Cidades

Encontro Latino-Americano de Arquitetura reúne 5,6 mil alunos em Brasília

Naira Trindade
postado em 15/10/2010 08:00

A moderna Brasília virou palco de aprendizado para 5,6 mil estudantes do 19; Encontro Latino-Americano de Arquitetura (Elea). ;Brasília 2010 ; Direito à cidade, em busca da terra do nunca; é o tema desta edição, cuja participação brasileira foi organizada pela Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura (Fenea). O evento termina hoje. Mas, durante sete dias, venezuelanos, chilenos, peruanos, uruguaios, argentinos e brasileiros de todos os estados dividiram conhecimento num intercâmbio cultural no Parque de Exposições Agropecuárias da Granja do Torto. Acampados em barracos de lonas, na grama verde e nos currais, os alunos participaram de palestras, oficinas e ainda doaram tempo e sabedoria na implantação de projetos em instituições não governamentais, como a construção de uma parede de mosaico na área de lazer destinada aos portadoras de necessidades especiais da Escola de Equoterapia.

Os traços de Oscar Niemeyer, na Esplanada dos Ministérios, abriram a semana de arquitetura em Brasília, no último sábado. Numa caminhada cívica e urbanística, os alunos admiraram os desenhos do renomado arquiteto. Da Praça dos Três Poderes, o grupo seguiu até o Museu da República, passando pelo Congresso Nacional, ministérios e Catedral. Cada detalhe das edificações era observado e analisado pelos jovens. Os prédios oficiais , todos no mesmo padrão, chamaram a atenção dos participantes do encontro. Uma equipe de guias turísticos ajudou os latino-americanos a entenderem os principais pontos e as setorizações da capital do país.

[FOTO2]Uma das primeiras cidades planejadas do Brasil, a escolha de Brasília para sediar o evento dos aspirantes a arquitetos não foi por acaso. A possibilidade de viver por uma semana no Plano Piloto projetado por Lucio Costa pesou na decisão dos jurados e organizadores. A segunda opção era Belém do Pará, que também conta com rica e histórica arquitetura. A definição dos países segue a sequência: Argentina, Paraguai, Uruguai, Peru, Brasil, Chile e Venezuela. O próximo congresso será em Temuco, cidade chilena, entre 8 e 15 de outubro de 2011.

A oportunidade de caminhar pelo Plano Piloto e conhecer o Congresso Nacional entusiasmou os estudantes. Eles deixaram o conforto de suas casas e das macias cadeiras das universidades para dormir ao relento e aprender na prática os conceitos de arquitetura sustentável. Segundo um dos organizadores do Elea-Brasília, João Eduardo Dantas, 25 anos, o número de participantes deste ano foi recorde. ;O público máximo atingido nos encontros anteriores era de 2 mil estudantes. Mas conseguimos reunir 5,6 mil;, disse o aluno do Centro Universitário de Brasília. Desse total, cerca de 2 mil vagas foram destinadas a alunos de escolas públicas e particulares do país. ;A procura nos surpreendeu;, afirmou também o organizador Arthur Junqueira, 21, aluno da Universidade de Brasília.

Palestras
Na programação, palestras com 40 professores convidados de diferentes estados brasileiros e conferencistas latino-americanos. A maioria focou nas novidades da construção civil. O uruguaio Gonzalo Sandim saiu de Montevidéu para aprimorar seu aprendizado. ;Você dificilmente aprende a cultura de um país sem visitá-lo. Esse intercâmbio faz com que o pessoal troque as mais diferentes experiências temáticas.;

A setorização habitacional de Brasília ; que se estende por algumas cidades ; aguçou a curiosidade do professor da Universidade da República do Uruguai Juan Urreta. ;Estamos refletindo sobre os benefícios de viver em áreas setorizadas. Brasília só consegue funcionar porque tem como apoio as cidades-satélites. Elas servem de refúgio para os trabalhadores e isso faz com que o Plano se mantenha conservado e limpo;, analisou. Para a conferencista Laura Pirroco, 34 anos, moradora de Montevidéu, propostas de conservação do patrimônio cultural histórico podem surgir nos debates. ;As discussões podem resultar em ideias para Brasília continuar respeitando o modelo implantado.;

Barcelona e as Olimpíadas

O Instituto Cervantes de Brasília receberá na próxima quinta-feira, às 19h30, o conceituado arquiteto espanhol Carles Campanya, um dos cinco gestores e diretores do GAB (Grupo de Arquitetos de Barcelona) e sócio fundador da CVARQ (Campany Vinyeta i Serveis d;Architecture, SL). Na palestra, o arquiteto irá mostrar a transformação urbana que Barcelona teve com a realização dos Jogos Olímpicos em 1992, e a utilização dessas ações na cidade pós-olímpica. Através da conferência Pensar a Cidade: oportunidades e desafios, Carles demostrará que, para construir uma sociedade sustentável, o único caminho é a inovação.

Intervenções em agradecimento

Sessenta peças de bambu queimado reproduziram a Catedral Metropolitana de Brasília, dos cartões-postais da cidade. Com 5 metros de altura e 10 metros de diâmetro, a réplica do monumento foi produzida pelo estudante de engenharia civil da UnB Vitor Marçal, 25 anos, que mostrou aos participantes as possibilidades de construção com o material sustentável. ;Montar a Catedral era um desejo antigo. A construção dela abriu um leque de novas possibilidades de uso do bambu.;

As técnicas ensinadas nas oficinas foram levadas à rua. As paredes da área de lazer da Escola de Equoterapia, por exemplo, viraram belos painéis de mosaico com flores e peixes. Os azulejos quebrados colados com massa deram vida ao espaço.

Beatriz Daniel Lorenze, 18 anos, estudante da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo São Paulo ), aproveitou o penúltimo dia de Elea para projetar um mosaico. ;Viemos aqui para aprender e desenvolver as técnicas;, disse. ;Brasília é linda, de tirar o fôlego! Mas muito quente e seca;, acrescentou a moradora de São Paulo sobre a diferença em nosso clima.

Estudante da mesma instituição, Taís Pimenta, 22, desenvolveu com outras seis garotas um banco sobre um jardim para que as mães dos alunos com necessidades especiais possam assistir às terapias infantis sentadas à sombra. ;Vamos construir o assento com materiais reaproveitáveis, como entulho e areia. Depois, usaremos terra e esterco no jardim;, explicou. Outro grupo de alunos se programoupara uma exposição na 106 Sul hoje. A intenção é levar uma cadeira com nomes das cidades em torno de Brasília. Os que moram na capital vão poder sentar-se na poltrona. Uma passagem subterrânea do Eixão Sul também deve ser revitalizada na manhã de hoje. A ideia é devolver para Brasília um pouco do que a cidade deu aos participantes do encontro. (NT)

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