postado em 03/09/2010 07:58
Produtores do Núcleo Rural Santos Dumont, em Planaltina, enfrentam problemas com a estiagem(1) de quase 100 dias no Distrito Federal. O medo de prejuízos na lavoura fez os agricultores trocarem os cultivos por outros que se adaptam a uma menor quantidade de água. Para agravar ainda mais o problema, a Agência Reguladora de Água, Energia e Saneamento (Adasa) determinou a redução do uso dos corpos hídricos que compõem a Bacia do Pipiripau. A intenção é que, de forma gradativa, a utilização de água pelos 80 agricultores da região passe de 350 litros por segundo, para 275 litros no mesmo período de tempo ; uma economia de 75 litros por segundo.Os produtores da região, no entanto, questionam a economia. Segundo eles, o canal principal, que passa pelo núcleo, está repleto de infiltrações, o que ocasiona um desperdício estimado em 100 litros de água por segundo. O canal tem um total de 12 quilômetros e abastece os dutos secundários, que somam uma malha extra de 9 quilômetros. ;Toda semana temos problema com alguma parte do canal que estoura e temos que resolver. Essa quantidade de água que está sendo desperdiçada é maior do que a que eles querem que a gente economize. O ideal é que consertem o canal para que, aí sim, uma economia seja calculada;, pondera o presidente da Associação dos Produtores e Usuários de Água do Núcleo Rural Santos Dumont, Marcos Assad.
De acordo com o representante dos produtores, na última semana, os moradores ficaram sem água por quase três dias, após o rompimento de um dos pontos do canal. O estrago foi consertado por funcionários cedidos pelos próprios agricultores, que improvisaram uma impermeabilização do canal. ;Isso é recorrente. Todos os anos é a mesma coisa. O canal já se rompeu por mais de 16 vezes;, lembra Assad. A comunidade afirma que já se mobilizou diversas vezes pedindo à Secretaria de Agricultura providências para a manutenção do canal, mas que não obteve resultados. ;Às vezes, falam que não é responsabilidade deles, outras dizem que faltam recursos. A conservação básica, como o corte do mato em volta do canal nós já fazemos. O que queremos é que cuidem da estrutura;, disse o agricultor e vice-presidente da associação, João Rocha. Em 2009, ele perdeu 50% de sua produção no período da seca.
Enquanto a situação não é resolvida, os moradores das 10 ruas da região se revezam para usar a água do canal. A produtora Eunice Miyahara, que cultiva inhames e mandioca já cansou de sofrer com os problemas da estiagem e montou um planejamento para não registrar prejuízos. ;Optamos por escolher os tipos de inhame que utilizam menos água e assim conseguimos manter a plantação, mesmo que reduzida;, afirmou. O Correio tentou contato com a Secretaria de Agricultura do DF, mas não obteve resposta.
Fiscalização
Para prevenir um possível racionamento de água no DF, a Adasa decidiu aumentar a fiscalização aos usuários que captam água em poços ou cisternas ; independentemente do curso de água ; sem cadastramento. Caso autuados, os infratores podem ter o ponto de captação lacrado. Desde ontem, a inspeção foi intensificada nas áreas que registram o maior índice de irregulares.
Até o mês passado, a agência já autuou mais de 700 usuários que não possuíam a outorga de uso. Quem viola o lacre, pode receber multas que atingem R$ 10 mil na primeira ação. Nos últimos cinco anos, a Adasa concedeu 5,1 mil outorgas para um total de 30 mil usuários em todo o DF. Cerca de 1,5 mil pedidos ainda estão em processo de análise. ;Não entramos em racionamento. As medidas que estamos tomando são de caráter preventivo. Queremos manter um nível mínimo nos reservatórios que atendam as nossas necessidades. Para tanto, podemos reforçar ou afrouxar as medidas definidas;, disse o superintendente da Adasa, Diógenes Mortari.
1 - Ponto crítico
A falta de chuvas castiga todo o DF. No Lago Paranoá, o volume das águas chegou a ficar 30 centímetros abaixo do ideal, calculado a partir do nível do mar. O índice está entre as piores médias registradas nos últimos 12 anos. A situação já é comparada a 2000, quando o nível ficou abaixo do ideal.
Dentro da lei
Para regularizar sua situação, o usuário de recursos hídricos que não possui cadastro na Adasa deve comparecer à agência ; na sobreloja da Rodoferroviária ; solicitando o enquadramento de sua atividade. Enquanto o pedido é analisado, a captação deve ser suspensa. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 3961-4963.