Luiz Calcagno
postado em 30/08/2010 08:01
A pequena Milenna de Moura Barbosa, 2 anos, que na manhã de sábado caiu do sexto andar do prédio onde mora, o Bloco K da Quadra 504 do Sudoeste, está fora de perigo. Ela está sedada e entubada. Médicos esperam que o inchaço na perna esquerda da criança diminua para avaliar a necessidade de colocar gesso. Ela fraturou o fêmur na queda. Existe a possibilidade de que ela tenha batido com o membro em uma viga de concreto, o que teria, ainda, amortecido o impacto com o chão. Segundo o professor de física da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Brito, a força com que ela atingiu o solo seria equivalente a quase duas toneladas (Veja Palavra do Especialista). Os pais da menina, os funcionários públicos Ruy Barbosa da Silva e Alice Ramos Moura, estão com a filha durante todo o tempo desde a internação dela no Hospital Santa Lúcia, no início da noite de ontem.Após sobreviver à queda de cerca de 20 metros, a criança foi levada para o Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF). Lá, foi atendida por uma junta com dois cirurgiões-gerais, um neurologista e um ortopedista. Em seguida, médicos a internaram na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A pequena ainda precisou fazer tomografias no tórax e na cabeça, mas o equipamento do HBDF estava quebrado. Então, a família decidiu transferi-la para o Santa Lúcia, na W3 Sul. Mas Milenna só poderia ser removida em uma UTI móvel, e foi difícil conseguir o veículo.
Ainda na noite de sábado, a criança fez as tomografias. Os exames não indicaram ferimentos graves. O advogado Walter Xavier, 57, tio da criança, conversou com o Correio. Ele contou à reportagem, dentre outras coisas, que os pais da menina estão mais aliviados agora que ela passa bem. ;Ela está em observação. Os pais estão mais confiantes, apesar da situação ainda ser grave. A grande surpresa é ela ter caído de uma altura tão grande e estar bem. Pelos exames, ela está anos-luz melhor do que poderia;, disse Walter.
Milenna estava em casa com a babá quando ocorreu o acidente, por volta das 11h30. A empregada da família contou à polícia que foi levar o lixo para fora do apartamento e a menina teria trancado a porta. Ela pediu que a criança abrisse, e Milenna respondeu que não conseguia. Após trocarem algumas palavras, a pequena silenciou. A babá começou a gritar e dois vizinhos saíram ao corredor. Um deles arrombou a porta e começaram a procurar Milenna em todo o apartamento. Foi quando o porteiro avisou, pelo interfone, que a menina tinha despencado do sexto andar.
Cuidados
Todas as janelas da casa de Milenna têm redes de proteção, exceto a do escritório, por onde ela teria pulado. Milenna foi descrita pelo tio como uma garota inteligente e ativa, que adora brincar e é peralta. O delegado Marcos Raposo, que deu início às investigações sobre o caso, também contou que ela já havia se trancado no banheiro algumas vezes, com dificuldades para sair. Para Alessandra Françóia, coordenadora nacional da ONG Criança Segura, em muitos casos de acidentes os pais não têm entendimento da capacidade de raciocínio da criança.
Françóia evitou julgar o caso, mas deu algumas dicas de cuidados para evitar quedas. ;A maioria dos acidentes acontece quando um adulto está por perto, quando falta equipamentos de segurança. São características das crianças não ter medo, ser curiosa, e, pelo tamanho, ter acesso a espaços pequenos como geladeira, forno e máquina de lavar, e não reconhecem o perigo. Isso ocorre principalmente entre os menores até cinco anos;, explicou.
Segundo a especialista, pais podem tomar uma série de iniciativas para evitar acidentes. ;É importante que a criança brinque, caia, se levante, conheça os limites do corpo, mas em um ambiente preparado;, recomendou. ;Tirar chaves de fechaduras e não deixar móveis próximos a janelas são detalhes que pais devem estar atentos. Em prédios, a atenção com as janelas é muito importante. Acidentes em janelas são, na maioria das vezes, fatais;, concluiu.
Palavra de especialista
Amortecimento essencial
;Fiz uma conta simples, desconsiderando a resistência do ar e considerando que a criança não teve nenhum tipo de amortecimento. No entanto, a única explicação para a sobrevivência foi ela ter sido amortecida em algum momento durante a trajetória. O amortecimento é essencial. Além disso, um adulto tem consciência do risco da queda, e fica tenso na trajetória. A criança, por sua vez, fica mole, flexível, e o tempo de desaceleração é maior, o que acaba diminuindo o impacto. Geralmente, a criança cai com os braços abertos, o que aumenta a resistência do ar. Considerei nos cálculos, também, que ela afundou 10 centímetros no chão, o que, na verdade, é muito. Quando ela chegou ao chão, a força com que ela bateu equivaleria a um peso de 1.700kg, quase duas toneladas. O choque de Milenna com o chão foi em uma velocidade equivalente a 170 vezes a força da gravidade, sendo que o limite é 10 vezes a gravidade da Terra. Acelerações acima desse valor podem arrebentar órgãos internos.;
Paulo Brito é professor de física da Universidade de Brasília (UnB)
Paulo Brito é professor de física da Universidade de Brasília (UnB)