Adriana Bernardes
postado em 26/08/2010 07:16
A Justiça concedeu, na noite de ontem, o habeas corpus (HC) para a vidente Rosa Maria Jaques, 61 anos, e para o marido dela, João Tocchetto, 49. O desembargador Romão Cícero, da Primeira Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), acatou o pedido da defesa do casal. Segundo ele, não estavam presentes os requisitos da prisão temporária, como indícios de autoria ou participação no crime da 113 Sul. Rosa Maria saiu do Presídio Feminino do DF, no Gama, às 23h30. O marido já estava no carro em que o advogado do casal, Marcelo Mota, foi buscá-la. ;Estou muito cansada;, limitou-se a dizer a paranormal. A expectativa agora se volta para a sessão da Primeira Turma Criminal marcada para as 13h de hoje, na qual pode ser julgado o mérito do HC de Adriana Villela, que prestou depoimento ontem na Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida).Com a decisão de ontem, dos cinco presos temporariamente no começo da semana passada, apenas Adriana permanece atrás das grades. Ela teve o pedido de habeas corpus negado em caráter liminar pelo desembargador Romão Cícero. Adriana Villela é apontada pela polícia como a principal suspeita de ser a mandante do assassinato do pai, o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos; da mãe, a advogada Maria Carvalho Mendes Villela, 69; e da principal empregada do casal, Francisca Nascimento da Silva, 58. O triplo homicídio ocorreu em 28 de agosto de 2009. A filha do casal Villela e os outros quatro que haviam sido detidos são acusados pela polícia de atrapalhar o andamento das investigações (Leia quadro).
Adriana passou mais de 12 horas na unidade especializada em homicídios. Ela saiu ontem por volta das 10h do presídio no Gama, onde está detida desde 16 de agosto, e, até as 23h30, não havia retornado à prisão.
À tarde, familiares de Adriana estiveram na Corvida, localizada no Departamento de Polícia Especializada. O irmão dela, Augusto, e a filha, Carolina, deixaram o local por volta das 16h50, acompanhados de uma tia de Adriana e Augusto e de dois homens que se identificaram como advogados. No início da noite, Carolina foi ao presídio no Gama. Levava uma sacola ; provavelmente com mantimentos ;, mas não pôde entrar. O depoimento de Adriana foi acompanhado pelo advogado Rodrigo de Alencastro. Ele se irritou com o fato de sua cliente passar todo o dia na delegacia. ;Essa demora é desnecessária;, concordou o advogado José Eduardo Alckmin, o outro integrante da defesa.
Fora da pauta
Entre as fontes ouvidas pelo Correio, nenhuma acredita que haverá tempo para incluir o HC de Adriana Villela na pauta de hoje, da Primeira Turma Criminal. Pelo menos até as 20h de ontem, o desembargador Romão Cícero não havia recebido, do Ministério Público, o parecer sobre o pedido de relaxamento de prisão da filha do casal Villela. O caso é analisado pela procuradora de Justiça Marinita Maria da Silva. Por meio da assessoria de imprensa, a procuradora informou que tem até amanhã para devolver o processo com o respectivo parecer e que cumprirá o prazo. Como até a noite de ontem não havia previsão de sessão extraordinária, se o mérito do pedido de habeas corpus de Adriana Villela não for julgado hoje, deverá ser apreciado apenas na próxima quinta-feira.
;Quando o relator recebe o parecer do Ministério Público, precisa ler e incluir em seu voto as alegações do MP. Dependo da hora em que ele receber o processo, fica muito em cima da hora;, explicou uma fonte. No entanto, pedido de liberdade de uma pessoa presa tem prioridade. ;Normalmente os desembargadores fazem um esforço imenso para votar na primeira sessão após o recebimento do parecer;, lembrou um advogado.
Colaborou Lucas Tolentino
Delegado testemunha
Quem também prestou depoimento na Corvida foi o delegado Rodrigo Telho. Atualmente lotado na 14; DP (Gama), Telho trabalhou como adjunto da 1; DP (Asa Sul), quando a delegada Martha Vargas comandava o inquérito do crime da 113 Sul. Ele chegou por volta das 13h45. O depoimento durou duas horas. Antes, o policial conversou com o Correio. Afirmou estar tranquilo quanto à própria conduta durante a apuração do triplo homicídio, mas reconheceu que houve problemas na investigação conduzida por Martha Vargas: ;Não acho que ela (Martha) tenha feito algo proposital. Mas tudo o que ocorreu mesmo foi por pura vaidade dela;.
Rodrigo Telho comentou o fato de ter acompanhado Martha em 3 de novembro passado até a casa de Alex Peterson Soares e Rami Jalau Kaloult, em Vicente Pires. Lá, a polícia teria encontrado uma chave do apartamento dos Villela. Mas a prova acabou descartada porque o objeto era o mesmo recolhido em perícia no dia em que os corpos foram descobertos na SQS 113. ;Naquele dia, não entrei. Só retornei quando a Justiça decretou a prisão do Cláudio José de Azevedo Brandão;, afirmou.
Rodrigo Telho acabou perdendo o cargo de delegado adjunto, segundo ele, por discordar de Martha Vargas. ;A gente divergia em algumas coisas. A entrada na casa dos dois (Alexa e Rami) foi uma delas.; À época, o advogado de Alex reclamou que seu cliente foi preso sem mandado. (AF)
O que pesa contra eles
Adriana Villela, 46 anos
; considerada pela polícia a principal suspeita do crime e estaria comandando várias pessoas, também de acordo com as autoridades, para confundir o trabalho de investigação e impedir a elucidação do crime. Foi indiciada por fraude processual e denunciação caluniosa (imputar falsamente crime a alguém), cujas penas somadas variam de seis meses a 12 anos de prisão.
Rosa Maria Jaques, 61 anos, e o marido João Tocchetto, 49
A paranormal Rosa Maria e o marido responderão por denunciação caluniosa. A vidente é acusada de ter mentido durante as investigações sobre a existência de uma chave dos Villela em uma casa de Vicente Pires. A descoberta levou à prisão de três homens. O objeto, porém, foi desmontado como prova, pois havia sido plantado no local. Segundo o juiz que decretou as prisões, a vidente e Adriana se encontraram antes de Rosa Maria ir pela primeira vez à 1; DP. O marido seria cúmplice.
Guiomar Barbosa Cunha, 71 anos
Trabalhou como faxineira dos Villela. É mãe de um ex-presidiário que lhe teria falado de Cláudio José de Azevedo Brandão. Guiomar teria então indicado o nome do jovem para Adriana e Rosa Maria ; ele chegou a ser detido como suspeito do crime. Ainda de acordo com o juiz, ela teria afirmado que Adriana e a mãe se relacionavam bem. Versão contestada pela polícia. Responderá por denunciação caluniosa.
José Augusto Alves, 41 anos
Ex-integrante da 1; DP, o policial atuou na equipe de Martha Vargas. De acordo com a polícia e a Justiça, teria omitido a informação de que conhecia Rosa Maria e Toccheto. Mas, em escutas telefônicas, a polícia constatou o vínculo entre os três. Responderá por fraude processual sob a acusação de que teria plantado a chave dos Villela na casa de Vicente Pires.