Naira Trindade
postado em 20/10/2010 08:00
Nove dos 11 restaurantes comunitários do Distrito Federal apresentam irregularidades na estrutura ou na maneira de proceder com os alimentos servidos a 27 mil pessoas diariamente. A Vigilância Sanitária (Visa) notificou os refeitórios públicos a atenderem às solicitações de melhoria em até 30 dias sob pena de interdição. Segunda-feira, os auditores apreenderam mais de uma tonelada e meia de carne com embalagens danificadas e em má conservação na câmara fria da unidade de São Sebastião.Os problemas apontados pela vigilância vão desde o manuseio na preparação das refeições até pias sem sifão, que jorram o lixo diretamente no piso da cozinha. ;Cada um desses restaurantes apresentou algum problema, mas os principais erros estão no preparo dos produtos. Falta treinamento de pessoal para os procedimentos corretos. Em São Sebastião, por exemplo, a manutenção equivocada da carne pode gerar riscos como o crescimento bacteriano nos alimentos. A notificação de duas páginas lista várias falhas que devem ser corrigidas;, explicou o auditor de Atividades Urbanas da Visa, André Godoy.
A maioria dos restaurantes comunitários foi construída ainda na gestão do então governador Joaquim Roriz. O mais antigo é o de Samambaia, inaugurado em 11 de setembro de 2001. Apesar de ter nove anos, o prédio nunca passou por reformas. O de São Sebastião já existe há oito anos e vive a mesma situação. ;Eles contam com falhas de construção, como, por exemplo, pisos porosos que encardem e acumulam sujeira. O chão deveria ser impermeável, lavável. Faltam também áreas específicas para a preparação de carnes e verduras;, apontou Godoy.
Os restaurantes públicos são de responsabilidade da Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest), mas os serviços são terceirizados. Quatro empresas alimentícias dirigem os nove comunitários que apresentaram irregularidades. Segundo o secretário da Sedest, Carlos Carvalho, as firmas já receberam as notificações e devem apresentar as melhorias no tempo determinado pela Visa, sob pena de perderem o direito à concessão do serviço. ;O caso mais grave é o de São Sebastião, que tem 15 dias para dar uma resposta sobre a suspeita de má conservação da carne. Caso isso não ocorra, há o risco de cancelamento do contrato;, afirmou.
Acessível
Para subsidiar a alimentação, o GDF repassa às empresas, em média, R$ 3, por prato servido. O gasto mensal gira em torno de R$ 2,5 milhões com os 11 restaurantes. Diariamente, trabalhadores e até famílias inteiras deixam suas residências na hora do almoço para se alimentarem no bandejão. Com apenas uma moeda de R$ 1, é possível comer salada, verdura, carne, sobremesa e suco numa refeição com balanceada elaborada por nutricionista. Em épocas especiais, como Natal e ano-novo, há ainda um cardápio diferenciado com ingredientes de ceia.
Frequentadora assídua do bandejão da Estrutural, a dona de casa Jeane Rodrigues da Conceição, 34 anos, encontra no refeitório uma possibilidade de alimentação saudável e acessível. ;Os nutricionistas acompanham o preparo do alimento o tempo todo. Não acredito que possa haver algo errado, pois os próprios cozinheiros comem o que produzem;, comenta Jeane. Moradora da cidade há 15 anos, ela vai ao espaço sempre que tem condições. ;O custo no preparo de todos esses alimentos em casa pode ser bem mais caro porque contamos com as perdas;, comparou a dona de casa, acompanhada da filha Sara Rodrigues da Silva, 8.
Resposta
A empresa Terra Azul Alimentação Coletiva e Serviços ; notificada segunda-feira por manter 1.550kg de carne sem conservação adequada ; alegou, por meio de nota, que o alimento apreendido passava por fase de descongelamento regular para ser servido na quarta-feira. ;Nos vários anos que servimos refeições, nunca tivemos qualquer caso de desintoxicação alimentar (;). Os fatos narrados de forma precipitada não observaram o processo de descongelamento da costela, que era conduzido de forma regular conforme legislação para serem preparadas;, alega.
A Terra Azul é responsável por seis dos 11 restaurantes e fornece mensalmente 300 mil refeições, somando 3,5 milhões por ano. Segundo Carvalho, da Sedest, o governo analisa as melhorias estruturais nos outros comunitários.