Adriana Bernardes
postado em 17/09/2010 08:08
Em apenas dois dias, 12 pessoas formalizaram denúncia na Polícia Civil do Distrito Federal contra a JRD Produções Artísticas e Culturais, dona da licença para uso da marca Carnafacul. O grupo alega que tiveram prejuízo ao investir ou prestar serviço para a empresa que promovia a festa para um público estimado em 10 mil pessoas. A Carnafacul Brasília ocorreria pela primeira vez na cidade neste domingo, no Autódromo Internacional Nelson Piquet, mas acabou cancelada pelos donos da marca, a Marcello Borgerth Produções e Eventos S/S Ltda. No site De Boa BSB, eles dizem apenas que houve descumprimento do contrato por parte da licenciada.Como a investigação está em fase inicial, a polícia apura se houve crime ou simples quebra de contrato. Também não fala em valores do prejuízo que os brasilienses alegam ter tido. O Correio apurou que passa dos R$ 300 mil, com base no relato de quatro dos cinco que prestam queixa na polícia. Na tarde de ontem, em menos de duas horas pelo menos cinco pessoas estiveram na 5; Delegacia de Polícia, na área central de Brasília, para registrar o boletim de ocorrência.
Eram comissários e coordenadores universitários encarregados de vender os ingressos e fazer a mobilização das faculdades. A preocupação comum do grupo é em reaver o dinheiro repassado para a JDR e devolver os valores para quem pagou pelos ingressos. O estudante Rafael Azevedo, 24 anos, estava entre os coordenadores universitários, cuja tarefa era conseguir comissários de vendas. Segundo ele, a JDR cooptou pelo menos 30 pessoas com a mesma função que, por sua vez, credenciaram 10 comissários cada um, todos vendendo ingressos. ;Repassei cerca de R$ 3 mil diretamente para a Andria (pessoa que se apresentava como responsável pela JRD). Esse valor se refere à venda do primeiro lote de ingressos. Por sorte, ainda estou com o dinheiro do segundo lote e já comecei a devolução;, contou.
O cancelamento da festa frustou a estudante de turismo Adeline de Souza, 27 anos, e as amigas dela. Ela pagou R$ 40 pelo ingresso e foi à delegacia para saber o que fazer. ;Quero meu dinheiro de volta. Mas aqui explicaram que eu tenho que procurar a pessoa que me vendeu o bilhete ou procurar o juizado de pequenas causas. Não tenho muita esperança;, lamentou.
A investigação está em fase preliminar e o campo do boletim de ocorrência onde é especificado o tipo de crime está em aberto. O delegado-chefe da 5; DP, Laércio Rossetto, afirmou que ainda é cedo para falar em estelionato. ;Estamos ouvindo as pessoas para saber em que circunstâncias os contratos foram celebrados, quem produzia o evento e por que foi cancelado. É preciso deixar claro se houve quebra de contrato ou se alguém quis obter vantagem econômica de forma ilícita;, detalhou.
Baseado no que já ouviu das pessoas que se declaram vítimas da JRD, o delegado diz que existe a possibilidade de ter havido a prática de pelo menos seis crimes. Entre eles, apropriação indébita e estelionato (leia quadro). Para ele, no entanto, o momento exige cautela. Outras pessoas serão ouvidas e ele espera que os responsáveis pela JRD compareçam à delegacia para esclarecer os fatos.
Silêncio
A jornalista Marcela Soares Rocha disse ter cerca de R$ 42 mil para receber da JRD, entre salário e cheques que ela assinou para pagar fornecedores. ;Ela (Andria) dizia que estava esperando o pagamento de um patrocinador. Enquanto meu limite do cheque especial cobria, eu deixei. Mas quando a reserva acabou, sustei os cheques que ainda faltam cair;, relatou. Um produtor que pediu para ter o nome preservado revelou investimentos de cerca de R$ 100 mil no evento.
O Correio fez novo contato com a Marcello Borgerth Produções e Eventos S/S Ltda. A pessoa que atendeu a ligação pediu que as perguntas fossem enviadas por e-mail para uma pessoa de nome Amanda, apresentada como assessora. Até o fechamento desta edição, ela não havia respondido à mensagem eletrônica. Andria, a mulher que, segundo as vítimas, seria a responsável pela JRD, também não atendeu as ligações da reportagem.
Enquanto isso, quem trabalhou para a realização do evento preocupa-se em como resolver o problema. Porém todos com quem o Correio conversou alegaram que os recursos arrecadados com o primeiro lote dos tíquetes já foram entregues diretamente para Andria ou para a pessoa contratada por ela para tomar conta da parte financeira do evento. Essa pessoa também seria mais uma vítima. ;Já repassei R$ 1,5 mil referentes ao primeiro lote dos ingressos. Tenho cerca de R$ 1 mil dos passaportes do segundo lote. Esse dinheiro vou devolver para quem comprou. Já a primeira parte eu não tenho como ressarcir;, explicou.
O número
R$ 300 mil
Estimativa de prejuízo de quem se sentiu prejudicado com o cancelamento da festa
Em apuração
A polícia desconfia que podem ter ocorrido pelo menos seis crimes no caso da Carnafacul. Confira:
Crime - Pena prevista de reclusão
Apropriação indébita - 1 a 5 anos
Estelionato - 1 a 5 anos
Falsidade ideológica - 1 a 5 anos
Falsa identidade - 3 meses a 1 ano
Fraude no comércio - 6 meses a 2 anos
Uso de documento falso - 2 a 6 anos