Cidades

Alunos da rede pública refletiram sobre a capital em concurso

Serão mais de mil prêmios

postado em 24/09/2010 07:51
;Estou com um pouco de medo, mas acho que vou me sair bem. Pesquisei e já sei o que escrever na prova;, afirmou Karen Lorranny Oliveira, 11 anos, sentada, a postos, enquanto aguardava o início da segunda edição do Concurso de Produção Textual, promovido pelo Correio por meio do projeto Leio e Escrevo meu Futuro. A expectativa antecedia a entrada às salas. ;Estou muito nervosa, mas me preparei;, disse Júlia Carolina Fernandes, 10 anos, também do 6; ano do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 12 de Taguatinga.

Ao soar do sinal indicando o início da prova, o barulho comum das escolas cessou, dando seu lugar ao silêncio e à concentração. Ao todo, foram 84.597 alunos inscritos, de 188 escolas ; uma adesão de 90,8% dos centros de ensino que fazem parte do projeto ; da rede pública de ensino, para a disputa realizada ontem, em que os participantes precisaram escrever sobre como serão os próximos 50 anos de Brasília. Na lista das recompensas aos vencedores, mais de mil prêmios, como netbooks, videogames, celulares e bolsas de inglês. Professores e gestores concorrem a viagens nacionais e internacionais, entre outros benefícios.

;Trabalhamos com a leitura do jornal e com textos que eles escreviam em casa e traziam para eu corrigir. A expectativa para o resultado é grande;, relatou a professora de português Maria Graziele Diniz. ;O concurso fez com que eles quisessem crescer e tivessem uma melhor visão de futuro;, opinou.

No CEF 2 de Ceilândia, a preparação aconteceu durante as aulas convencionais, com o uso do jornal em sala. O diretor, José Bonifácio Ramos, acredita no bom desempenho dos estudantes. ;Eles são muito inteligentes e capacitados;, disse, orgulhoso. Vitória Carollyna Rodrigues, 11 anos, aluna do 6; ano, saiu animada. ;Foi ótimo. Pude falar o que eu pensava, usando minha própria criatividade para fazer o texto.;

Igor Pedro Santos, também de 11 anos e do 6; ano, saiu mais calado da sala. ;Eu estava muito nervoso, mas acho que fui bem. Fiz um ;montão; de redações antes para treinar;, afirmou o garoto. Já Felipe Cavalcante, estudante de 15 anos do 9; ano, sonha com uma televisão. ;Eu falei que Brasília precisa de reformas nas quadras e nas bibliotecas públicas para tirar os jovens das ruas;, contou.

Vivência
No Centro Educacional Taquara, localizado no Núcleo Rural de Planaltina, todos os alunos do 6; ao 9; ano fizeram a prova do concurso. As professoras de português da escola, responsáveis por preparar os estudantes, usaram várias técnicas para ensiná-los a produzir textos. ;Usamos documentários que mostravam exemplos de cartas escritas, jornais, colagem de notícias e orientamos de acordo com os temas mais importantes;, conta Aline Cristina de Carvalho, professora de línguas dos 8; e 9; anos.

A maioria dos meninos escolheu o subtema(1) que tratava de violência. Para eles, é o assunto mais fácil de descrever por conviverem com o problema de perto. ;É bem mais fácil falar de algo que a gente entende, que vê exemplos todo dia nos jornais;, conta Jéssica do Nascimento, 13 anos, que cursa o 8; ano.

Para se diferenciar dos demais, João Caixeta Neto, 13 anos, 8; ano, discursou sobre a saúde pública na capital federal. ;Acho que é o maior problema que a cidade passa hoje em dia. Isso precisa ser melhorado. Foi mais ou menos fácil falar sobre essa questão, mas eu gosto de escrever;, diz o jovem.

Seleção
Em cada turno (matutino e vespertino), 1.043 salas foram preparadas para atender à demanda da avaliação, aplicada por mais de 3 mil profissionais do Instituto Quadrix de Tecnologia e Responsabilidade Social, entre supervisores, chefes de sala, fiscais de corredor e reservas. O procedimento adotado foi semelhante ao de um concurso público tradicional. Além de desligar os celulares, os participantes tiverem de obedecer uma série de regras, como realizar a prova na sala determinada, alocados por ordem alfabética.

;A ideia é fazer a simulação de um concurso público para que a meninada vá se inteirando de como é um processo de seleção;, explicou o presidente do Quadrix, Edison Tadeu de Andrade. Outro cuidado tomado foi o de garantir o atendimento dos portadores de necessidades especiais por meio do fornecimento de recursos, como prova ampliada, ledor e intérprete de libras.

Uma das beneficiadas com essa medida foi Larissa Nakabayashi. A garota de 12 anos, aluna do 6; ano do CEF 2 de Ceilândia, é portadora de maculopatia ; um problema de visão ; e recebeu uma prova ampliada para que pudesse participar do Concurso. ;Ajudou muito. Se não fosse isso, eu não saberia o que era para fazer;, contou. Apesar de ter ficado muito nervosa, Larissa torce para conseguir um bom resultado. ;Escrevi sobre o meio ambiente. Acho que, se agora já está muito poluído, em 2060 vai ficar sujo demais se as pessoas não cooperarem;, apontou.

Os resultados saem em 8 de novembro, e a cerimônia de premiação acontece no dia 25 do mesmo mês. O Leio e Escrevo meu Futuro é apoiado pelo Curso de Matemática Professor Fabão, pela Wizard, pelo NuWa Spa, pela CVC e pelas Casas Bahia.

1 - Cinco opções
Os participantes puderam escolher entre cinco subtemas, sendo que, em todos os casos, deveriam refletir sobre o futuro da capital. Foram eles: estrutura física e social de Brasília, conservação do patrimônio urbanístico; meio ambiente, sustentabilidade e qualidade de vida; juventude, lazer e educação; violência urbana e a segurança pública; saúde pública x dignidade humana.

O número
84.597

Quantidade de alunos inscritos no Concurso de Produção Textual deste ano ; um crescimento de 36,9% em relação ao ano passado


Quatro perguntas para Luciano Barbosa Ferreira, gerente de ensino fundamental da Secretaria de Educação do GDF

Quais são as expectativas para o concurso deste ano?
São as melhores possíveis, considerando o número de inscrições que atingimos, em relação ao do ano passado. As escolas se prepararam muito bem, utilizando o jornal como instrumento pedagógico. Por isso, acho que teremos um aproveitamento muito bom.

Como você vê essa maior adesão que a prova registrou?
Imagino que é pela maturidade do projeto, em seu segundo ano. Ele já não era mais surpresa, então foi possível a realização de um trabalho melhor com as crianças e os jovens da rede. Atribuo também ao trabalho dos professores e ao esforço conjunto para que tudo desse certo.

Que tipo de relatos a secretaria tem recebido em relação ao projeto Leio e Escrevo meu Futuro?
A gente percebe que tem surtido muito efeito. Nos estudos de campo, em que os alunos podem visitar os Diários Associados, é possível ver o entusiasmo deles e dos professores. Na utilização do jornal nas escolas, os estudantes fazem murais e utilizam as páginas como notícia para todo o centro de ensino. Outras escolas, com turmas do ensino médio e dos anos iniciais do ensino fundamental, também demonstram interesse em participar do projeto. Isso mostra que tem sido bem-sucedido.

Qual a importância do projeto dentro do atual cenário da educação em Brasília?
É a presença do jornal como instrumento pedagógico todos os dias na escola à disposição dos professores e dos alunos. Trata-se de um instrumento muito rico. Além disso, um grupo de alunos recebe o jornal em casa no fim de semana, contribuindo para o desenvolvimento do hábito de leitura em família e colocando todos em contato com o instrumento que o estudante usa para sua formação escolar.


Eu fiz...


;Foi fácil, bem simples. Escrevi que daqui a 50 anos vai estar tudo bem melhor, principalmente a situação precária da renda de quem trabalha muito e ganha pouco. Acho que me saí muito bem.;
Eduardo Paulino, 16 anos, 9; ano

;Nós vemos muitos crimes acontecerem e a destruição do meio ambiente. Isso é ruim. Mas gostei de participar do concurso e estudei fazendo redações em casa e na escola.;
Kelly Cristina dos Santos Soares, 12 anos, 7; ano

;Brasília vai ficar melhor daqui a 50 anos. As pessoas vão se preocupar mais com a saúde, com a educação. Pelo menos é o que eu espero.;
Lucas Xavier, 14 anos, 8; ano

;Nossa cidade está sem segurança. Os ladrões não são presos e quando vão para a cadeia, ficam pouco tempo. Daqui a 50 anos vai ser um desastre. Se hoje a gente tem que tomar cuidado para sair, em 2060 é que não poderemos sair de casa.;
Milleny Brizamara, 11 anos, 6; ano

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