postado em 14/09/2010 07:55
O potencial de consumo do Distrito Federal registrou um aumento este ano, que pode colocar Brasília na preferência de investidores de peso. Segundo o estudo IPC Maps, que traz dados sobre hábitos e capacidade de compra nas diferentes regiões brasileiras, em 2010 a população da capital federal gastará R$ 47,9 bilhões. A maior parte desse dinheiro ; R$ 13,5 bilhões, ou 28% ; irá para parcelas de financiamentos da casa própria. A projeção torna a cidade e a sua região metropolitana a terceira com o maior mercado consumidor do Brasil, atrás somente de São Paulo e Rio de Janeiro, deixando para trás Belo Horizonte, que detinha o posto em 2009.No ano passado, as populações de São Paulo, Rio e Belo Horizonte tiveram estimativa de gastos de R$ 158,9 bilhões, R$ 99 bilhões e R$ 36,7 bilhões, respectivamente, de acordo com o IPC Maps(1). Brasília, com R$ 34,9 bilhões em despesas projetadas, figurava como dona do quarto maior potencial de consumo do país. Em 2010, o jogo virou. Além de desbancar a cidade mineira ao conquistar o terceiro posto, ultrapassando em R$ 9 bilhões, ou 19%, a previsão de gastos para Belo Horizonte, a capital federal registrou o maior incremento nos gastos entre os cinco primeiros maiores mercados de consumo. Entre 2009 e 2010, o volume de dinheiro previsto para circular no DF cresceu 37%, enquanto em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador, houve ampliação de 33,5%, 30,2%, 28% e 28,5% nos gastos. Na média nacional, a alta nas despesas estimadas foi de 16,11%, de R$ 1,8 trilhão para R$ 2,09 trilhões.
;Se você comparar Brasília com as demais, o desempenho foi fora do comum. A cidade passou a ser a terceira mais importante do país;, analisa Marcos Parizzi, diretor da IPC Marketing, empresa de consultoria responsável pela realização do IPC Maps. Para ele, o resultado torna a capital federal alvo de interesse para empreendedores. ;Empresários trabalham com esse tipo de informação para definir investimentos, novos negócios. Brasília será considerada em projetos futuros;, acredita.
Gasto per capita
Um outro fator pesa a favor de Brasília além da expansão de seu mercado consumidor. Em terceiro lugar na medição da capacidade de consumo de sua população, a capital federal lidera o ranking de potencial de compra por habitante. Os gastos per capita anuais na cidade estão estimados em R$ 18.726 segundo o IPC Maps, contra R$ 16.191 para o Rio de Janeiro e R$ 15.973 para São Paulo.
Marcos Parizzi explica que, enquanto a projeção geral de despesas ajuda a delinear as dimensões do mercado de consumo de uma região, a estimativa de gastos por habitante sinaliza a capacidade de compra de uma população para além dos itens de primeira necessidade. ;Quanto maior o consumo per capita, menos a renda está comprometida com despesas básicas. Significa que a população está com fôlego para investir em viagens, troca de veículo ou financiamento de uma casa;, explica.
Parizzi ressalta que, a exemplo da projeção feita para o DF, a compra da casa própria deve ser o principal destino do dinheiro no Brasil em 2010 ; R$ 545 bilhões devem ser investidos em todo o território nacional. O fenômeno pode ser atribuído ao boom imobiliário vivido pelo país, impulsionado por medidas de estímulo à construção civil e pelo programa Minha Casa, Minha Vida(2), do governo federal, que facilita a edificação e aquisição de moradias populares.
Entre os brasilienses que destinarão parte de sua renda para a casa própria este ano, estão o servidor público Leonardo Oliveira, 33 anos, e a esposa dele, a administradora Luciana Alvares Oliveira, 35. Em 2009, o casal adquiriu um apartamento no Guará I. Agora, está à volta com as prestações, que serão pagas ao longo de 30 anos, a não ser que eles tenham condições de amortizar a dívida. O imóvel de dois quartos foi comprado por R$ 120 mil, e hoje é avaliado em R$ 200 mil em razão do aquecimento do mercado local.
;Poderíamos ter escolhido uma prestação maior e dez anos a menos no prazo do financiamento, mas optamos por qualidade de vida. Precisamos de carro, que também estamos comprando a prestações, e queremos que sobre uma margem de endividamento para viajar, ter o nosso lazer e poder dar um irmãozinho à Mariana;, diz Leonardo, referindo-se à filha de 10 meses de idade. De acordo com ele, apenas 30% da renda familiar está comprometida com as prestações da casa e do veículo.
1 - Estudo
A projeção anual de consumo realizada pela consultoria paulista IPC Marketing é toda baseada em dados secundários, a maioria deles originária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para a IPC Maps 2010, por exemplo, foram usadas informações dos últimos censos demográficos e as estimativas populacionais mais recentes do IBGE. A fonte de mais peso para os cálculos foi a última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) da entidade, divulgada em julho último.
2 - Estímulo
O Minha Casa, Minha Vida foi lançado em 2009 no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O incentivo à construção civil teve dois objetivos: dar fôlego ao setor durante a crise econômica de 2008 e 2009 e servir de vitrine à candidatura de Dilma Rousseff, que concorre à Presidência da República pelo PT. Na primeira etapa do programa, a União destinou R$ 16 bilhões à cadeia produtiva e R$ 1 bilhão para crédito aos consumidores. Para a segunda etapa, lançada este ano, estão previstos R$ 71,7 bilhões para a construção de 2 milhões de casas em quatro anos.