postado em 29/08/2010 08:22
Não bastam mais o bolo feito pela vovó, o tio fantasiado de palhaço, os cajuzinhos espalhados na mesa da sala e o corre-corre da garotada no quintal. Festa de criança virou megaprodução, com direito a cenários cinematográficos, parques de diversão e queima de fogos que desenham o nome do aniversariante no céu. Para os adultos, agora intimados a participar, garçons engravatados servem uísque e champanhe ao som de música clássica. Profissionais da área sustentam que o nível dos eventos infantis em Brasília só não supera o de São Paulo, onde esse mercado movimentou cerca de R$ 500 milhões no ano passado, segundo a Associação de Empresas de Buffet Infantil (Assebi).Em festas glamourosas para mais de 200 pessoas, há pais, quase sempre empresários moradores de bairros nobres da capital, que chegam a gastar R$ 200 mil, preço de apartamentos de um ou dois quartos em Águas Claras. Um único convite personalizado, acompanhado de bonecas ou ursos de pelúcia, pode custar R$ 400. Só com lembrancinhas ; diferenciadas para os avós, os padrinhos e os convidados em geral ; clientes desembolsam até R$ 46 mil. A conta cresce com os pré-convites (enviados com dois meses de antecedência) e os cartões de agradecimento (enviados na semana seguinte à festa). No início deste ano, uma mesa de guloseimas com 20 mil itens foi encomendada por R$ 18 mil.
A extravagância parece não ter limites. Há opções de brindes para colocar no carro dos convidados e kits para as crianças usarem ao ir ao banheiro durante a festa. Em público, os pais dizem que o investimento ; maior do que o de muitos casamentos requintados ; vale a pena para fazer a alegria do filho. Na hora de acertar os detalhes da festa, porém, confidenciam que querem mesmo é chamar a atenção. ;Festa de criança hoje em dia é competição. Uma mãe quer fazer mais bonito do que a outra;, conta Patrícia Farias, dona de uma casa de festas infantis no Park Way e outra no Gama.
Investimento
Há três anos, Patrícia investiu R$ 600 mil no Aeropark, próximo à entrada do aeroporto, que abriga 18 brinquedos, dois recém-comprados. Até janeiro de 2011, o espaço está reservado para todos os fins de semana. São, em média, 24 festas por mês. O preço médio para quatro horas de diversão e lanche é R$ 6,9 mil. No Gama, o pacote para 100 pessoas custa R$ 1 mil a menos. ;Festa é sonho, e sonho não tem preço;, afirma a empresária, que planeja abrir mais duas casas, em Sobradinho e Luziânia (GO).
Inaugurada há dois meses, a Tintim, especializada em organização de festas temáticas, quer pegar carona no avanço do mercado infantil. A proprietária, Fabíola Bahouth tem, por ora, quatro produções pela frente. Uma delas terá como tema a marca de chocolates M. Puffs, almofadas e cortinas personalizadas virão de Orlando, nos Estados Unidos. A decoração exclusiva não sairá por menos do que R$ 10 mil. ;Os pais não aceitam mais o comum. Querem surpreender a cada ano;, diz Fabíola.
A ostentação nas festas de Brasília tem espantado os próprios empresários do setor. Com sete anos no mercado, Fabiani Barbosa, dona da Dot Paper, papelaria de luxo no Lago Sul, prepara a identidade visual de 15 a 20 aniversários infantis por semana ; no primeiro ano, eram três, em média. Há mães que não aceitam menos do que 25 mil balões na festa do filho: orçamento que pode alcançar R$ 8,7 mil. ;Brasília vive uma realidade atípica: cada mãe quer superar a outra. A gastança é cada vez maior;, observa Fabiani. ;Acho que os pais estão trabalhando muito e querem compensar com as festas;, completa ela, que fez as lembranças do nascimento do filho da musa do axé Claudia Leitte.
A empresária Jamile Faraj, 43 anos, gostava tanto de preparar as festas da filha Ianaê, hoje com 19 anos, que transformou o hobby em trabalho. Tem cuidado da decoração de pelo menos quatro grandes festas por mês. Em uma delas, os pais, somando todas as despesas, gastaram cerca de R$ 200 mil, o que não é raro no mercado brasiliense(1),/b>. ;Eles querem que a gente construa uma ilha da fantasia. Você oferece as opções e eles querem todas, é impressionante. Festa infantil virou megaevento social;, reforça. ;Isso vai se sustentar. A criança de hoje vai querer proporcionar uma festa ainda melhor para o filho;, aposta Ianaê, filha e agora sócia de Jamile.
1 - Representação
Como os bufês e as casas de festas infantis não são associadas a sindicato algum, não há informações oficiais de quantas dessas empresas existem em todo o DF, mas estima-se que sejam pelo menos 30. O Sindicato de Empresas de Promoção de Eventos do DF (Sindeventos-DF) planeja alterar o estatuto para incluir essas empresas na entidade e mapear melhor o mercado.
Opções para todos os bolsos
Quem não pode pagar R$ 40 mil em uma festa para 150 pessoas ; valor médio das megaproduções infantis ; recorre a lugares que oferecem tudo pronto por um preço bem menor ou não se importa em fazer o aniversário da criança em casa ou no salão do prédio. Mesmo assim, por mais simples que sejam, as festas de hoje costumam ter, no mínimo, atrações como pula-pula, pintura de rosto e carrinhos de algodão- doce e pipoca.
De olho nesse mercado, o fotógrafo André Silva comprou um equipamento de R$ 5 mil. ;Tiro a foto da criança e imprimo na hora;, explica ele, que fatura, por baixo, R$ 600 por festa ; são pelo menos seis por mês. O analista de sistemas Alexandre Letori vira Tio Orelha nas horas vagas. Com o trabalho de animação nos aniversários, aumenta em 30% a renda mensal.
Dona da Party House, em Taguatinga, Mônica Dantas viu a demanda triplicar nos últimos cinco anos. Ela diz que aluga itens de decoração por até metade do preço cobrado nas lojas do Plano Piloto. ;Tem que reservar com pelo menos um mês de antecedência;, avisa ela, que contratou três funcionários depois que a procura aumentou.
Após quatro anos fazendo a festa da filha Isabel, a dona de casa Nívea Andrade, 34 anos, resolveu caprichar no aniversário de 5 anos, no mês que vem. Para convidar 80 pessoas, encontrou pacotes que variavam entre R$ 3,3 mil e R$ 9 mil. Optou pelo mais barato. ;Quando eu era criança, tinha que ter bolo. Hoje festa tem que ter tudo, o bolo é o de menos;, compara a mãe.
Depois de uma gravidez tumultuada, em que quase perdeu o segundo bebê, a enfermeira Gláucia Santana, 31 anos, se permitiu gastar R$ 6,5 mil para o primeiro aniversário de Ian. ;Termina a festa e você tem a sensação de que jogou dinheiro no ralo. Mas eu tinha um grande motivo para agradecer a Deus;, comentou Gláucia. A festa tinha até boate para a criançada.
As áreas de lazer para crianças nos shoppings são outra opção. A Magic Games cobra R$ 21 por criança (segunda à sexta) ou R$ 28 (sábados, domingos e feriados). Os comes e bebes ficam por conta dos pais. No Terraço Shopping, a empresa precisou ampliar o espaço.
No Boulevard Shopping, na Asa Norte, a franquia Clube da Criança oferece a estrutura da brinquedoteca, com bufê incluso, a valores que vão de R$ 34 a R$ 42 por pessoa, a depender do dia e do turno. ;Os pais não precisam se preocupar com nada;, diz a gerente do espaço, Lilian Rosa. (DA)
O número
623 mil - Número de meninos e meninas com até 14 anos no Distrito Federal