Cidades

Cidades do entorno são consideradas de alto risco de incidência da dengue

Renato Alves
postado em 11/10/2010 09:33
A população do Jardim Ingá, por exemplo, deixa o lixo jogado por ruas e quintais. O número de agentes para o combate ao mosquito é insuficienteGoiás enfrenta a pior epidemia de dengue em 10 anos. São quase 100 mil casos registrados de janeiro a setembro último. Mais que o dobro dos 12 meses de 2009. A doença já matou 65 pessoas no estado somente em 2010. Os números continuaram a crescer mesmo no período da seca, que seria desfavorável à proliferação do mosquito transmissor, o Aedes aegypti. Nesse cenário, seis municípios do Entorno do Distrito Federal ganharam a classificação de alto risco devido à grande incidência de moradores contaminados. Na mesma situação, estão três destinos turísticos preferidos dos brasilienses e outras duas cidades muito frequentadas pelos moradores da capital em viagens a trabalho e lazer.

Dos municípios goianos vizinhos do DF, o mais preocupante é Luziânia. Com 202 mil moradores, distante 66km do Plano Piloto e 1.485 notificações de dengue até 2 de outubro, ocupa o sétimo lugar no ranking de casos no estado. Também está na lista das localidades consideradas de alto risco, devido à proporção entre a quantidade de infectados e o número de habitantes (veja quadro). Das cidades do Entorno, ainda estão nessa condição Água Fria, Cocalzinho, Formosa, Planaltina e Santo Antônio do Descoberto. Assim como três dos principais destinos turísticos do estado: Caldas Novas, Rio Quente e Goiás ; mais conhecida como Goiás Velho. Em cada município desses, morreu ao menos uma pessoa por causa da doença.

No site do Ministério da Saúde, os dados do mais recente Levantamento Rápido do Índice de Infestação do Aedes aegypti (Liraa) mostram que Goiás tem quatro municípios em estado de alerta para a presença de criadouros. O índice de infestação predial de Goiânia é o mais elevado do grupo, formado também por Aparecida de Goiânia, Luziânia e Águas Lindas. A falta de cuidado da população representa um sério risco. No Jardim Ingá, bairro mais populoso de Luziânia, as caixas d;água são o maior problema, pois 20% estão destampadas. ;Jogamos veneno nelas, mas, sem a limpeza regular, não adianta nada;, afirma o supervisor de agentes de saúde da região, Josué Vaz Duarte.

Caixas abertas
No período seco, os muitos reservatórios de água destampados se transformam em criadouros em potencial do Aedes aegypti. O resultado é que a quantidade de casos registrados em Luziânia este ano subiu 30% somente em setembro, quando não choveu na cidade. ;Temos dificuldades de fazer o trabalho de combate à dengue porque, principalmente no Jardim Ingá, como a maioria passa o dia fora, em Brasília, não encontramos alguém que possa abrir a porta da casa para a equipe aplicar remédio;, conta o gerente de controle de vetores de Luziânia, Valdaire Bispo de Oliveira. No caso das caixas d;água, quem não tem dinheiro para comprar uma tampa é orientado a instalar uma rede contra mosquitos.

Mas é nítido o descaso de grande parte da população do Jardim Ingá. Não há rua do bairro sem lixo ou lotes vagos tomados pelo mato. Em um ferro-velho, por exemplo, agentes de saúde encontraram quatro pneus e telhas de amianto com água parada. A dona do negócio, instalado em um lote residencial onde moram oito pessoas e bem no centro da área mais povoada da localidade, confirmou que sequer guarda as garrafas de ponta cabeça para evitar o acúmulo de água. ;Elas (as garrafas) não ficam muito tempo aqui, moço;, alegou Francilene Alves de Souza, 32 anos, à reportagem do Correio. ;Qualquer copinho plástico pode virar criadouro do Aedes aegypti;, lembrou o supervisor Josué Duarte.

Faltam agentes
Luziânia enfrenta outro problema que aflige quase todo o estado: a falta de agentes no combate à dengue. O município, por exemplo, tem 85 profissionais em campo diariamente, mas ainda oferece 27 vagas para a atividade. ;Para atender a toda a comunidade, deveríamos ter mais de 120 agentes. O preenchimento das vagas existentes depende da burocracia do município;, explica Valdaire de Oliveira. Superintendente de Políticas de Atenção Integral à Saúde de Goiás, Elizabeth Silva Oliveira Araújo, reconhece a falha. ;Temos deficit de agentes justamente nas maiores e mais infectadas cidades, como Goiânia, Anápolis, Rio Verde e Luziânia;, informa a representante da Secretaria de Saúde goiana. Algumas cidades, no entanto, apresentam baixo índice de risco, segundo dados da secretaria. Entre elas, destinos turísticos dos brasilienses.

Elizabeth Araújo diz que, além da falta de cooperação da população e da falta de agentes, a dengue tem se espalhado pelo estado, mesmo na seca, porque o mosquito transmissor se adapta a qualquer condição climática para sobrevivência da espécie. ;O Aedes aegypti muda de criadouro. Com a seca prolongada, passou a colocar os ovos em qualquer tipo de água, inclusive esgoto;, pondera. Sobre a grande quantidade de mortes, ela alega que grande parte se deve à infecção de idosos já debilitados. Dos 65 casos fatais em 2010, 35 ocorreram por complicações geradas pela dengue. Os outros 26 se deram exclusivamente por dengue hemorrágica. Ainda há outras 39 mortes sob investigação, com sintomas da enfermidade transmitida pelo Aedes aegypti.

Liderança Negativa
Ranking dos 10 municípios goianos com maior número de casos de dengue registrados pela Secretaria de Estado de Saúde em 2010

Goiânia- 35.732

Ap. de Goiânia - 8.606

Anápolis - 5.750

Jataí - 4.210

Mineiros - 3.474

Rio Verde - 3.009

Luziânia - 1.485

Catalão - 1.257

Iporá - 1.095

Sen. Canedo - 1.043


Risco de surto
Os índices estabelecem como de risco de surto os locais onde a infestação é maior que 4%. Índices entre 1% e 3,9% são tidos como de alerta; e menores que 1% são considerados satisfatórios.

Destinos seguros
Padre Bernardo, Alto Paraíso e Pirenópolis, cidades do Entorno e destinos turísticos dos brasilienses, figuram entre a lista de cidades baixo risco de infecção pelo Aedes aegypti.

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