Cidades

Dois morrem e cinco ficam feridos em incêndio dentro de casa em Ceilândia

Max e Alex Ribeiro fizeram questão de ficar dentro da casa em chamas, em Ceilândia Norte, e se certificar de que os outros cinco integrantes da família estavam em segurança, fora da residência. Não resistiram aos ferimentos

postado em 17/09/2010 10:38
Um incêndio provocou a morte de dois jovens e deixou cinco feridos, todos da mesma família, na madrugada de ontem, numa casa situada no Módulo 21 do Condomínio Privê, em Ceilândia Norte. O fogo, que começou por volta das 2h30, destruiu todos os 10 cômodos da residência de dois andares. Dos sete moradores, os irmãos Max e Alex Ribeiro de Souza, 19 e 21 anos, respectivamente, não conseguiram se salvar. Segundo familiares, eles tiveram a oportunidade de sair da casa em chamas, mas ficaram para se certificar de que todos estavam em segurança. Conseguiram cumprir a missão, mas pagaram com a vida.

Alex chegou a ser socorrido pelo Corpo de Bombeiros. Ele estava desacordado, na sala, mas morreu a caminho do Hospital Regional de Ceilândia (HRC), vítima de intoxicação causada pela inalação de fumaça. Max já foi encontrado sem vida, na escada que liga a sala aos quartos. Entre os feridos estão a mãe dos rapazes, Maria Conceição Ribeiro, 57, as primas Silvana Figueredo, 20 e Cleide Rodrigues da Mata, 26, além dos irmãos mais novos Selene e Robson Ribeiro de Sousa, 11 e 14 anos. Todos foram internados com queimaduras. Até o fechamento desta edição, Silvana e Selene permaneciam num hospital particular. Maria Conceição recebeu alta, mas teve de ser internada novamente ao saber da morte dos filhos.

O Correio conversou com Robson logo depois que ele recebeu alta. O garoto, ainda abalado com a perda dos irmãos mais velhos, contou o drama que viveu. ;Eu ia dormir no sofá porque minha prima estava em casa. O Nego (Alex) me chamou para dormir com ele. De repente, acordei assustado com minha irmã gritando. Acordei o Nego e saímos correndo pela casa no meio da fumaça. Fomos ao quarto do Max e só vimos a cama bagunçada;, relatou Robson.

Para o garoto e seu irmão, a ausência de Max da cama significou um alívio. ;Achamos que ele já estava do lado de fora. O Nego me ajudou a passar por uma janela bem pequena e voltou para procurar a Selena. Nós já estávamos muito machucados do fogo, mesmo assim ele quis salvá-la, mas ela já tinha sido retirada pelos vizinhos. Fiquei do lado de fora ouvindo meu irmão gritar por socorro. Foi horrível;, lembrou o estudante.

Os gritos de desespero acordaram a vizinhança. O auxiliar de escritório Ernaldo Moura, 35 anos, foi o primeiro a prestar socorro. Ele tentou minimizar as labaredas jogando água com a mangueira de sua residência. ;Levantei assustado com os gritos. Achei que era briga. Quando vi o fogo consumindo a casa, comecei a jogar água. Meu vizinho pegou um balde e também ajudou. Conseguimos entrar no quintal e tirar pela janela o Robson, a Silvana e a Selene. A Cleide e a Dona Maria conseguiram sair antes;, contou.

O corpo de Max só foi removido da casa na manhã de ontem. O jovem cursava o 3; semestre de matemática na Universidade Católica de Brasília (UCB) e sonhava em ser engenheiro. Já Alex trabalhava como vendedor em uma loja de móveis, na Asa Norte, e ingressaria na faculdade no próximo ano. O enterro dos dois rapazes deve ocorrer hoje pela manhã, no Cemitério Campo da Esperança.

O Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil fizeram perícia na casa. As causas do acidente só devem ser conhecidas em 15 dias, quando as duas corporações possivelmente divulgarão os laudos preliminares. O tenente-coronel do Corpo de Bombeiros Luiz Miranda, da Diretoria de Investigação de Incêndio, afirmou que vários fatores podem ter contribuído para a tragédia. ;Pode ter sido provocado por uma vela acesa, um fenômeno termoelétrico, ação pessoal ou outra coisa. Por enquanto, a única certeza que temos é de que o fogo teve origem na sala, pelas marcas de combustão e evidências da destruição causada;, ponderou Luiz Miranda.

O oficial também ressaltou que o socorro só não chegou com mais rapidez porque a rua estava cheia de pedras colocadas pelos próprios moradores com o intuito de fazer com que os carros passem mais devagar pela avenida e não levantem tanta poeira, já que o lugar não é pavimentado. ;Nosso caminhão teve dificuldade para passar por aqui. Poderíamos ter chegado antes e salvado esses jovens. A orientação é não promover essas interferências sem autorização, pois podem prejudicar o resgate;, orientou o coronel.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação