postado em 03/09/2010 08:30
Encarada como o patinho feio da economia local, a indústria brasiliense quer se firmar como importante força motriz do Distrito Federal. O setor, com 6 mil unidades produtivas, movimenta R$ 10 bilhões ao ano ; o equivalente a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do DF. Só a indústria de transformação responde por 46 mil empregos diretos. Apesar desse potencial, a capital do país nunca teve uma política de desenvolvimento industrial.Pesquisa realizada com os presidentes dos 10 sindicatos associados à Federação das Indústrias do DF (Fibra), e obtida com exclusividade pelo Correio, aponta os segmentos com maior capacidade de crescimento nos próximos anos. No DF, o ranking é liderado pelas áreas de informática e comunicações, vestuário e confecções, editorial e gráfico. No chamado Entorno Metropolitano de Brasília(1), destacam-se alimentos e bebidas, madeira e mobiliário, vestuário e confecções (veja arte).
Na edição de 2010 da Carta da Indústria do DF, principal documento do setor, os empresários defendem que passou da hora de os governos local e federal reconhecerem a necessidade de investimento no parque industrial da capital do país e do Entorno. O texto, concluído no mês passado, sugere ações concretas para impulsionar a indústria na região, com medidas de regulação, infraestrutura e incentivos fiscais e financeiros.
Até o fim deste mês, as propostas serão entregues aos candidatos ao Governo do DF, em debates na Fibra. Por enquanto, todos têm prometido acatar as sugestões em seus planos de governo. O presidente da entidade, Antônio Rocha, sustenta que o futuro governador precisará encarar a indústria como prioridade. ;A economia da cidade não poderá se manter apoiada para sempre na administração pública. Pelo contrário, o setor público está inchado;, diz.
Estratégia
A Carta da Indústria dá continuidade ao Plano Estratégico de Desenvolvimento Industrial do DF, divulgado pela Fibra em 2006. A avaliação dos empresários do setor é que, desde então, muito pouco foi feito para atrair investimentos à região. ;Os governos se acomodaram. Parecem não ter ideia da dimensão da indústria;, comenta Rocha. Cerca de 70% da receita total do GDF são provenientes da União, o que, para as lideranças do setor, ajuda a explicar a omissão do poder público.
Para o economista Júlio Miragaya, coordenador do estudo da Fibra, é preciso romper com o estigma de que o DF não tem vocação para a indústria. ;É essa mentalidade que provoca a falta de vontade política para mudar o cenário;, afirma ele, antes de lembrar que a indústria de transformação participa com 1,5% do PIB do DF, enquanto a média nacional é de 17%. ;Não basta a boa vontade dos empresários, o governo precisa participar;, completa o economista.
As sugestões para incentivar a produção industrial envolvem a construção de ramais ferroviários e a consolidação do Parque Cidade Digital. ;A transferência de dinheiro da União para o DF cria uma letargia no governo. O problema é que a capacidade do setor público está se esgotando. A indústria é a alternativa para suprir uma lacuna que surgirá gradativamente;, alerta Miragaya, defensor da criação de um Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) local.
Dono da Pão Fofinho, empresa há 20 anos no mercado candango, Jacinto Pedro Gonçalves diz que o setor sofre discriminação por parte do governo. ;As autoridades nunca pararam para avaliar o tamanho da nossa indústria. Brasília já tem um polo industrial. Só não enxerga isso quem não quer;, comenta ele, que tem 100 funcionários distribuídos pelas duas indústrias. A Pão Fofinho produz, em média, 30 toneladas de pães todo mês. Os produtos abastecem o varejo do DF e do Entorno.
1 - Região
O Entorno Metropolitano de Brasília engloba os municípios goianos de Águas Lindas, Alexânia, Cidade Ocidental, Formosa, Luziânia, Novo Gama, Padre Bernardo, Planaltina, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso.
Conheça as principais propostas das indústrias para o futuro Governo do DF.
* Criar o PAC-DF, em articulação com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal
* Implantar o gasoduto Campinas;Uberlândia;Goiânia;Brasília, disponibilizando gás natural para a demanda industrial da região
* Construir o ramal ferroviário Brasília;Anápolis, conectado à Ferrovia Norte-Sul, que ligaria Anápolis a Palmas (TO) e Açailândia (MA), permitindo acesso ao porto de Itaqui (MA)
* Construir o ramal ferroviário Luziânia;Unaí;Pirapora, permitindo acesso ao porto de Tubarão (ES)
* Implantar áreas industriais no Entorno para atrair investimentos e inverter o fluxo de mão de obra
* Criar o Banco de Desenvolvimento do Centro-Oeste
* Instituir regime de tributação especial para a indústria e adequar a legislação do DF à realidade dos demais estados do Centro-Oeste
* Consolidar o Parque Cidade Digital
* Criar programa de promoção das exportações da indústria do DF
O que eles dizem
;O Governo do DF não valoriza a indústria porque parece não precisar muito do dinheiro que vem dela. Os recursos federais são muitos. É necessário desmitificar a ideia de que Brasília não tem vocação para a indústria. Só no segmento de madeira de mobiliário são 451 empresas e mais de 7 mil empregos diretos. Temos que desenvolver a região do Entorno, criar uma cadeia produtiva eficiente. Esperamos que, no próximo governo, o setor não continue ao deus-dará.;
José Maria de Jesus, presidente do Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário do DF (Sindimam)
;Apesar de uma cidade administrativa, Brasília tem, sim, uma indústria forte e com enorme capacidade de crescimento. O problema é que o investimento no setor nunca foi prioridade de governo. As vagas no setor público não serão para sempre. Alguém terá de absorver a mão de obra futura. O segmento de alimentação tem 1,5 mil indústrias e 13 mil empregos criados. O governo não pode ficar alheio a isso. Além disso, precisamos de mais integração com os estados vizinhos.;
José Joffre Nascimento, presidente do Sindicato das Indústrias de Alimentação de Brasília (Siab)
;Brasília tem vocação para o segmento de inteligência, uma indústria limpa e que cria muitos empregos qualificados. A cidade é privilegiada nesse sentido, por ser uma sede administrativa. O governo é um grande comprador de tecnologia da informação, o que tem atraído empresas nacionais e estrangeiras. Chegou a hora de mudar o conceito de indústria, que definitivamente não é só um galpão cheio de máquinas jogando fumaça para cima e produzindo bens.;
Jeovani Ferreira Salomão, presidente do Sindicato das Indústrias da Informação do DF (Sinfor)
José Maria de Jesus, presidente do Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário do DF (Sindimam)
;Apesar de uma cidade administrativa, Brasília tem, sim, uma indústria forte e com enorme capacidade de crescimento. O problema é que o investimento no setor nunca foi prioridade de governo. As vagas no setor público não serão para sempre. Alguém terá de absorver a mão de obra futura. O segmento de alimentação tem 1,5 mil indústrias e 13 mil empregos criados. O governo não pode ficar alheio a isso. Além disso, precisamos de mais integração com os estados vizinhos.;
José Joffre Nascimento, presidente do Sindicato das Indústrias de Alimentação de Brasília (Siab)
;Brasília tem vocação para o segmento de inteligência, uma indústria limpa e que cria muitos empregos qualificados. A cidade é privilegiada nesse sentido, por ser uma sede administrativa. O governo é um grande comprador de tecnologia da informação, o que tem atraído empresas nacionais e estrangeiras. Chegou a hora de mudar o conceito de indústria, que definitivamente não é só um galpão cheio de máquinas jogando fumaça para cima e produzindo bens.;
Jeovani Ferreira Salomão, presidente do Sindicato das Indústrias da Informação do DF (Sinfor)