Cidades

Em oito anos, Terracap elevou em mais de sete vezes sua arrecadação

Somente em 2009, a empresa obteve R$ 1,7 bilhão com a venda de 955 terrenos

Helena Mader
postado em 18/10/2010 08:15
Responsável pela administração dos imóveis de propriedade do Governo do Distrito Federal, a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) viu sua arrecadação crescer mais de sete vezes de 2002 para cá. No ano passado, a empresa recebeu R$ 1,7 bilhão pela venda de 955 terrenos públicos incluídos nos editais de licitação da companhia. O valor é superior à soma das arrecadações dos sete anos anteriores. A expectativa do governo é que 2010 registre um novo recorde de vendas e que o desempenho se repita nos próximos anos.

Um dos principais responsáveis pelo balanço bilionário da Terracap foi o Setor Noroeste. Como o governo não vendeu sequer metade dos lotes do novo bairro, o mercado prevê que a entrada de recursos nos cofres da companhia vai continuar em alta. O GDF comemora os resultados e promete inflar ainda mais a arrecadação da Terracap. Mas especialistas criticam a postura do governo de subir excessivamente os preços nas licitações e afirmam que esse mecanismo contraria os interesses públicos.

O gerente Comercial da Terracap, Marcelo Fagundes, conta que a perspectiva de Brasília sediar a abertura da Copa do Mundo em 2014 vai alavancar ainda mais as vendas de terrenos públicos, principalmente os destinados à construção de centros comerciais e hotéis. ;Acreditamos que a Copa do Mundo vai mexer com o mercado da cidade nos próximos anos. A demanda por terrenos certamente vai crescer, o que deixa as nossas expectativas de arrecadação ainda mais otimistas;, afirma.

No Setor Noroeste, a venda de terrenos começou em janeiro do ano passado, depois de mais de uma década de espera. O GDF precisou vencer uma série de batalhas judiciais, inclusive contra indígenas que vivem no centro da área do novo bairro. Os índios conseguiram o direito de ficar no local por enquanto, mas a Terracap pôde dar início à construção do Noroeste. Na região, as ruas já estão abertas e pavimentadas e 121 lotes já foram vendidos, entre comerciais e residenciais.

Os lotes destinados a escritórios e quitinetes, que começaram a ser vendidos por R$ 1,8 milhão, saíram por até R$ 9 milhões na última licitação, em agosto. Já os imóveis residenciais, onde serão construídos prédios de apartamentos, custavam R$ 10 milhões na primeira concorrência pública e, 20 meses depois, não saem por menos de R$ 15 milhões.

Na abertura dos envelopes, esse preço pode subir ainda mais. O metro quadrado dos apartamentos do Noroeste custa, em média, R$ 10 mil. E a tendência é de alta. ;Menos da metade dos lotes do Noroeste foi vendida, ainda temos um estoque grande de terrenos na região. E a cada licitação, o mercado demonstra que o interesse por imóveis no setor não para de crescer;, afirma Marcelo Fagundes.

Outra área que se transformou em sucesso de vendas foi o Jardim Botânico 3. Localizado ao lado de vários condomínios consolidados e em processo de regularização, o setor tem 600 terrenos, dos quais 470 já foram vendidos em licitações públicas. Nas primeiras vendas, em 2008, um lote de 800 metros quadrados custava cerca de R$ 150 mil. Hoje, o valor mínimo desses imóveis na concorrência pública é R$ 413 mil.

Futuro
Para os próximos anos, além da conclusão das vendas do Noroeste, a expectativa é pela venda de terrenos das novas quadras do Lago Sul: a QI e a QL 30 têm, juntas, 150 lotes. O mercado estima que cada um não custará menos de R$ 600 mil. Assim, a licitação dessas quadras renderia mais de R$ 90 milhões aos cofres do GDF.

Este ano, a companhia obteve em cartório o registro de 5.011 lotes localizados em Planaltina, Samambaia Oeste, no Guará e na Cidade Digital. A cidade tecnológica, cujas obras de infraestrutura já começaram, ainda possui áreas que serão destinadas a empresas do setor. Até agora, apenas o espaço principal já foi vendido à Caixa Econômica Federal e ao Banco do Brasil, que construirão no local um grande datacenter.

Em 2009, dos R$ 1,7 bilhão arrecadados, a Terracap gastou
R$ 367 milhões com a execução de obras e de serviços urbanos, bem como com estudos e projetos ambientais e urbanísticos
para consolidar parcelamentos da Terracap e para criar outras áreas urbanas em diversas localidades do DF. O investimento em obras realizado em 2008 havia sido de R$ 70 milhões e em 2007, de R$ 31 milhões. Outra fonte de dividendos para a Terracap é a regularização de condomínios, com a posterior venda direta aos ocupantes. A empresa pretende legalizar a partir de 2011 os lotes dos setores Vicente Pires, Sucupira, Arniqueira, São Bartolomeu, Ponte de Terra e Dom Bosco.

A arquiteta e urbanista Tânia Batella, que é do Instituto dos Arquitetos do Brasil e também já integrou o Conselho de Administração da Terracap, critica a alta arrecadação da companhia. ;A Terracap não pode se equiparar a uma imobiliária qualquer. Antes de visar ao lucro, ela tem que buscar os interesses públicos;, afirma. ;Ao estimular essa alta excessiva dos preços de mercado, o governo foge dos interesses sociais. É preciso repensar isso e também destinar mais recursos às obras de infraestrutura pela cidade;, sugere a arquiteta e urbanista.

Somente em 2009, a empresa obteve R$ 1,7 bilhão com a venda de 955 terrenos

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