Luiz Calcagno
postado em 18/10/2010 08:17
Cartão-postal de Brasília, a Ermida Dom Bosco, na QI 29 do Lago Sul, parece esquecida pelo GDF. Sem seguranças, sem os agentes de parque do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e muito suja, o lugar depende da boa vontade de frequentadores para se manter. Usuários reclamam da falta de infraestrutura, dizem que o espaço se tornou um motel a céu aberto, que é utilizado para festas regadas a bebida cheias de carros com som alto de madrugada e também que se tornou ponto de uso de drogas. A capela está pichada e com as portas de vidro quebradas, e o santuário que dá nome ao parque, mais bem-conservado, é vigiado por um segurança particular. As duas construções foram projetadas por Oscar Niemeyer.Guarita interditada: concluída em janeiro, até hoje tem tapumes
Os problemas não param por aí. Toda a área fica constantemente repleta de lixo. Os banheiros inaugurados em janeiro de 2008 nunca foram oficialmente colocados à disposição dos usuários ; não há funcionários para mantê-los ; e se encontram depredados. Faltam torneiras, a sujeira e a pichação dominam e as portas estão arrombadas. Lâmpadas e suportes também já foram arrancados.
Sem conselho gestor nem regimento interno, a Ermida se transforma em um parque sem lei. Quem afirma isso é o síndico do Condomínio Villages Alvorada, Lauro José Ferreira. O núcleo habitacional é vizinho e parceiro do parque, tendo seus moradores ajudado a financiar a construção de uma guarita no valor de R$ 26 mil com o compromisso do Ibram de colocar um segurança no local. Este, no entanto, nunca chegou. ;O parque é nosso limite. Se estiver bem cuidado, o condomínio fica muito mais seguro. O Ibram fez o projeto, escolheu o local, fizemos tudo do jeito que foi pedido. Como eles não colocaram um vigilante, tivemos que fazê-lo, senão a construção ia se transformar em motel e seria depredada;, revela o síndico.
A guarita ficou pronta em janeiro, mas continua cercada por tapumes. O gasto com segurança no local já está em mais de R$ 20 mil, e se continuar assim, pode ultrapassar o orçamento previsto para a construção. Ferreira conta que recebe mensalmente promessas do Ibram que nunca são cumpridas. O medo dele é de que, com a mudança de governo em janeiro, a Ermida seja definitivamente esquecida. ;Começamos a ficar preocupados. Hoje vivemos uma situação difícil. Gastamos dinheiro além do que foi combinado. Eu fico fragilizado perante a sociedade;, queixa-se.
PONTO TURÍSTICO
A capelinha que guarda a imagem de Dom Bosco demarca exatamente o paralelo 15;. O lugar faz referência ao possível local no Hemisfério Sul (entre os paralelos 15; e 20;) que apareceu no sonho de Dom Bosco visualizando uma cidade muito rica e próspera que poderia ser Brasília. Quanto ao santuário piramidal projetado por Oscar Niemeyer, fica em um ponto privilegiado de onde os visitantes podem ver o Plano Piloto e, principalmente, o Palácio da Alvorada, o Eixo Monumental e a Esplanada dos Ministérios.
Construção histórica
O santuário que guarda a imagem de Dom Bosco tem uma guarita muito mais antiga, construída em 1989 pelo padre Décio Batista Teixeira, diretor do Instituto Israel Pinheiro, também vizinho à Ermida. Ele também mantém, há mais de 20 anos, um segurança cuidando do local, e gasta mais de R$ 5 mil por mês. Também já tentou transferir a gestão da segurança para o GDF, sem sucesso. ;A capela foi a primeira construção de alvenaria do Distrito Federal. Ali foram utilizadas a primeira medida de cimento e a primeira peça de ferro de Brasília, a pedido de Israel Pinheiro. Ela estava abandonada e pichada quando eu cheguei. Coloquei portas de vidro e construí o posto do vigia. Aquele local é um patrimônio da humanidade, uma responsabilidade do governo;, define.
Ponto de encontro de moradores de todo o DF e situado em uma área nobre, o parque fica às margens do Lago Paranoá e, apesar do descaso que vem sofrendo, ainda é escolhido por ciclistas, skatistas e corredores para a prática de esporte e encontros familiares. A Ermida recebe de 2 a 3 mil pessoas por mês. Os estudantes Geziel Dias Santos e Fernando Vaz , ambos com 19 anos e moradores do Paranoá, praticam ciclismo no parque, e consideram os problemas do local como graves. ;Falta limpeza. Tem muita gente que deixa de vir para a Ermida porque o local se tornou desorganizado e sujo. Faltam lixeiras;, afirmou Geziel. ;Falta segurança para os usuários e, consequentemente, para quem mora perto;, completou o amigo.
As bancárias Carla Ferreira, 31 anos, e Renata Pacheco, 28, começaram a frequentar o parque e apreciam o local, mas também já se incomodam com a falta de infraestrutura. ;Falta conservação. Isso aqui está abandonado. Não tem um lugar para comprar água e não tem um banheiro;, aponta Carla. ;Além disso, o lugar está muito sujo e não tem segurança. Nós gostamos daqui. É um lugar que só precisa de um pouco mais de atenção do governo;, sugeriu Renata.