postado em 31/08/2010 07:00
O escândalo envolvendo a paranormal Rosa Maria Jaques, acusada de fraudar as investigações do triplo assassinato da 113 Sul, pode trazer consequências para a Universidade de Brasília (UnB). Isso porque, uma das principais alegações de Rosa Maria para certificar a sua capacidade de clarividência é o fato de ela possuir um certificado de instrutora (1) em um curso de paranormalidade promovido na instituição, bem como de já ter sido tema de tese de doutorado na universidade. Diante da situação, o Instituto de Física (IF) da UnB pediu ao Conselho Universitário (Consuni) a extinção do Núcleo de Estudos de Fenômenos Paranormais (Nefp), responsável pelos cursos.Mesmo não estando vinculado diretamente ao Instituto de Física, mas sim ao Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam), o Nefp incomoda professores e pesquisadores do IF desde que foi criado, há mais de 20 anos. ;Eles insistem em fazer declarações de cunho científico. Essa questão da 113 Sul foi apenas mais uma pedra no nosso sapato, já tivemos muitas. A cada seis meses, temos uma surpresa negativa;, considera o diretor do Instituto de Física, Geraldo Magela e Silva.
O pedido de extinção do Nefp foi protocolado no Consuni, instância máxima da UnB, em 6 de junho último, antes mesmo da prisão de Rosa Maria. ;A diferença é que, até então, os problemas ligados ao núcleo ficavam restritos ao meio acadêmico e não tinham tanta repercussão na sociedade como nesse caso. Isso é ruim para a UnB como um todo, que fica desacreditada;, alega Magela.
Superstições
De acordo com um professor de física da UnB, que preferiu não se identificar, a vinculação do núcleo ao instituto ; o Nefp é coordenado por um físico, o professor Álvaro Luiz Tronconi ; prejudica a imagem dos docentes da área. ;A universidade não permite que um núcleo divulgue superstições e crendices. O Nefp não está cumprindo o seu papel, que é o de fazer pesquisas e estudos, como estava previsto no seu documento de criação;, diz.
A implementação e a extinção de núcleos pelo Consuni estão previstas no Estatuto da UnB. Um relator será nomeado para o caso. O parecer, então, será apresentado aos membros do conselho.
Para ser aprovado, necessita de metade mais um dos votos dos conselheiros presentes à reunião. O Ceam aguarda a argumentação do Instituto de Física antes de se pronunciar sobre o assunto. Procurado pelo Correio, o coordenador do Neft não quis se pronunciar sobre o assunto. A vidente Rosa Maria também foi procurada e, por meio do advogado Marcelo Mota, considerou uma lástima a proposta de extinção do núcleo, embora concorde com uma reformulação do projeto.
1 - Previsões
O curso de paranormalidade do qual a vidente Rosa Maria Jaques participou ocorreu de 18 de julho a 27 de setembro de 2001. Com carga de três horas semanais, ele recebeu cerca de 40 inscritos. Aprovado pelo Conselho Consultivo do Ceam e pela Câmara de Extensão da UnB, teve ainda entre os instrutores o marido da vidente, João Tochetto, também detido por suspeita de atrapalhar as instigações do crime da 113 Sul.