postado em 16/10/2010 07:36
As recepções polêmicas dos calouros da Universidade de Brasília (UnB) deram lugar a atividades sociais. Cerca de 150 estudantes que acabaram de ingressar na instituição tiveram ontem um trote diferente. Em vez de provas humilhantes (veja Memória), o ritual apostou na conscientização e no entretenimento de mais de 400 crianças da Estrutural. Os novatos de 15 cursos diferentes conduziram gincanas e oficinas de preservação do meio ambiente no galpão de uma associação filantrópica local.Pela primeira vez, os organizadores levaram o Trote Solidário até a comunidade, que vive da esperança. O coordenador-geral do Diretório Central de Estudantes (DCE), Jonatas Moreth, conta que a iniciativa existe há três anos e dá um banho de cidadania nos recém-chegados à universidade. "O evento traz visões ambientais e de integração com a população. Queremos mostrar para os calouros que a recepção pode ser feita de outra forma, sem violência", explica o aluno do 3; semestre de serviço social.
A má fama que o rito de passagem ganhou na UnB e em centros de ensino de todo o país assusta alguns novatos. No primeiro dia de aula, o calouro de agronomia Thiago Silva, 19 anos, pensou: "E agora? O trote vai ser pesado". Quando descobriu a iniciativa do DCE, o aluno respirou aliviado. "Fiz questão de participar para combater os episódios passados", disparou. Segundo ele, os veteranos ainda não informaram se haverá a recepção oficial do Centro Acadêmico do curso.
O evento de boas-vindas garantiu um dia de diversão e aprendizado sustentável aos moradores da Estrutural. A dona de casa Luziane Barros, 26 anos, viu como preparar um reboco ecológico, enquanto a filha Layane Santos, 11, jogou futebol com os colegas. "Minha casa ainda está só nos tijolos. Preciso arrumar as paredes", justificou. Luziane não deixou a irmã Sirlei Francisca dos Santos, 30, fora da oportunidade de aprender a fazer uma obra com mais economia. "O trabalho que os estudantes e a associação fazem é muito importante para a comunidade", emendou Sirlei.
A cerimônia de integração dos estudantes que acabaram de ingressar na universidade ocorreu nas dependências da Associação Viver. Os 25 voluntários da entidade ajudam, ao todo, 410 crianças da Estrutural nas tarefas escolares e desenvolvem brincadeiras lúdicas com elas. "Os garotos não podem ficar nas ruas, eles precisam de atenção", explicou o presidente da instituição, Coracy Coelho. É a primeira vez do Trote Solidário, mas a associação trabalha em atividades de extensão com a UnB.
MEMÓRIA
Na lama
Os veteranos de agronomia organizaram um trote considerado agressivo em 13 de julho. Durante as boas-vindas, os novatos foram fotografados escorregando de barriga em uma poça de água, tiveram de andar em fila em posição humilhante e, por fim, ainda mergulharam em uma poça de lama com restos de comida. A reitoria da UnB classificou a recepção como violenta. Na época, a coordenação de agronomia repudiou a atitude, mas disse que a prática é recorrente em outros cursos. Os estudantes se defenderam, alegando que ninguém foi obrigado a participar do trote. A reitoria criou, na ocasião, quatro frentes de trabalho para combater a prática. Há, no câmpus, cartilhas com orientações para garantir a boa relação entre a comunidade acadêmica.