Helena Mader
postado em 10/09/2010 07:50
Nordestinos, mineiros, cariocas e outras tantas pessoas de várias partes do Brasil construíram a história do Distrito Federal. Desde a criação da cidade, há 50 anos, os migrantes tiveram papel importante na consolidação de Brasília. E essa atração exercida pela capital é crescente até hoje. No ano passado, o percentual de nascidos fora da cidade que vivem aqui cresceu com relação à população total do DF. Enquanto isso, a porcentagem de nativos de Brasília diminuiu pela primeira vez desde 2005. Os dados são da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada esta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.De acordo com o levantamento realizado em 2009, 48,69% das pessoas que moram no DF nasceram aqui e 51,31% vieram de outras unidades da federação ou de países estrangeiros. Na pesquisa anterior, de 2008, esses percentuais eram, respectivamente, de 48,92% e 51,08%. O total de moradores de Brasília nascidos aqui saltou de 1.236.000 para 1.252.00 ; um aumento de 16 mil habitantes. Enquanto isso, a quantidade de migrantes cresceu muito mais: aumentou de 1.290.00 para 1.319.000, o que representa um contingente de mais 29 mil pessoas nascidas fora da cidade, mas que passaram a viver na capital.
São muitos os fatores que ainda atraem migrantes para viver em Brasília, mas o funcionalismo público é o principal deles. Por conta de concursos ou contratações para trabalhar em órgãos públicos, milhares de pessoas deixam seus estados natais para se fixar no Distrito Federal. Mas esses não são os únicos motivos para o desembarque desse grande contingente de brasileiros e estrangeiros. A iniciativa privada e a qualidade de vida no DF também motivam as migrações.
A paraense Gilmara Nascimento da Silva, 28 anos, veio para Brasília no ano passado atraída pelas oportunidades de trabalho. A ex-moradora de Belém atua na área de saúde pública e queria se dedicar a projetos de estímulo ao aleitamento materno. Não encontrou nenhuma oportunidade em sua cidade natal e veio para Brasília para trabalhar no Ministério da Saúde. Ela sente muita falta da família e dos amigos, mas já aprendeu a gostar da cidade. ;Quando cheguei, tive muita ajuda de outras pessoas de fora. Sinto saudade da minha terra, mas estou gostando daqui. Brasília é um bom lugar para morar;, justifica Gilmara, que todos os meses visita os parentes em Belém.
Cidade acolhedora
A contadora baiana Aline Nogueira da Cunha, 29 anos, também trocou sua cidade por Brasília em 2009. Natural do município baiano de Caetité, ela foi aprovada em um concurso público da Receita Federal e há nove meses mora na Asa Norte. A servidora diz não ter vontade de voltar para a Bahia. ;A cidade é muito acolhedora, aqui temos mais qualidade de vida. Minha única ressalva é com o alto custo de vida. Mas não penso mais em sair daqui, em pouco tempo já fiz muitos amigos;, justifica.
A doutora em demografia Ana Maria Nogales, professora do Departamento de Estatística da Universidade de Brasília e coordenadora do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais da UnB, explica que o fluxo migratório para o Distrito Federal mudou muito nos últimos anos. ;Aquele grande contingente de pessoas que vinha de forma maciça em busca de lote e emprego não existe mais. É claro que Brasília vai continuar atraindo pessoas de outras unidades da federação até por ser a capital do país. Mas o processo de aumento da população nativa continua;, explica Nogales.
Para a especialista, a maioria dos que hoje vivem na cidade estão aqui há, pelo menos, mais de uma década e se considera brasiliense. ;Esse é o meu caso, por exemplo. Nasci em Minas Gerais mas cheguei em Brasília com apenas seis anos. Me considero brasiliense, mas pelas estatísticas da Pnad entro no grupo de pessoas que nasceram fora da cidade. Se forem analisar há quanto tempo esses migrantes estão aqui, vai ser fácil perceber que a maioria chegou à cidade há muito tempo. De lá para cá, o fluxo migratório diminuiu bastante;, acrescenta a demógrafa.
A maioria dos migrantes que hoje vivem em Brasília veio da região Nordeste. Se forem considerados os números por estado, o maior contingente é de mineiros: 219 mil moradores do DF vieram de Minas Gerais. O estado que menos contribui para a formação da população da capital federal é o Amapá. Apenas mil pessoas lá nascidas moram no DF.