O Hospital Regional da Asa Norte (Hran) atende pacientes ainda que não haja leitos disponíveis para recebê-los. A informação é da Secretaria de Saúde. Segundo o órgão responsável pela saúde pública no Distrito Federal, não faltam leitos na unidade, mas a demanda é excessiva em virtude da procura de pessoas de outros estados.
A realidade de superlotação e descaso com os usuários do sistema foi flagrada por um leitor do Correio Braziliense. Na última segunda-feira (30/8), com a câmera digital do celular, *João filmou e fotografou pacientes alojados no chão de um dos corredores do Hran. De acordo com ele, o hospital, que estava bastante cheio no dia, não tinha leitos e ainda faltavam ambulâncias para o transporte de pacientes.
João foi até o Hran para levar seu primo de 33 anos, paciente de esquizofrênia, que havia tido um surto (veja, abaixo, detalhes do atendimento recebido por eles). Enquanto esperava pelo transporte que levaria o parente a outro centro de saúde, ele fotografou a situação de outros pacientes no local. As fotos mostram pessoas deitadas no chão de um dos corredores tomando soro.
Uma fonte interna do Hospital garantiu ao Correio que o caso é recorrente, principalmente, às segundas-feiras, quando o estabelecimento fica mais cheio. "Os pacientes ficam mesmo no corredor, onde são atendidos pelos médicos. Tanto aqueles de internação, quanto aqueles em observação", afirma a funcionária, que denuncia ainda o descaso com moradores de rua. "Nesse caso eles ficam no corredor mesmo", diz.
Falta de transporte
O flagrante de João ocorreu no dia em que um primo seu precisou de atendimento e foi encaminhado ao hospital pelo Corpo de Bombeiros. Quando chegaram ao Hran, não havia psiquiatras, apesar de a Secretaria de Saúde informar que o hospital conta com o atendimento psquiátrico ambulatorial.
O primo de João, então, foi atendido por uma pneumologista (trata de doenças pulmonares e respiratórias). A médica apenas encaminhou o paciente para uma clínica especializada em Taguatinga, o Hospital São Vicente de Paulo, que, segundo nota oficial da Secretaria de Saúde, é utilizado em casos de emergência. O Hospital São Vicente de Paulo é responsável pela triagem dos pacientes e indica tratamento em outra unidade de saúde, de acordo com a patologia do usuário.
No entanto, a família encontraria outro problema. O primo de João teria que esperar o transporte. "Eram 13h e a previsão para o transporte do meu primo era apenas no final da tarde, por volta das 18h. Ele ainda seria encaminhado ao Hospital de Base para depois seguir para a clínica de Taguatinga. Na nossa frente haviam oito pessoas na lista de espera", afirma João.
*Nome fictício para preservar a identidade do leitor