postado em 26/09/2010 08:47
As mulheres do Distrito Federal estão optando por engravidar mais tarde ; entre os 25 e os 29 anos ; do que o segmento feminino no restante do país, em que a maior parte prefere ter filhos entre os 20 e os 24 anos. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são apresentados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009. De acordo com os números, um total de 28,16% das crianças que nasceram no DF no último ano são filhos de mulheres na faixa etária dos 25 aos 29 anos. Nacionalmente, são 25,78%, contra 27,88% que têm como geradoras mães entre 20 e 24 anos.A unidade da Federação também aparece à frente de todos os estados brasileiros quando o tema são mulheres grávidas acima dos 25 anos. Ao todo, 66,68% das crianças nascidas na capital tem mães nessa faixa etária. Em segundo lugar aparece Santa Catarina, com 66,66%, e em terceiro, São Paulo, com 66,16%. ;Em Brasília, encontramos uma classe média mais escolarizada, o que influencia a tendência de retardar o nascimento dos filhos para depois dos 30 anos. A proporção de renda mais alta da população, bem como a existência de uma cidade mais urbanizada, também contribuem nesse sentido;, considera a professora do departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB) Lia Zanotta Machado.
A arquiteta Rafaela Veras, 28 anos, é uma das mulheres residentes em Brasília que ilustra esses números. Grávida de 8 meses, ela espera com ansiedade o primeiro filho, que foi planejado, após três anos de casamento. ;Já havíamos namorado 10 anos, mas mesmo assim resolvemos aproveitar um pouco o tempo de casados só nós dois. Acredito que ter esperado para engravidar me proporcionou uma tranquilidade maior para curtir esse momento;, considera a futura mamãe. Entre os quesitos que pesaram na hora de Rafaela decidir planejar uma gravidez para depois dos 25 anos, está a estabilidade profissional. ;Se eu pudesse fazer tudo de novo, aconteceria da mesma forma. Hoje eu não tenho medo e ainda posso me programar para, daqui a um ano, por exemplo, ter um segundo filho;, avalia ela, que aguarda ansiosamente a chegada de Mateus.
Um pouco mais adiantada, a publicitária Priscilla Vila Real, 27 anos, por sua vez, acredita que poderia ter engravidado antes. Ela é mãe de Ian Manacara, de apenas três meses de idade. ;Se eu pudesse, teria tido meu filho antes. O frescor da juventude ajuda muito a ter a energia suficiente para encarar essa maratona que é ser mãe;, considera. Mesmo tendo engravidado sem planejamento, ela avalia ter passado de forma segura pelo período da gravidez. ;Descobri que a mulher já nasce preparada para ser mãe. Eu sempre fiz tudo sozinha, mesmo tendo a quem recorrer. Pretendo ter mais um filho no período de um ano;, revela.
A opinião é compartilhada pela produtora Joana Praia. Segundo ela, os 28 anos são uma idade de crise maternal para as mulheres. ;Foi justamente quando eu engravidei. Sempre falava que não queria filhos, mas resolvi parar de tomar pílula e, no segundo mês, deu certo;, conta. Hoje, com 35 anos, ela é mãe de Helena, que está com 7. ;Dizem que essa demora para engravidar faz parte da cultura da mulher moderna, o que na verdade eu acho um erro. Gostaria de ter tido a minha filha mais nova. O ideal, que eu considero hoje, era com 25 anos já estar com três filhos. Ser mãe é um instinto. Você pode ser uma boa mãe aos 21 ou uma péssima aos 30. Quando você tem um filho, muita coisa na sua vida se encaminha, não é preciso planejar tanto;, considera.
Para a psicóloga e professora da Universidade Católica de Brasília (UCB) Alessandra Arrais, a mulher brasiliense de classe média tem priorizado a carreira e os estudos, em busca da estabilidade financeira, antes de constituir uma família com filhos. ;Brasília ainda tem o particular de ter muitos concursos. A mulher priorizar a carreira é uma tendência principalmente nos países desenvolvidos;, avalia. Mesmo assim, a psicóloga destaca que, apesar da ampla difusão de métodos anticonceptivos, a maioria das mulheres ainda engravida sem planejar previamente. ;As que têm a oportunidade de realmente se programar certamente levarão em conta a estabilidade financeira e conjugal;, considera a psicóloga, lembrando que nas camadas mais baixas da população o comportamento não ocorre da mesma forma.
Outro dado interessante é que, até 2008, o DF não apresentava nenhum registro de gravidez em mulheres com mais de 45 anos, o que mudou em 2009. Um total de 1,15% das crianças que nasceram na unidade da federação no último ano têm como genitoras mulheres dessa idade. No Brasil, esse número é de 0,5%. ;Homens e mulheres estão dividindo a chefia da família e isso está influenciando diretamente o comportamento da população;, conclui a antropóloga Lia Zanotta.
Educação e gravidez
Segundo a Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2010 ; que busca fazer uma análise das condições de vida no país, tendo como principal fonte de informações a Pnad 2009 ;, mulheres com mais instrução são mães um pouco mais tarde, com 27,8 anos, frente a 25,2 anos para as com até 7 anos de estudo. Elas também evitam mais a gravidez na adolescência: entre as mulheres com menos de 7 anos de estudo, o grupo etário de 15 a 19 anos concentra 20,3% das mães, enquanto entre as mulheres com 8 anos ou mais anos de estudo, a mesma faixa etária responde por 13,3% da fecundidade.
O número
66,68%
das crianças nascidas na capital têm como mães mulheres maiores de 25 anos
Perfil das mães
Número percentual de filhos nascidos vivos, no período de referência de 12 meses (2009), para mulheres a partir de 15 anos
Faixa etária Brasil DF
15 a 17 anos 6,28 4,6
18 e 19 anos 8,77 5,75
20 a 24 anos 27,88 22,99
25 a 29 anos 25,78 28,16
30 a 34 anos 17,88 20,70
35 a 39 anos 9,98 12,07
40 a 44 anos 2,93 4,6
45 a 49 anos 0,48 1,15
50 a 54 anos 0,02 ;
Fonte: IBGE
Ranking do percentual de crianças
nascidas vivas de mulheres com mais de 25 anos, no período de 12 meses,
em cada um dos estados brasileiros
Distrito Federal 66, 68
Santa Catarina 66,66
São Paulo 66,16
Rio Grande do Sul 64,65
Rio de Janeiro 63,34
Paraná 61,24
Minas Gerais 60,86
Amapá 57,82
Ceará 57,12
Paraíba 56,84
Espírito Santo 55,25
Mato Grosso 54,47
Rio Grande do Norte 53,39
Bahia 52,59
Goiás 52,25
Tocantins 52,37
Rondônia 51,11
Acre 51,51
Pernambuco 50,87
Mato Grosso do Sul 50,45
Piauí 49,99
Roraima 47,32
Alagoas 46,8
Amazonas 45
Sergipe 43,54
Pará 41,51
Maranhão 38,36
Fonte: IBGE