postado em 18/09/2010 08:00
O brasiliense mais brasiliense de todos recebe hoje uma homenagem póstuma por mais de meio século de vida dedicada à cidade. A imagem do médico Ernesto Silva, falecido em fevereiro aos 95 anos de idade, será imortalizada em um busto de bronze, com inauguração marcada para as 10h. O pilar que sustenta o monumento guardará as cinzas do Pioneiro do Antes (veja perfil). O espaço onde permanecerá a lembrança do candango n; 1 fica no Brasília Country Club, nas proximidades do Catetinho, outro reduto da memória da capital da esperança.
Integrantes do clube onde ocorrerá a cerimônia, da Associação dos Candangos Pioneiros de Brasília (1) e do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHGDF) tiveram a iniciativa de homenagear o doutor Ernesto. Os idealizadores do evento esperam a presença de cerca de 400 pessoas, entre pioneiros e autoridades. ;A ideia de fazer o monumento surgiu desde que o nosso grande amigo morreu. Ele fixou residência aqui e morou (na cidade) até morrer. É um cidadão de muita importância;, afirma Jarbas Silva Marques, vice-presidente do IHGDF.Faz mais de sete meses que Brasília perdeu Ernesto. A mulher dele, Sônia Maria Souto Silva, contou que o desejo do médico era ser cremado. O pioneiro só não deixou claro para onde deveriam ser mandados seus restos mortais. Brincava que podiam ficar guardados com Sônia. ;Custei a resolver para onde iriam as cinzas. Não podia ficar com elas. Ele era um homem da cidade e tem de ser entregue a ela;, ressalta. A inauguração do monumento em homenagem a ele representa, para Sônia, um misto de sentimentos. ;É um dia de festa, de recordação, de adeus;, emociona-se.
Café
Ernesto Silva teria completado ontem 96 anos de idade. Sua trajetória permeia, de corpo e alma, a história da construção da capital federal. O busto que representa o médico ilustre vai ficar no lugar onde JK tomou, pela primeira vez, um café no Planalto Central. A bebida foi servida por Zenaide Barbosa dos Santos, então moradora de uma casa na Fazenda Gama, localizada em uma área que hoje corresponde ao Country Club. Agora, Zenaide vive em Taguatinga e a residência centenária virou museu. Tem mobiliário da época e fotos que remontam à memória de Brasília.
A estátua vai imortalizar também os feitos do carioca-brasiliense para a capital. ;O busto representa toda essa contribuição fabulosa que ele proporcionou à cidade. Doutor Ernesto está à frente da implantação e da consolidação de Brasília desde 1956;, observa o diretor-geral da Associação dos Candangos Pioneiros de Brasília, Nilton Soares de Freitas.
Um dos muitos amigos de Ernesto Silva, Saulo Santiago acredita que o médico foi um divisor de águas na história da capital modernista. ;Uma das grandes lutas dele era em defesa do projeto inicial da cidade. Ele reconhecia a importância do crescimento, mas não queria que fossem deixados de lado os aspectos culturais;, exemplifica. Saulo lembra que o doutor enchia o ambiente de alegria: ;Ele estava sempre com uma brincadeira, com um sorriso;.1 - Só os primeiros
A Associação dos Candangos Pioneiros de Brasília foi criada por Ernesto Silva. Nela, só entraram pioneiros que chegaram a Brasília até os primeiros anos posteriores à inauguração. A entidade tem, hoje, mais de 1,5 mil filiados. A sede fica na 916 Sul.
; Perfil
57 anos de Brasília
Coronel da reserva do Exército, Ernesto Silva nasceu em 17 de setembro de 1914 no Rio de Janeiro. Além de médico com especialização em pediatria, tinha formação de bacharelado em ciências e letras. Nos anos 1950, foi ele quem mostrou a Juscelino Kubitschek a possibilidade de transferir a capital para o centro do país em um único mandato, uma vez que os estudos necessários haviam sido concluídos por governantes anteriores. Doutor Ernesto dirigiu a Novacap e foi também responsável pelo planejamento do sistema de saúde pública de Brasília. Era defensor ferrenho do plano urbanístico de Lucio Costa.
A vinda em anos tão remotos ao Planalto Central garantiu a Ernesto o título informal de Pioneiro do Antes. Os créditos do apelido são do coronel Affonso Heliodoro, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHGDF). Orgulhava-se de morar em um apartamento antigo, quase histórico, da 105 Sul. Também tinha um apreço imenso por construções como a Escola Parque da 308 Sul e o Hospital de Base. Dos 95 anos de idade, 57 se passaram em Brasília. O doutor de alma candanga morreu às 13h15 de 3 de fevereiro deste ano, em decorrência de uma disfunção múltipla dos órgãos.