Cidades

Entidades de direitos civis comemoram o Dia de Sair do Armário

A data foi criada para estimular pessoas de sexualidade alternativa a assumirem suas preferências

postado em 12/10/2010 08:34
Apesar dos avanços em direitos civis e humanos obtidos nas últimas décadas em diversas partes do mundo por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais ; o chamado segmento LGBT ;, assumir a sexualidade alternativa perante a sociedade ainda constitui uma das questões mais importantes e também conturbadas do universo homossexual. Para levantar a discussão e apoiar quem precisa, o grupo brasiliense LGBT Estruturação comemorou ontem, pelo segundo ano consecutivo, o Dia de Sair do Armário. A data surgiu nos Estados Unidos na década de 1980 (leia Para saber mais) e foi trazida para o Brasil pelo Estruturação. Em parceria com o site Parou Tudo, o grupo montou um concurso fotográfico no qual ganharia quem mandasse a melhor foto para simbolizar a saída do armário ; expressão alusiva a assumir suas preferências homossexuais sem culpa.

Paulo André, do Estruturação, diz que a luta adquiriu âmbito familiar: ;Apesar de a situação para os LGBT ser muito mais fácil hoje do que era há 20 anos, ainda existe toda uma rede que complica a vida do homossexual para ele se assumir. O adolescente não se assume com medo de ser expulso de casa. O adulto, porque já tem a relação construída com a família. O preconceito ainda existe, o medo do que o outro vai pensar;, afirma Julio Cardia, presidente do Estruturação. Ele lembra que a data serve para ressaltar a importância da própria aceitação e também como ;forma corajosa de mostrar para a sociedade que somos diversos;, sem exercer qualquer tipo de pressão.

Além do concurso fotográfico aberto em nível nacional e vencido por um brasiliense, o grupo publicou matérias e dicas sobre o processo de assumir a homossexualidade. A organização não soube informar o número de inscritos, mas Cardia aprovou a repercussão. No ano passado, além do concurso, homossexuais famosos partilharam relatos de como saíram do armário.

O editor do site Parou Tudo e diretor do Estruturação, Welton Trindade, argumenta que deve haver um equilíbrio entre o tempo que alguém leva para declarar publicamente a orientação sexual ; o que é estritamente pessoal ; e a importância de assumir a própria identidade. ;Mesmo não tendo a obrigatoriedade do tempo, a data serve para que você caminhe para se aceitar e se assumir. Conversando com as pessoas, a gente sabe que ninguém vai ser feliz mentindo para si mesmo. Imagina você ser heterossexual e ter que mentir que é homossexual? Ser homossexual não é um detalhe na vida. Sexualidade é um dos pilares do ser humano. Sexualidade se tem, se é, se carrega;, diz.

Família
Para a psicóloga Tatiana Lionço, pesquisadora de homofobia e políticas públicas para os homossexuais e professora do UniCeub, sair do armário é um dos passos mais delicados na vida de um LGBT. ;Por um lado, traz muito sofrimento a pessoa viver na invisibilidade, sem ninguém saber o que ela realmente é. Mas as pesquisas revelam que a família é um dos contextos de maior discriminação. O homossexual fica sem laço de base de proteção;, afirma.

Uma das maiores preocupações das campanhas do Estruturação é o amparo aos adolescentes, o que é reforçado pela pesquisadora. Para ela, a situação dos jovens é mais dramática porque eles têm menos maturidade, informação e recursos para lidar com a questão. ;Nos EUA, existe uma onda de adolescentes homossexuais se suicidando. Chama a atenção o nível de sofrimento pelo qual eles passam. Eles associam que há algum problema pessoal, quando na verdade existe um problema social, um quadro discriminatório;, observa.

O grupo Estruturação tem uma rede de suporte para pessoas que enfrentam problemas ou têm dificuldades para assumir a sexualidade. Além da interação com os membros do grupo, psicólogos dão orientações tanto para LGBTs quando para seus familiares. ;É cada vez mais comum os pais tomarem a iniciativa de nos procurar. Muitos vão até escondidos dos filhos. Fazem isso porque imaginam o sofrimento pelo qual os filhos devem estar passando;, afirma Paulo André Bernardo, 29 anos, secretário-geral do grupo.

Seu relato pessoal é prova do que diz: foi sua mãe quem o procurou para dizer que sabia que ele é homossexual. ;Minha mãe, antes de tudo, é minha amiga. Fico feliz de ver que existem cada vez mais pessoas como ela;, acrescenta. Mesmo trabalhando firme em celebrações individuais como a Parada Gay e o Dia de Sair do Armário, Paulo André observa que o trabalho de conscientização das causas LGBTs contra o preconceito e de prevenção às doenças é diário. ;Fazemos isso para mostrar às pessoas que ser homossexual não é doença, não é loucura, que não é falta de vergonha na cara. Fazemos isso na expectativa de que as pessoas se aceitem e que, se não têm apoio, que nos procurem;, conclui.

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