Renato Alves
postado em 09/10/2010 08:00
[FOTO1]Pontualmente às 17h17, a terra tremeu como nunca no Distrito Federal. Aparelhos do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) registraram 4,5 pontos na escala Richter. Foi o mais forte dos 50 anos da capital. Reflexo do terremoto que teve epicentro na região de Mara Rosa (GO), divisa entre Goiás e Tocantins, a cerca de 300km de Brasília. Apesar da distância e da curta duração ; pouco mais de quatro segundos ;, ele balançou móveis e criou pânico em determinados pontos do DF. Alguns moradores chegaram a passar mal. A Defesa Civil mandou esvaziar prédios. Mas não houve grandes danos nem feridos.
Referência no mundo inteiro, o Serviço de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos (USGS) anunciou que o terremoto chegou a 5 pontos, tendo ocorrido numa profundidade de 14,8km, com epicentro 75km ao norte de Uruaçu (GO), 235km ao sul de Gurupis (TO), 255km a norte-noroeste de Brasília e 275km a oeste-sudoeste de Campos Belos (GO). Na mesma região, o USGS e a UnB haviam registrado um tremor de terra de 3,6 pontos na última segunda-feira. Mas os técnicos ainda não sabem precisar se o abalo de ontem é uma réplica do anterior.
Os especialistas da UnB afirmaram que era cedo para determinar uma causa para os tremores de ontem e de segunda-feira, pois seria necessário realizar um estudo aprofundado. Mas adiantaram que a região do epicentro sofre constantes abalos sísmicos porque fica no que chamam de linear brasiliano, uma grande fissura na placa tectônica sob os estados de Goiás e Tocantins. O terremoto pode ter sido provocado pela pressão gerada pela movimentação natural das placas, o que ocasiona novas quebras das placas. ;Estamos em alerta máximo porque pode haver réplica. Acreditamos que, se houver, pode ser menor;, explicou o professor George França, do Observatório Sismológico da UnB.
Os técnicos do observatório sismológico estão em atenção máxima e passaram a noite reunidos para avaliar o abalo. Até ontem, o maior tremor registrado pelo órgão em terras candangas ocorreu em 2000, tendo como epicentro São Sebastião, com magnitude de 3 pontos na escala Richter. O tremor mais forte sentido no Brasil alcançou 6,2 pontos, em 1955, em Porto dos Gaúchos (MT). Em 2007, houve a primeira e única morte decorrente de terremoto no país, em Caraibas (MG). O abalo de 4,9 pontos causou o desabamento de uma casa, onde uma criança morreu.
Alerta nos bombeiros
Logo após o abalo de ontem, alguns ministérios, autarquias e tribunais orientaram a evacuação dos prédios. Seguranças do Palácio do Planalto destravaram as portas de emergência para facilitar a fuga do público. Desorientadas, algumas pessoas entraram em pânico em edifícios públicos e comerciais. Mesmo em residências, moradores da capital sentiram o forte tremor. A professora de inglês Pascale Moitroux, 24 anos, se arrumava para ir à faculdade quando ouviu a mãe gritar da sala. Moradora do Recanto das Emas, ela contou que o sofá da sala chegou a mudar de lugar e os vidros das janelas bateram. ;Saí correndo do quarto quando me gritaram. O guarda-roupas do quarto da minha mãe tremeu também;, contou.
Os telefones da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal não pararam de tocar no fim da tarde de ontem. Em pouco mais de uma hora, os dois órgãos receberam mais de 240 ligações referentes ao tremor. Grande parte dava conta de rachaduras em prédios. Os militares chegaram a enviar equipes à Quadra 2 do Setor de Indústrias de Taguatinga, ao Setor Comercial Sul, ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à Associação Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). No entanto, até o fim da noite, eles não haviam constatado danos que colocassem as edificações em risco.
O Corpo de Bombeiros de Goiás também não havia registrado nenhuma ocorrência de dano material grave provocado pelo tremor de terra. ;Estamos fazendo a triagem das ligações para avaliar a situação;, disse o assessor de comunicação social da corporação, sargento Dênis Silva. Segundo ele, a central de emergência recebeu dezenas de ligações de moradores do norte do estado relatando casos de tremores, mas não houve pedidos de socorro.
O número
17h17
Momento exato do terremoto
O número
4,5 pontos
Intensidade do abalo sísmico registrado pela UnB
17h17
Momento exato do terremoto
O número
4,5 pontos
Intensidade do abalo sísmico registrado pela UnB
Medo no epicentro
Naira Trindade
Helena Mader
Na cidade goiana de Mara Rosa, conhecido destino de mergulhadores brasilienses nos fins de semana, moradores relataram ao Correio o que sentiram no momento em que a terra tremeu. A odontóloga Lígia Facundo revela que atendia um paciente quando percebeu o tremor. ;Pensei que o consultório fosse afundar. Foi horrível. Fomos correndo para fora e vimos os postes e fios balançando. As árvores também tremiam muito. O tremor durou uns 10 segundos. Houve um barulho muito forte, como um trovão. Era um som como se um caminhão muito pesado estivesse passando bem veloz na rua;, descreveu, minutos após o abalo sísmico.
Pelas ruas da cidade, a falta de informação gerava pânico nos moradores. ;É a segunda vez que sentimos os tremores esta semana. Não sabemos ao certo o que aconteceu. Os prédios do centro da cidade são muito antigos, então, quando voltei para dentro do consultório, tive medo de ficar lá. Na cidade, o comentário é geral. As pessoas contam que uma caminhonete se moveu estacionada dentro da garagem, panelas caíram nas cozinhas, móveis quase saíram do lugar;, contou.
A estudante Thiessa Cristina Natalina da Silva, 23 anos, estava em casa, no centro de Mara Rosa, quando sentiu os abalos. Ela se assustou, já que no início da semana havia observado outro tremor. ;Todo mundo saiu correndo de casa, com medo;, relatou. ;Nada ficou destruído na minha casa nem nas dos vizinhos, mas algumas coisas saíram do lugar;, afirmou a estudante. A casa da mãe dela ficou com uma parede rachada. No início da noite, a comunidade estava mais calma e todos voltaram para casa.