Cidades

Estudantes de arquitetura comentam as peculiaridades locais em encontro

Mesmo com algumas críticas à relação da cidade com seus moradores, a maioria revelou admiração por monumentos e obras que fazem a diferença em meio ao cenário internacional

postado em 18/10/2010 08:23
Um dos maiores nomes da literatura contemporânea, o escritor português José Saramago disse, ao ser entrevistado pelo cineasta Walter Carvalho no documentário Janela da alma, que ;para conhecer as coisas há que dar-lhes a volta;. A fala de Saramago poderia muito bem traduzir a percepção que jovens brasileiros e estrangeiros tiveram de Brasília na última semana. Por sete dias, 5,6 mil estudantes de arquitetura do Paraguai, do Uruguai, da Argentina, do Peru, do Chile, da Venezuela e de norte a sul do Brasil olharam para a capital federal com muita atenção e encantamento. Reunidos para o 19; Encontro Latino-Americano de Arquitetura (Elea), organizado pela Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura (Fenae), eles reconheceram que tudo o que aprenderam em sala de aula sobre a capital do Brasil não correspondeu ao que, de fato, experimentaram.

Na Granja doTorto, alunos de diferentes países e de alguns estados brasileiros desenvolveram atividades ligadas à compreensão do traçado arquitetônico da cidade. Na foto acima, à esquerda, reproduziram a CatedralNa programação do evento, os alunos assistiram a palestras com 40 professores convidados de diversos estados do país e conferencistas latino-americanos. Depois do momento extracurricular, a pesquisa em campo contou com visitas a monumentos e espaços desenhados por Oscar Niemeyer e por Lucio Costa. Pela noite, um programa especial organizado pelas delegações dos países participantes animou os milhares de estudantes com músicas e apresentações da cultura de cada país.

Inspirado pelo tema Brasília 2010 ; Direito à cidade, em busca da terra do nunca, o Elea foi uma oportunidade de intercâmbio cultural e de diferentes visões sobre a organização das cidades. A chilena Carolina Cortez, 21 anos, estudante de arquitetura da Universidade Tecnológica Metropolitana do Chile, diz ter encontrado em Brasília ;mais que arquitetura, esculturas;. A jovem ainda mostrou surpresa com a urbanização local, mas fez uma crítica: ;A cidade também deve se adaptar à necessidade da população;.

Durante o evento, circularam periódicos pelo acampamento no Parque de Exposições Agropecuárias da Granja do Torto, apelidado, carinhosamente, de Cidade Elea. A iniciativa dos organizadores do encontro serviu como informativo e ainda propôs uma reflexão sobre arquitetura e urbanismo entre os estudantes. A publicação diária e bilíngue (português/espanhol) batizada de Diário contou com uma tiragem de 3 mil exemplares por dia e foi sucesso de leitura entre os participantes.

Um concurso fotográfico também marcou o evento. Realizado pela primeira vez em todas as edições, tinha a proposta de obter a percepção dos estudantes acerca do encontro e da cidade sede. No total, 80 jovens se inscreveram em cinco categorias: Arquitetura, Homem, Festa de abertura, Cidade Elea e Tema livre. ;Um corpo de jurados escolhidos na hora selecionou os três primeiros lugares de cada uma delas. O prêmio-surpresa foi mais uma brincadeira, algo só para quebrar a formalidade do concurso;, explicou Vinicius Vianna, 32 anos, estudante de arquitetura do UniCeub e um dos responsáveis pela organização do concurso.

Após uma semana intensa de atividades e intercâmbio cultural, o saldo final do encontro atingiu as expectativas dos organizadores. ;A aprovação dos estudantes foi acima de 90%. Todas as noites, nos reuníamos com os delegados responsáveis por cada um dos países e eles nos davam um retorno quanto ao que deu certo e o que podia melhorar. Todos os dias, atendemos às demandas;, orgulhou-se João Eduardo Dantas, 25 anos, estudante de arquitetura do UniCeub, pela quarta vez organizador do Elea no Brasil. O próximo Encontro Latino-Americano de Arquitetura será na cidade de Temuco (Chile), entre 8 e 15 de outubro de 2011. Em terras chilenas, outros jovens estudantes experimentarão, mais uma vez, um olhar apurado sobre a cidade, suas belezas e suas limitações.

Mesmo com algumas críticas à relação da cidade com seus moradores, a maioria revelou admiração por monumentos e obras que fazem a diferença em meio ao cenário internacional

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