Cidades

Polícia apreendeu 18 quilos de crack nos sete primeiros meses de 2010

No mesmo período do ano passado, foram 6.979kg. As pedras tomam o lugar da cocaína e da merla no Distrito Federal

postado em 13/10/2010 08:04
Grupo de jovens consome crack no gramado em frente ao estacionamento do Conic, no Setor de Diversões Sul: vício sustentado com dinheiro que ganham de motoristasHomens, mulheres, jovens e crianças fumando crack em plena luz do dia. As cenas já se tornaram banais na capital do país, mas infelizmente parecem longe do fim. A droga derivada da cocaína e com enorme poder de destruição, já é disparada a que mais cresce no Distrito Federal. Estatística da Polícia Civil mostra que a média mensal de apreensão do entorpecente nos primeiros sete meses deste ano é quase três vezes maior do que o registrado em 2009. Foram 18,8 quilos da droga recolhidos até julho de 2010 contra 6.979 quilos computados no mesmo período do ano passado.

O mesmo dado também revela que o crack tomou de vez o lugar de outras substâncias ilícitas. Desde 2007, a polícia tem encontrado cada vez menos usuários de merla e de cocaína.(Veja quadro). Há três anos, por exemplo, a quantidade de merla retirada das ruas ultrapassou a casa dos 145kg e a de cocaína, 166kg. No ano passado, os números foram reduzidos para 93kg e 137kg, respectivamente.

A curva ascendente no número de flagrantes de viciados em crack revela que apenas a repressão não é capaz de pôr fim ao problema crônico. Além disso, a nova legislação antidrogas, que não permite mais criminalizar o usuário, desestimula o trabalho de alguns policiais. Pelo menos essa é a opinião de muitos homens das polícias Civil e Militar ouvidos pela reportagem. Durante a tarde da última quarta-feira, por exemplo, um grupo de 12 viciados acendia pedras de crack sem nenhum constrangimento no gramado em frente ao estacionamento do Conic, no Setor de Diversões Sul. No flagrante, era possível perceber que eles se misturam aos flanelinhas do local e sustentam o vício com o dinheiro que recebem dos motoristas.

A menos de 200 metros dali, dois policiais caminhavam tranquilamente, sem se importar com a movimentação. Um deles comentou: ;Você acha que adianta fazer alguma coisa? Nós quase todo os dias fazemos a abordagem, levamos para a delegacia e em menos de meia hora ele está no mesmo lugar, se drogando novamente e rindo da nossa cara. A culpa não é nossa, nem do delegado, mas da legislação que é branda demais. Você acha que isso não desanima a gente?;, lamentou um soldado da PM, que não quis se identificar.

Um flanelinha que trabalha no local reclama que os dependentes químicos ;roubam; seus clientes que estacionam veículos, mas diz que se sente inseguro para afrontá-los. ;Eles ficam fumando crack o dia todo debaixo das árvores. Quando a droga acaba, eles fingem que são guardadores de carro e pedem dinheiro. É ruim pra gente, porque eles tiram o que seria nosso, mas não podemos reclamar porque alguém que só vive ;noiado; pode até matar;, contou o jovem.

Bocas de lobo
Não é apenas no coração de Brasília que o crack destrói famílias inteiras. Na QNN 1, em Ceilândia, um grupo de usuários chegou literalmente ao fundo do poço. O Correio mostrou, em uma série de reportagens publicadas no mês passado, a rotina de várias pessoas que passam os dias e as noites se drogando nas galerias da quadra. Depois das denúncias, a Administração Regional da cidade fechou o buraco por onde eles entravam, mas a medida não impediu que eles retornassem à boca de lobo. Na quarta-feira última, a reportagem voltou ao local e constatou que nada mudou. A diferença é que agora, com uma tampa de concreto reforçada impedindo o acesso, eles entram e saem pelas frestas por onde escoa a água da rua.

Outro local de grande concentração de viciados em crack em Ceilândia, uma obra abandonada na QNN 13, conhecida como Castelo de Grayskull ; em referência ao desenho animado He-Man ;, também passou a receber atenção especial do governo depois das reportagens veiculadas. Todo o espaço está sendo cercado, mas enquanto o trabalho não termina, os dependentes químicos continuam fazendo o lugar de residência. São dezenas de homens, mulheres e até crianças com suas vidas destruídas pelo crack.

Criminalidade vinculada

Estimativa da Secretaria de Segurança Pública revela que 27% dos crimes registrados nas delegacias, no primeiro trimestre de 2010, estão associados ao tráfico, especialmente ao crack.

"Nós quase todos os dias fazemos a abordagem, levamos para a delegacia e em menos de meia hora ele está no mesmo lugar, se drogando novamente e rindo da nossa cara"


Soldado da PM, que preferiu não se identificar





Apreensões

2006:
Crack: 2,90kg
Maconha 3.472.466,50kg
Merla: 156.189,00kg
Cocaína: 85.953,90kg
Haxixe: 3.950,60kg
Ecstasy (comprimido): 360
LSD (Microsselo): 85

2007
Crack: 562,50kg
Maconha: 826.350,85kg
Merla: 149.330,05kg
Cocaína: 166.269,16kg
Haxixe: 6.203,95kg
Ecstasy (comprimido): 6.861
LSD (Microsselo): 12.218

2008
Crack: 4.324,64kg
Maconha: 807.728,33kg
Merla: 128.203,57kg
Cocaína: 122.819,09kg
Haxixe: 10.091,02kg
Ecstasy: (comprimido): 251
LSD (microsselo): 1.032

2009
Crack: 11.967kg
Maconha: 1.087.042,78kg
Merla: 137.913,38kg
Cocaína: 93.095,64kg
Haxixe: 5.276,71kg
Ecstasy: (comprimido): 183
LSD: (microsselo): 2.202

2010 (Até julho)
Crack: 18.858,30kg
Maconha: 491.346,66kg
Merla: 29.737,17kg
Cocaína: 68.051,45kg
Haxixe: 169,38kg
Ecstasy: 18
LSD (Microsselo): 93

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