Cidades

Comunidade também se mobiliza para enfrentar o avanço do crack na cidade

postado em 29/08/2010 08:16
A preocupação dos candangos com o aumento da relação entre as drogas e a criminalidade gerou uma série de discussões ao longo da última semana também por conta do assassinato do comerciante Sebastião Carneiro de Souza na 710 Norte. A vítima, de 52 anos, perdeu a vida ao ser assaltada por dois adolescentes, apreendidos pela Polícia Militar. Um dos responsáveis pela brutalidade tem 14 anos e passagens pela Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) por uso e tráfico de drogas, além de roubo, furto e lesão corporal. A região está entre as mais assoladas pelo crack no Plano Piloto.

Diante disso, a comunidade se mobiliza em torno de algumas iniciativas próprias. Está previsto para o próximo dia 31, por exemplo, reunião com os prefeitos das quadras residenciais das asas Sul e Norte, da Vila Planalto, da Granja do Torto e da Vila Telebrasília. Vários pontos serão discutidos, como as escalas e o patrimônio histórico de Brasília. Um dos mais sensíveis, no entanto, passa pela segurança pública. ;Vamos colher informações e encaminhar aos candidatos ao governo até 21 de setembro;, explicou o presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Brasília, Saulo Santiago.

Ele ficará responsável por colocar em debate a questão do avanço do tráfico e o uso das pedras na capital do país. ;Esse nível (relação entre droga e crime) cresce geometricamente. O crack ainda vem com uma série de problemas, principalmente na questão do patrimônio. As pessoas estão atemorizadas;, afirmou Santiago. Para o principal representante do conselho de segurança do Plano Piloto, o combate não deve ficar limitado à ação policial. ;Não é somente problema de polícia. O problema também é da família e da escola;, avaliou.

Policiamento
Ao longo da última semana, o Correio circulou no Plano Piloto e em Taguatinga em busca de flagrantes de tráfico e uso de crack. Encontrou duplas de policiais nas ruas, mas insuficientes para coibir o consumo indiscriminado da substância derivada da cocaína. Os incômodos são os mesmos nas duas localidades candangas. Perto da Praça do Relógio, em Taguatinga, pedestres e vendedores reclamam da insegurança. ;A gente trabalha com um olho voltado para atender o cliente e outro em possíveis ladrões. A maioria furta e vende a mercadoria para comprar crack;, contou o funcionário de uma loja de sapatos.

O jornal denunciou ao longo da semana a falta de recursos humanos no policiamento ostensivo do Distrito Federal. Do efetivo de 14 mil homens da Polícia Militar do DF, apenas 7 mil integram a escala que prevê um dia de trabalho e três de folga. Com isso, resumem-se a 2,6 mil que atuam diariamente nas ruas. Os demais 50% da tropa exercem funções burocráticas. Com o número reduzido, a criminalidade cresceu no DF. Houve 53.107 ocorrências de furtos e roubos nos primeiros sete meses. O Plano Piloto aparece como a região mais atingida pelos bandidos, com 12.406 casos. São dois casos por hora.

"Esse nível (relação entre droga e crime) cresce geometricamente. As pessoas estão atemorizadas;
Saulo Santiago, presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Brasília



Memória
Quase dois anos de denúncias
A chegada e o avanço do crack na capital do país são denunciados nas páginas do Correio Braziliense desde dezembro de 2008. As primeiras reportagens sobre a epidemia revelaram que a área central de Brasília estava tomada por traficantes e usuários da droga. Regiões como o Setor Comercial Sul e o Setor de Diversões Sul (Conic) apareciam como os principais pontos de passagem e concentração desses grupos no Plano Piloto ; o problema se expandiu e continua até hoje. Em 9 de janeiro do ano passado, o jornal mostrou que o comércio do crack saía da região central e avançava sobre a Asa Norte. A reportagem se concentrou nas quadras 314 e 315 e descreveu o movimento de jovens traficantes e de viciados entre prédios residenciais e comerciais. O jornal abriu outra série de denúncias no início deste ano. Em 2 de janeiro, o Correio identificou seis quadras da Asa Norte onde havia traficantes e usuários das pedras. Nos dias 11 e 17, o jornal descreveu o avanço da droga na áreas rurais e urbanas localizadas no Entorno, além de São Sebastião. Equipes de repórteres também denunciaram o problema em Taguatinga e Ceilândia.

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