato com as demais presas. Ela passa o dia em um quarto com cerca de 10 metros quadrados, antes reservado para encontros íntimos das detentas. Só fala com familiares e advogados que a visitam. O espaço fica praticamente ao lado da área do pátio onde a maioria das presas toma banho de sol. No local, apelidado de parlatório, não há chuveiro elétrico. A água para tomar banho é fria e desce por um cano instalado pouco abaixo da janela ; na verdade, alguns buracos por onde entra a luz do sol. O vaso sanitário é uma abertura no chão e fica no canto da parede, de frente para o local do banho. Não há pia. Uma parede separa o banheiro, chamado de boi, da cama de casal onde Adriana dorme.
Mesmo separada das demais detentas, Adriana segue uma rotina de restrições. Não tem acesso a jornais ou revistas nem assiste à televisão. Ontem, por volta das 13h, ela recebeu a visita de duas advogadas. Uma preferiu não se identificar. A outra se apresentou como a ex-deputada constituinte Moema São Thiago. Elas saíram do presídio no Gama depois de pouco mais de uma hora. ;Adriana está sendo vítima de um processo injusto, mas tem resistido firmemente;, disse Moema à reportagem.
Habeas corpus
Por telefone, um dos advogados de Adriana, Rodrigo Otávio de Alencastro comentou a situação da cliente. ;A restrição de liberdade por si só é gravíssima. Tem sido extremamente difícil para ela enfrentar tudo isso ainda mais porque ela está sendo acusada injustamente;, defendeu Alencastro.
Amanhã, a 1; Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) tem sessão marcada para a tarde. O mérito do pedido de liberdade de Adriana Villela pode entrar na pauta de votação. Em caráter liminar, o habeas corpus foi negado na semana passada.