Cidades

Bactéria isola 11 pacientes, mas morte de paciente não estaria relacionada

Diretor do Hospital de Base diz tratar-se de um surto da KPC no DF, mas descarta que a morte de um homem, há dois dias, tenha relação com a infecção

postado em 30/09/2010 07:28
A direção do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) confirmou 11 casos de pacientes infectados pela bactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC). Eles estão isolados em quatro alas da unidade e recebem atenção especial de uma equipe de saúde para evitar o contágio. Até então, os pacientes ocupavam o mesmo bloco, e estavam espalhados pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e pela neurocirurgia, localizadas no 3; e no 4; andar, respectivamente. O primeiro caso de contaminação foi em janeiro deste ano, mas não se sabe como a bactéria chegou à capital federal. O diretor do Hospital de Base, Luiz Carlos Schimin, disse tratar-se de um surto de KPC no DF, entretanto, descartou as supostas mortes causadas pela bactéria. Segundo ele, um paciente que morreu há dois dias era portador da bactéria, mas ela não foi determinante para o óbito. ;Ele tinha um tumor, trombose venosa e passou por cirurgia. Ele teve uma parada cardiorespiratória e morreu em decorrência de uma embolia pulmonar;, explicou. Dos 11 infectados, dois estão em estado grave.

O surgimento da bactéria tem sido motivo de preocupação em todo o mundo em razão do alto poder de disseminação e resistência a antibióticos. Ou seja, esses seres vivos são capazes de transformar várias drogas existentes em ineficazes. ;Essa é a era pós-antibiótico;, classificou Schimin. No Hospital de Base, os médicos começaram a ampliar a coleta de amostragens para detectar a bactéria no corpo dos pacientes há cerca de dois meses. De acordo com o diretor, os médicos, enfermeiros e visitantes estão atentos e foram orientados a reforçar a higiene para evitar a transmissão por contato.

Quem tem algum parente internado na UTI ou na neurocirurgia está aflito com a situação. É o caso de uma mulher, entrevistada pela reportagem, mas que preferiu não ter o nome divulgado. O pai dela teve um aneurisma cerebral e precisou passar por cirurgia. ;Um paciente que estava perto dele foi isolado anteontem. Cada dia eles isolam uma pessoa. Quero transferir meu pai para outro hospital porque alguns enfermeiros nos disseram que o risco dessa bactéria está iminente;, disse a mulher. ;Tanto a rede pública quanto a privada estão capacitadas para tentar conter as bactérias. Não há motivo para pânico algum. Estamos tomando todas as medidas recomendadas para evitar a disseminação disso;, garantiu Schimin.

Sob controle
A secretária de Saúde, Fabíola de Aguiar Nunes, informou que o problema no DF está sob controle. Uma equipe de profissionais da secretaria estaria visitando os hospitais da rede pública para identificar se há riscos de infecção dentro das unidades. Para ela, o problema é inerente à assistência médica, uma vez que existe bactéria em todo o corpo humano. ;A assistência médica está cada vez mais complexa e armada. Se usa muitos instrumentos invasivos no ser humano. Nosso corpo é colonizado de bactéria do dedo do pé até o cabelo. Por mais que se lave, nós sempre teremos bactérias. É impossível acabar com elas;, disse. Em relação à Klebsiella pneumoniae, ela diz que todos os profissionais de saúde estão vigilantes. ;Estamos agindo preventivamente, mantendo o ambiente limpo e usando o antibiótico certo, para que ele realmente ataque a bactéria e resolva o problema;, explicou. A secretária disse ainda que muitas bactérias têm se tornado resistentes a antibióticos e passado essa resistência para outras, o que já vem sendo alertado por especialistas na área.

Segundo o infectologista Julival Ribeiro, coordenador do Núcleo de Infecção do HBDF, à medida que a bactéria sofre mutações, o temor é que não existam novas formas de combatê-las. ;Temos cada vez menos opções terapêuticas para tratá-la, mas não há motivo para pânico;, disse. No Hospital de Base, três antimicrobianos fabricados em 1950 estão sendo eficazes no tratamento dos pacientes. ;O medo nosso é que essa bactéria saia do ambiente hospitalar e acabe indo para a comunidade por causa do seu grande poder de contaminação;, disse Luiz Carlos Schimin.

Uma das formas de transmissão seria por meio das fezes e outra pelo contato com a saliva de infectados. A KPC é uma das causadoras da pneumonia, mas sobretudo pode gerar infecção gastrointestinal e no trato urinário. Pacientes com imunidade baixa e estado de saúde já debilitado por algum tipo de doença estão mais sujeitos a desenvolver infecções que podem levar À morte.

Para evitar a disseminação da KPC, Luiz Carlos Schimin orienta que as pessoas reforcem a higiene. ;Uma medida simples, barata e eficaz de acabar com a bactéria é lavar as mãos e higienizar com álcool 70%;, avisou.

Diretor do Hospital de Base diz tratar-se de um surto da KPC no DF, mas descarta que a morte de um homem, há dois dias, tenha relação com a infecção

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