postado em 09/10/2010 08:00
Novas denúncias de fraude colocam em xeque a credibilidade da Faculdade da Terra de Brasília (FTB), localizada no Recanto das Emas. Investigada por suspostamente emitir diplomas frios, como noticiou o Correio na última quarta-feira, agora a instituição é acusada de matricular alunos clandestinamente nos seus 10 cursos disponíveis. Desde julho, o Ministério da Educação (MEC) proibiu a entidade de receber novos estudantes. Na época, a Justiça determinou seu fechamento por atraso no pagamento do aluguel do terreno. Mas, por força de um recurso, a FTB continuou funcionando. No entanto, o MEC entendeu que o problema financeiro poderia comprometer o futuro da faculdade e resolveu aplicar a medida .
Porém, mesmo com a decisão, os gestores da FTB continuaram cadastrando interessados em uma graduação. Para burlar a norma do MEC, passaram a matricular alunos no segundo semestre. O suposto esquema chegou ao conhecimento do ministério. A Assessoria de Imprensa do MEC informou que a FTB está sob supervisão e se forem comprovadas as novas denúncias, uma das sanções aplicadas pode ser a mais severa: o descredenciamento e, consequentemente, seu fechamento.
Derrota
Mesmo antes de as investigações chegarem ao fim, a faculdade já sofreu a primeira derrota. Ontem, em assembleia, a instituição teve seu registro de filiação suspenso no Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino Superior do DF (Sindeps/DF). O presidente da entidade, Renato Caiado de Resende, destacou que a punição vai perdurar até que a FTB consiga provar que não tem nenhum envolvimento com as irregularidades. ;O segmento ficou estarrecido com essas informações. Achamos por bem suspender o registro até o fim das investigações, além de solicitar à Polícia Federal, ao MEC e a outras instituições competentes que apurem as irregularidades, caso elas de fato existam.;
Caiado considerou gravíssimas as denúncias: ;O problema não é matricular novos alunos no segundo semestre, pois isso não é irregular. O mais grave é o fato de a instituição afrontar a maior autoridade educacional do país, que é o MEC. Se isso ficar comprovado, a situação da faculdade vai ficar ainda mais complicada.;
Um aluno da FTB ouvido pela reportagem confirmou a prática. ;Já estudo aqui há dois anos, mas um amigo meu que entrou agora disse que entrou no segundo semestre. Eles falaram que depois ele iria concluir as matérias do primeiro semestre, mas não explicaram por que fizeram isso;, contou o estudante, que preferiu não revelar a identidade.
O Correio teve acesso a uma carta enviada por um estudante da FTB ao Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinproep). No texto, o rapaz relata uma movimentação estranha na noite de quarta-feira última na FTB, dia em que as denúncias de emissão de diplomas supostamente falsos tornaram-se públicas. ;Eu e mais alguns colegas vimos quando o diretor acadêmico retirava da faculdade algumas caixas lacradas com o auxílio dos seguranças, em carros distintos. Até então, poderia não ter nada demais nisso, não fosse pelo horário, 22h, e pelo fato de o diretor apresentar preocupação, olhando para os dois lados, como se estivesse tendo o cuidado de observar quem estava próximo;, descreveu o aluno.
Um ex-funcionário revelou que além de matricular alunos no segundo período, os mantenedores ainda adotavam outra prática ilícita: para enxugar a folha salarial, passaram a unificar as turmas, realocando alunos de períodos. Por exemplo: um estudante do quarto semestre, mesmo sem ter concluído todas as etapas, passava para o quinto. Com isso, a quantidade de turmas diminuía consideravelmente, mas o número de alunos permanecia o mesmo. Com a manobra, mais de 50 professores foram demitidos. ;A folha de pagamento dos professores caiu de R$ 300 mil para R$ 150 mil. É um absurdo o que eles fazem com os alunos e com os funcionários;, revoltou-se.
Rapidez
O presidente do Siproep, Rodrigo de Paula, formalizou a nova denúncia no MEC e também solicitou agilidade na apuração dos fatos. ;Entendemos que a situação é grave e pode comprometer o estudo dos alunos matriculados naquela instituição. Além do MEC, também vamos à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal para que esses indícios sejam investigados;, disse Rodrigo de Paula.
O processo que investiga as denúncias contra a FTB estava na Promotoria de Defesa do Consumidor, do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), mas o promotor responsável entendeu que o MP federal era a instituição competente para acompanhar o caso.
Memória
Turbulência institucional
A nova denúncia contra a FTB engrossa o histórico de turbulências e problemas na instituição. Na última quarta-feira, o Correio publicou matéria que revelando um suposto esquema de confecção de certificados falsos emitidos pela faculdade. Em julho, a Justiça determinou o fechamento da instituição por falta de pagamento de aluguel nos últimos dois anos. Além disso, os cerca de 130 professores e os mais de 90 funcionários não recebiam os salários há dois meses e a instituição também é acusada de não recolher o INSS e o FGTS dos servidores há pelo menos sete anos. Diante dos problemas da instituição, o Ministério da Educação publicou portaria proibindo o ingresso de novos alunos. A crise fez com que pelo menos 500 pedissem transferência para outras faculdades.