postado em 24/09/2010 19:42
"Gente como a gente". Com esse nome aconteceu nesta se um evento comemorando a Semana da Pessoa com Deficiência, na área externa do shopping Pátio Brasil. Durante todo o dia foram apresentadas músicas, dança e uma feira de artesanato, tudo feito por pessoas com algum tipo de deficiência. Participaram alunos dos Centros de Educação Especial 1 e 2, ambos localizados na Asa Sul, além de membros da Associação Brasileira de Deficientes Visuais (ABDV) e outros artistas, além de pais de pessoas com necessidades especiais."Qualquer tipo de preconceito é prejudicial em nossa sociedade", afirma Gisele Santoro, da Associação Cultural Cláudio Santoro, que, junto com a Administração de Brasília, organizou o evento. O principal objetivo das comemorações é a integração das pessoas com necessidades especiais na sociedade. "A gente quer chamar a atenção das pessoas e mostrar que todos são iguais. Afinal, até as pessoas ditas ;normais; têm a sua deficiência oculta", diz Gisele.
Entre os grupos que se apresentaram no evento estava o Asas para Dançar, formado por meninas com algum tipo de deficiência motora ou mental. A professora Dayse Ribeiro afirma que a dança ajuda a elevar a auto-estima, além de facilitar os movimentos e a coordenação motora das alunas. "Somos uma grande família. A dança espanta as tristezas e acolhe as alegrias", ela diz. Além do público que visitava o shopping, quem também assistiu à dança foram os alunos dos Centros de Educação Especial 1 e 2. Além de espectadores, eles também apresentaram em uma barraca as peças de artesanato feito com material reutilizado. No CEE 1, os estudantes produzem agendas, blocos, cartões e convites com papel reciclado. "Eles participam de todo o processo, da seleção do papel à fabricação do material. Com isso, eles sentem que sabem algo, que são capazes de realizar um trabalho como qualquer outra pessoa", diz a professora do CEE1, Elizabeth de Oliveira Bastos.
Trabalho e superação
Geciane Rodrigues Barros sofria desde pequena de uma doença degenerativa que faria com que ela perdesse a visão aos poucos. Aos 19 anos, ela parou de enxergar. Inicialmente, a cegueira fez com que ela entrasse em depressão. Aos poucos se recuperou, principalmente depois que aprendeu massoterapia. Hoje ela é profissional da área, trabalhando em eventos e realizando consultas particulares. "O trabalho me deu independência e faz com que eu trabalhe a sensibilidade que a falta de visão traz. Gosto muito do que faço. As massagens são uma terapia para mim", conta Geciane, hoje com 24 anos.
"O trabalho ajuda os deficientes visuais a se socializar. É importante que eles mantenham um contato constante com outras pessoas, até para não entrarem em depressão", explica Justino Bastos, presidente da Associação Brasiliense dos Deficientes Visuais (ABDV). Mas muitas vezes não é fácil encontrar um emprego. Todas as empresas possuem uma cota para admissão de pessoas com algum tipo de deficiência, mas muitas vezes escolhem apenas pessoas com problemas leves. "Para cumprir as cotas, as empresas preferem contratar deficientes visuais leves ou pessoas com algum tipo de deficiência física pequena", diz Bastos. "Por isso mesmo os deficientes preferem concorrer a concursos públicos, em que a vaga é mais certa", afirma.
A dificuldade em conseguir emprego não desanima Ieda Hebe de Almeida, 56 anos. Cega de nascença, ela aprendeu sozinha a costurar e agora faz bolsas de lã para vender com apoio da ABDV. "As pessoas pensam que o deficiente fica só na cama. Nós mostramos que somos capazes de fazer o mesmo que todos", enfatiza. O mesmo exemplo é dado pelos artesãos Sílvio Tomás de Macedo, 25 anos e José Alves Neto, 41, que produzem vassouras com garrafas pet. "Recolhemos as garrafas, cortamos e produzimos as vassouras. Além de nos mantermos ativos, ainda ajudamos o meio ambiente", diz José. Já Silvio acha importante eventos como o desta sexta-feira para divulgar o trabalho deles e incentivar que outros deficientes também trabalhem. "É uma multiplicação. As pessoas vêem, indicam e chamam outros deficientes. Somos uma família", descreve.