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Crise do trigo chega ao DF e deixa o pãozinho mais caro

A maioria das padarias reajusta o preço do produto em até 13%, o dobro do que foi previsto. Hoje, o quilo varia de R$ 4,90 a R$ 9

postado em 14/09/2010 07:59
As padarias do Distrito Federal começaram a reajustar o preço do pão francês, como reflexo da escassez de trigo no mercado mundial. O Sindicato das Indústrias de Alimentação de Brasília (Siab) estima que, nas últimas duas semanas, o produto tenha ficado mais caro em mais da metade das 1,1 mil panificadoras. Em algumas, a alta chega a quase 13%, o dobro dos 6,5% previstos pela Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip). Muitos empresários do setor, no entanto, têm evitado ao máximo mexer na tabela, com medo de perder clientes. No DF, o quilo (1)do pãozinho varia entre R$ 4,9 e R$ 9 ; diferença de 83% ;, a depender da localidade.

A farinha de trigo representa, em média, 40% do custo do pão. Desde junho, o preço do cereal não para de subir. Em grande parte, por conta da seca e da forte onda de calor que quebraram 25% da safra na Rússia, um dos principais países produtores. ;O mercado dá sinais de estabilidade, mas o valor subiu muito;, diz o presidente do Siab, José Joffre Nascimento. ;A gente vinha segurando há um tempo. Chegou uma hora em que não teve mais jeito;, completa José Bonifácio da Silva, gerente de uma padaria na 111 Sul, onde o quilo do pão saltou, ontem, de R$ 7 para R$ 7,8. ;Um saco de 50kg de farinha pulou de R$ 40 para R$ 65;, justifica Silva, que vende cerca de 2,8 mil pães por dia.

A crise do trigo é considerada por representantes do setor de panificação a mais grave dos últimos 20 anos. Para piorar, o abastecimento do mercado brasileiro está comprometido desde o ano passado, quando a Argentina, de onde o Brasil importa 95% do cereal que consome, restringiu a exportação do produto para segurar a inflação. Há uma semana, João Pedro Bordalo, proprietário de uma panificadora na 108 Sul, aumentou o preço do quilo do pãozinho em 12,8% ; de R$ 7,50 para R$ 8,30. ;Ninguém gosta de aumento. Para mim, também não é interessante. Eu quero vender. Mas fico nas mãos dos atacadistas;, comenta ele, sem destacar a possibilidade de novo reajuste nas próximas semanas.

Repasse
As empresas de panificação do DF movimentam R$ 1,2 bilhão por ano. Cerca de três milhões de pães são comercializados diariamente. Por ser um item quase obrigatório na mesa do brasileiro, qualquer oscilação positiva, por menor que seja, costuma ser sentida pelo consumidor. O empresário João Felipe Medeiros, 45 anos, compra pelo menos quatro pães todos os dias. ;Essa história de escassez é conversa pra boi dormir. Eles aumentam é pelo lucro mesmo. São centavos, mas fazem a diferença no fim do mês. Imagina quem ganha um salário mínimo;, comenta Medeiros. Os donos de padaria garantem que, quando o preço do cereal cair, o repasse da queda aos clientes será imediato.

Em julho, após uma negociação que se arrastou por oito meses, o governo do DF acatou um pedido do setor de panificação e reduziu de 12% para 7% a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) do pão francês. Não houve alteração, porém, no preço final do produto. ;Não dá para entender. Vou ficar de olho para ver se eles vão baixar mesmo quando o trigo voltar ao normal;, alerta a administradora Rênia Lima, 47 anos. ;A gente pode até não sentir tanto na hora de pagar. Mas se colocar no papel, um aumento desses pesa e muito no bolso;, acrescenta a aposentada Maria Verônica Ribeiro, 54 anos, que compra seis pães por dia.


1 - Mudança
Desde 2006, o pãozinho é vendido no Brasil a quilo, e não pelo preço unitário. A Portaria n; 146, do Instituto Nacional de Metrologia Legal, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), entrou em vigor em outubro daquele ano. A venda dessa maneira impede que pães de tamanhos diferentes sejam vendidos pelo mesmo preço. A regra tem abrangência nacional e nenhuma legislação estadual, municipal ou distrital pode contrariá-la. Quem desobedece a norma está sujeito a multa de R$ 100 a R$ 50 mil.

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