postado em 25/08/2010 07:57
Brasília está em chamas. O Corpo de Bombeiros combateu ontem 23 focos de incêndios florestais que destruíram uma área de 75 hectares. No Distrito Federal, o índice de inflamabilidade ; probabilidade da vegetação pegar fogo e a dificuldade de combater o foco ; alcançou o nível mais alto(1), segundo a Defesa Civil. Há 90 dias, não chove na cidade. Além da estiagem, outras características típicas dessa época do ano colaboram para a propagação de incêndios, como os ventos fortes e a baixa umidade do ar, que ontem chegou a 18%. A previsão é que as primeiras chuvas caiam apenas na segunda quinzena de setembro, ainda de forma tímida. O período chuvoso deve começar para valer só em outubro.;Quando ficamos muitos dias sem chuva, a vegetação começa a secar. Quanto mais tempo, pior fica. O índice aponta o risco dessa vegetação pegar fogo e transformar-se num incêndio de alta proporção e de difícil controle. Por isso, temos notícias da dificuldade das brigadas em combater os incêndios, por mais que se façam investimentos e esforços;, explica o tenente-coronel Alexandre Costa Oliveira, da Defesa Civil.
Ontem, o Corpo de Bombeiros levou pelo menos quatro horas para conter as chamas que atingiram parte da área Alfa da Marinha, nas margens da BR-040, próximo de Santa Maria. A operação contou com cerca de 50 homens equipados com abafadores e bombas de água, com capacidade de 20 litros cada. O trabalho de contenção também contou com a ajuda de oficiais da Marinha. A altura das chamas chegou a oito metros, o que dificultou a ação dos oficiais. O incêndio começou no fim da manhã, mas os bombeiros só chegaram ao local por voltas das 13h. As chamas só foram controladas no fim da tarde. O fogo destruiu uma área de aproximadamente 25 hectares. ;Tudo indica que o fogo começou de forma criminosa, já que não partiu das margens da rodovia;, avalia o sargento do Corpo de Bombeiros Paulo Filho.
Baixa visibilidade
A fumaça preta alcançou a rodovia e atrapalhou o trânsito. Por volta das 15h, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) interditou os dois sentidos da via entre o km 0 e km 3 da BR. As pistas ficaram fechadas durante 40 minutos, segundo o inspetor De Lucas Barbosa da PRF. Para evitar acidentes, devido à baixa visibilidade dos motoristas, o órgão de trânsito controlou o tráfego enquanto os bombeiros tentavam combater o fogo. ;É preciso fazer isso porque a baixa visibilidade pode causar acidentes;, destaca o inspetor.
Do outro lado da cidade, um incêndio de pequena proporção chamou a atenção de quem passava pelo centro da capital. As chamas destruíram 2 mil metros de Cerrado ao lado do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Apesar de o foco ser pequeno, a fumaça escura também incomodou motoristas e pedestres que circulavam pela região.
1 - Alerta
O nível de inflamabilidade, que é medido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), aumenta de acordo com o período que uma região sofre com a estiagem e alerta os órgãos competentes quanto à possibilidade de uma maior incidência de incêndios na vegetação. Acima de 60 dias sem chuvas é decretado o grau perigosíssimo, o último da escala. Quando esse índice é atingido, o Inmet repassa a informação para a Defesa Civil.
O número
75
Total de hectares consumidos ontem pelo fogo no Distrito Federal
Umidade chega a 18%
O índice de umidade do ar chegou a 18% na tarde de ontem, quando os termômetros registraram a temperatura de 28.3;C, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Foi o segundo dia mais seco do mês, perdendo apenas para 10 de agosto, quando o índice chegou a 16%. Na semana passada, a umidade oscilou entre 20% e 30%. A variação deve continuar até a segunda quinzena de setembro, assim como a estiagem.
;A previsão é de temperatura elevada e baixos níveis de umidade. Estamos alcançando a transição para a primavera. As primeiras chuvas, embora fracas e discretas, devem ocorrer na segunda quinzena de setembro. O retorno definitivo do período chuvoso deve acontecer em outubro;, diz o meteorologista do Inmet Manuel Rangel.
A Defesa Civil acende o sinal de alerta quando a umidade do ar fica abaixo de 12% por três dias consecutivos. ;A tendência é continuar oscilando entre níveis mais baixos e mais altos;, afirma Rangel.
Além do Distrito Federal, a seca tem castigado outras cidades, como a capital do estado de São Paulo. Lá, o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da prefeitura registrou no início da semana umidade de 16%, índice suficiente para a Defesa Civil paulistana decretar um alerta.
Nesta época do ano, os cuidados com a saúde precisam ser redobrados. É preciso evitar atividades físicas nas horas mais quentes do dia ; fim da manhã e início da tarde. Além disso, é importante aumentar a ingestão de líquidos.
Palavra de especialista
Corpo reflete efeitos da seca
Quando a umidade está baixa, a pele e o sistema respiratório são comprometidos, já que mantêm maior contato com o meio ambiente. Quadros de gripe, sinusite e até pneumonia crescem nesse período do ano. A pele sofre com irritações, infecções e alergias. É fundamental repor a água perdida, seja bebendo ou umidificando os ambientes com toalhas molhadas. Além disso, há o sangramento nasal, que pode ser evitado com a aplicação de duas gotas de soro fisiológico a cada três horas. A seca pede cuidados também com a alimentação, que deve ser à base de frutas, verduras e legumes. Além disso, é preciso evitar a prática de atividades físicas das 10h às 17h. Quem faz exercícios nesse horário corre o risco de se desidratar. O uso de aparelhos de ar condicionado também reduz a umidade do ar e ele deve ser usado em uma temperatura mais amena, na casa de 23; C.
Ricardo Martins, médico pneumologista do Hospital Universitário de Brasília e professor de clínica médica da Universidade de Brasília
Ricardo Martins, médico pneumologista do Hospital Universitário de Brasília e professor de clínica médica da Universidade de Brasília
Cuidados ao se deparar com um incêndio
# Sempre que identificar um incêndio às margens de uma rodovia ligue para um dos telefones de emergência: 193 (bombeiros) ou 191 (Polícia Rodoviária Federal), caso se trate de uma via federal
# Procure um lugar seguro, longe da fumaça e do fogo;
# Nunca adentre à fumaça. A visibilidade fica comprometida e o condutor pode se envolver em acidentes. Ainda há o risco de intoxicação;
# Não jogue lixo para fora do veículo. Pontas de cigarros e papéis podem gerar focos de incêndios,
# Fique atento à presença de animais silvestres na pista. Os bichos podem procurar abrigo em locais próximos à rodovia na tentativa de fugir das chamas.
Fonte: Polícia Rodoviária Federal