postado em 04/09/2010 08:04
A creche onde Pedro Henrique de Jesus Bezerra morreu não tem todos os documentos necessários para funcionar. O menino de 3 anos perdeu a vida na última quinta-feira depois de ser esmagado por uma televisão de 29 polegadas em um estabelecimento que não possui a licença definitiva nem o devido credenciamento da Secretaria de Educação (SE). De acordo com diretores do órgão, não há qualquer registro ou entrada processual em nome da Creche Jesus Vive. Na Administração Regional de Brasília, consta que a entidade, localizada no Conjunto B-1 da SGAS 915, tem alvará precário. Todos os documentos que se encontram nessa situação, no entanto, foram revogados pelo Governo do Distrito Federal há mais de três meses.Para receber alunos, as instituições de ensino precisam da licença para, só então, darem entrada na pasta da Educação. ;Fizemos todas as buscas e não há um processo formalizado da creche no sistema da secretaria. Ela não está regularizada conosco;, afirma Jacira dos Reis, gerente de Instrução Processual, Inspeção e Supervisão. O alvará precário emitido pela administração regional caracteriza a Jesus Vive como uma ;casa de assistência social;. ;Os trâmites valem para todos. As creches têm fins pedagógicos e precisamos vistoriá-las;, explica Júlia Gama de Souza, coordenadora de Supervisão Institucional e Normas da SE.
O inquérito instaurado para investigar o caso precisa do laudo do Instituto de Criminalística para ser finalizado. Por enquanto, as equipes da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul) estão colhendo os depoimentos dos envolvidos. Foram ouvidos ontem um funcionário da Jesus Vive e o pai da garota de 4 anos que, ao lado de Pedro Henrique, tentou escalar um móvel de madeira para pegar o controle remoto da tevê. Com o peso dos dois, a cômoda e o aparelho tombaram. A menina desviou e teve apenas ferimentos leves na cabeça. O garoto morreu no hospital, pouco depois do acidente, vítima de traumatismo cranioencefálico.
;Desleixo;
O corpo de Pedro Henrique foi sepultado ontem às 16h no Cemitério Campo da Esperança. A dor e a emoção tomaram conta dos parentes e amigos. Segundo familiares, algumas monitoras da creche foram ao enterro e se mostraram sensibilizadas com o acidente. O pai do garoto, José Bezerra Neto, 38 anos, acredita na hipótese de negligência. ;Do portão para dentro, a responsabilidade total é da organização. Lá, eles sabiam que existia esse perigo. Teve este desleixo com ele (Pedro Henrique). A estante tinha que ser fixada na parede;, argumenta. O menino era o único filho de José e Rosélia Ribeiro de Jesus Bezerra, moradores de Águas Lindas (GO). ;Vou esperar o resultado da perícia para decidir o que fazer. Mas nada vai trazer o meu filho de volta;, acrescentou o pai.
A direção da creche foi procurada pela reportagem durante todo o dia. Os funcionários da portaria disseram que a entidade estava fechada e se negaram a fazer contato telefônico com os responsáveis pelo espaço. Algumas mães de crianças matriculadas na creche participaram do enterro e comentaram o tratamento oferecido aos pequenos na instituição. ;Meu filho ficou durante quase dois anos no local. Os professores foram muito responsáveis. Sempre ligavam quando ele passava mal;, contou a recepcionista Renata de Souza Batista Silva, 27 anos.
A televisão que caiu em cima do menino estava lá há cerca de duas semanas. O chefe da 1; DP, Watson Warmling, contou que o aparelho foi colocado no local enquanto o equipamento original da sala, que ficava em um suporte de parede, passava por manutenção. Provisoriamente, a tevê de tubo de 29 polegadas foi colocada no móvel de madeira. Pedro Henrique estava com uma monitora e outras cinco crianças realizando atividades de recreação quando o acidente ocorreu.
MENINA CONTINUA NA UTI
; O estado de saúde de Milenna de Moura Barbosa, 2 anos, que caiu do sexto andar do prédio onde morava no Sudoeste há uma semana, permanece estável. O último boletim médico da garota, divulgado no início da noite de ontem pelo Hospital Santa Lúcia, informa que a criança está internada na UTI pediátrica, ainda em estado grave, mas sem risco de morte. Segundo o documento, a menina se encontra em coma induzido e respira com a ajuda de aparelhos. Além dos profissionais da UTI, Milenna é acompanhada por cirurgiãos pediátricos, neurocirurgiãos e ortopedistas. Na última quarta-feira, equipes da 3; Delegacia de Polícia (Cruzeiro) ouviram os pais da criança. O titular da unidade, Aluísio de Carvalho, aguarda o laudo do Instituto de Criminalística, que deve ficar pronto até o fim do mês.