Cidades

Leite materno doado no DF poderia atender a toda a demanda da rede pública

O Corpo de Bombeiros colabora nessa campanha, recolhendo o material nas casas

postado em 22/10/2010 08:00
Brasília é referência para o país em doação e coleta de leite materno. De janeiro a setembro deste ano, foram coletados 14 mil litros, quantidade suficiente para atender todos os recém-nascidos internados na rede pública. O bom exemplo é possível graças à solidariedade das mães brasilienses e a uma parceria antiga firmada entre a Secretaria de Saúde e o Corpo de Bombeiros. Os militares vão às casas das doadoras recolher o líquido precioso que salva a vida de bebês doentes e prematuros. A pequena Vitória Beatriz, de 2 meses, que nasceu com 1,05kg, é um desses casos. ;Hoje minha filha está viva por causa dessas mães. Não imagino como seria se não houvesse leite disponível no banco;, afirma a mãe da menina, Adelina de Sá Carneiro, 19 anos.

A jovem sofreu pré-eclâmpsia (aumento da pressão arterial) no sexto mês de gestação. Por isso, Vitória nasceu antes do tempo. Ela ficou internada 55 dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal. Sem forças para mamar, o bebê prematuro é nutrido via sonda. O alimento vem do banco de leite do Hospital Regional da Asa Sul (Hras). ;Quando eu receber alta e conseguir amamentar, quero retribuir a solidariedade, ajudando outras crianças que precisam;, diz Adelina.

O DF conta com 11 Bancos de Leite Humano (BLHs) e dois postos de coleta públicos, além de dois bancos federais e quatro privados. Em todas as unidades públicas do GDF, uma dupla de militares atua na coleta do leite materno. Os militares são responsáveis por 95% da coleta.

Mesmo com tantas doações, Brasília não é autossuficiente. ;Infelizmente não temos leite disponível para atender àqueles que precisam na rede particular ou em casa;, atenta Miriam Oliveira, coordenadora dos bancos de leite do DF.

Gesto de amor
Duas vezes por semana, a soldada Joselita Machado vai à casa da supervisora de atendimento Ana Luiza Feitoza Neves, 27 anos, no Riacho Fundo I. O sargento José Carlos Marques acompanhou a última visita. Ana é uma das maiores doadoras da rede pública de saúde. ;A cada visita, levamos cinco litros de leite;, conta Joselita. Não é a primeira vez que a mãe de Maria Clara, 2 meses, colabora com quem precisa. Ela iniciou a prática solidária há 13 anos, quando deu à luz Luiz Fellipe.

;No quarto em que estava internada, vi uma mãezinha que não conseguia amamentar dar café com leite para o filho dela. Foi então que eu tirei leite do meu peito, coloquei em um copinho e dei para o bebê;, lembra. A partir daí, as doações não pararam.

A mãe de Maria Clara explica o motivo de dividir os cuidados com a alimentação de sua filha com os de outras crianças que nem conhece. ;É um gesto único de amor. Para mim, é uma bênção poder salvar a vida de outras pessoas;, afirma.


Material perdido

Dos 13.978 litros de leite humano coletados no Distrito Federal, apenas 9.845 foram distribuídos. Isso ocorre porque boa parte do leite doado se perde no meio do caminho. A principal causa é a falta de cuidados básicos de higiene no momento da ordenha (veja quadro). Dependendo do dia, o desperdício chega a ser de 15%, segundo o pediatra do Hospital Regional da Asa Sul Mauro Bacas.

A quantidade de leite descartado chamou a atenção da enfermeira-residente Alice Santos Amaral, 24 anos. O assunto virou tema da monografia da jovem. ;Em muitos casos, por conta de um fio de cabelo, o leite não vai para quem precisa. As mães precisam ficar atentas à higienização e ao armazenamento adequado do líquido coletado;, alerta.

Antes de ser consumido, o leite passa por um minucioso processo de seleção dentro do BLH. ;Primeiro é feita uma análise das características do leite. Cor e cheiro são verificados. Se houver um cheiro estranho, por exemplo, o material é descartado;, explica o pediatra. Além disso, o leite passa por um exame microbiológico que verifica a presença de bactérias. Caso o resultado dê negativo, o material ainda fica em observação durante 48 horas. Só depois de constatado que o leite é próprio para o consumo, ele é pasteurizado. Pode ficar estocado no banco durante seis meses. Até setembro deste ano, 4.276 mães ajudaram a alimentar 10.022 bebês internados na rede pública do DF.


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Duas perguntas para

Dioclécio Campos, pediatra, professor da Universidade de Brasília e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria

Quais são os benefícios do leite materno?
O leite materno assegura ao bebê não apenas os nutrientes indispensáveis ao seu desenvolvimento. Ele possui substâncias e células que regulam a imunidade do organismo infantil e protege as crianças contra agressões infeccionais mais comuns. Seus benefícios se estendem até o fim da adolescência e o início da vida adulta. Nessa fase, o aleitamento diminui o risco do desenvolvimento de doenças alérgicas, hipertensão arterial, diabetes, câncer e diabetes.

Há uma idade-limite recomendada para amamentação?
Recomenda-se seis meses de amamentação exclusiva. Durante esse período, nenhum outro alimento é necessário, nem água. A partir do sétimo mês, o leite humano começa a ser quantitativamente insuficiente para assegurar à criança os nutrientes essenciais para o seu desenvolvimento. Depois dessa idade, é preciso fazer a introdução de outros alimentos. Mas o leite materno deve ser mantido até os dois anos de idade. Se a mãe dá sequência à amamentação, todos os benefícios já citados aqui podem ser prolongados.



Cuidados importantes

Na coleta:
; Escolher um ambiente limpo e tranquilo. Evitar banheiro e cozinha
; Lavar mãos e braços até o cotovelo com sabão e água em abundância
; Prender os cabelos com uma touca ou um lenço
; Colocar uma fralda ou máscara sobre o nariz e a boca
; Desprezar os primeiros jatos do líquido ; eles servem para limpar os canais de amamentação.

No armazenamento:
; Para armazenar o leite, utilizar um frasco de vidro com tampa de plástico, como os de café solúvel ou de maionese
; Recomenda-se não encher todo o recipiente. Deixar um espaço de dois dedos vazio, para que, quando o leite congelar, não transborde ou estrague o pote
; Após ser coletado, o leite deve ser guardado imediatamente no freezer ou no congelador
; Não colocar o leite perto de produtos que exalem cheiros fortes. Caso haja transferência de odor, o líquido pode ser descartado no momento de seleção no banco de leite
; Em casa, o leite pode ficar estocado por no máximo 15 dias.
; Os recipientes usados para guardar o leite precisam ser esterilizados. Para fazer a higienização em casa, é preciso ferver o vidro por 15 minutos (contar o tempo a partir do início da fervura) e deixar sobre um pano limpo até secar.


COLABORE

O Corpo de Bombeiros dá às mães doadoras recipientes já esterilizados para a coleta. Quem quiser ajudar pode entregar potes de vidro de café solúvel ou maionese, em qualquer unidade da corporação. Mulheres que quiserem ser doadoras devem entrar em contato com o Disque 193 / Programa Comunitário do Corpo de Bombeiros Militar do DF. Para saber mais sobre doações de leite humano, acesse o site .
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