Cidades

Reciclagem é prejudicada em função das pessoas não separarem o lixo

Naira Trindade
postado em 14/09/2010 08:00
A falta de orientação na hora de selecionar os resíduos sólidos ameaça o fechamento de uma cooperativa que emprega 24 mulheres no Varjão. Das 200 toneladas de lixo recolhidas semanalmente no Lago Norte, as seletoras da Central de Reciclagem do Varjão (CRV) conseguem aproveitar apenas 60%. O restante, que vem sendo colocado nas ruas de maneira errada no mesmo horário da coleta seletiva, (1) além de entulhar o depósito e atrapalhar o serviço, traz riscos à saúde de todos.

Na mesma sacola de plásticos e papéis, encontram-se laranjas podres, pedaços de isopor, restos de comida e materiais sanitários. Desde janeiro deste ano, um alto número de produtos úmidos, como alimentos, tem se misturado com os secos despejados na ruas nos dias de arrecadação seletiva. A mudança de hábito dentro de casa na hora de se desfazer dos restos surtiu efeito numa comunidade carente que sobrevive com a venda dos produtos recicláveis. A associação, que antes recolhia por dia 60 toneladas de produtos secos, hoje amarga num número bem inferior e ainda com itens misturados entre aproveitáveis e não aproveitáveis.


A mudança de comportamento agride o meio ambiente, que recebe mais resíduos, quando os mesmos poderiam ser vendidos e reutilizados por empresas de grande porte. Os restos que não são reciclados acabam despejados num lixão sanitário, inviabilizando o solo. Misturados ao material degradado, os produtos caem de preço, e tal desvalorização afeta o bolso das trabalhadoras. ;Antes tirávamos um salário (R$ 510) por mês. De janeiro para cá, fechamos o mês com cerca de R$ 300. Não ganhamos nada para separá-los, apenas para vendê-los;, contou uma das fundadoras da central, Edinei da Silva Santarém, 35. Os produtos também sofreram com uma queda de preço natural. O quilo da lata, que antes custava R$ 2,80, passou para R$ 2.

Os meses de férias, normalmente, são mais críticos na arrecadação de lixo, porque as pessoas passam menos tempo fora de casa ou viajam. Mas a coleta volta ao normal depois desse período. ;Esse ano, isso não aconteceu. Houve a queda, mas não houve a fase de recuperação;, contou Edinei, que é moradora do Varjão. As 24 mulheres da CRV começam a trabalhar às 8h, de segunda a sexta-feira. A coleta é feita das 8h às 10h. Os caminhões da Administração do Lago Norte passam em seis quadras por dia. Cada área tem dia certo para colocar o lixo seco na porta de casa.

No meio da manhã, quando o material começa a chegar, as seletoras já estão com o depósito limpo, à espera para fazer a separação. ;Quando vem tudo certo, o serviço não demora e não há mau cheiro. Mas quando há comida, o odor atrapalha, os ratos começam a aparecer a ficamos propensos ao contágio de doenças. Até seringas estão aparecendo no meio do lixo que deveria ser de produtos recicláveis;, disse.

Falta campanha
Preocupadas com a falta de orientação dos moradores, as mulheres pedem que o Sistema de Limpeza Urbano (SLU) e a Administração Regional do Lago Norte se mobilizem em campanhas educativas ; que não ocorrem desde setembro do ano passado. ;A conscientização popular deve ser constante, não pode parar;, aconselhou. Prefeito comunitário da Península Norte, Amasildo Medeiros tem encontro com o responsável pela campanha do SLU marcado para este mês. ;A última vez que fizemos a conscientização foi em setembro de 2009;, recordou.

O Sistema de Limpeza Urbana nega tamanha distância no prazo das campanhas. ;Fizemos campanha no início deste ano;, remendou o gerente de Planejamento e Avaliação da SLU, José Pereira de Melo. ;Mas o processo é complicado. Por não ser obrigatório, as pessoas acabam acomodando e param de separar;, disse. ;É um problema bastante sério. Quem separa o lixo normalmente é a empregada doméstica, e como há um revezamento desses profissionais, se não houver orientação, a pessoa não coloca nos dias certos ou na hora marcada;, analisou Amasildo Medeiros.

1 - Criando hábito
A coleta seletiva começa dentro da casa de cada um. Com uma simples mudança de rotina, a pessoa pode colaborar com o meio ambiente. A caixinha de leite, por exemplo, pode ser lavada antes de ser jogada fora. A iniciativa é a mesma para os potes de azeitona, maionese, catchup etc. Isso facilita a reutilização do produto quando recolhido pelas cooperativas de reciclagem. Para separar o lixo seco do orgânico, basta ter em casa dois recipientes apropriados. Com a iniciativa da coleta seletiva, os catadores independentes e aqueles que trabalham nos aterros sanitários conseguem coletar mais materiais, que, em seguida, serão vendidos às empresas de reciclagem. Colaborando com a separação do lixo, a pessoa ainda cuida da própria saúde, evitando o acúmulo desnecessário de restos, o surgimento de doenças e a atração de animais perigosos.

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