postado em 24/10/2010 09:41
Alugar ou comprar? A dúvida martela na cabeça de muita gente na hora de decidir por um bem. As vantagens e desvantagens de cada opção nem sempre são percebidas com facilidade. Em muitos casos, age-se por impulso, sem levar em conta todas as variáveis. Não há resposta certa, mas é possível avaliar a situação e reduzir os riscos de sair no prejuízo. A aposta não envolve apenas uma comparação financeira. Depende também das possibilidades oferecidas pelo aluguel e pela compra.Comprar carro zero nunca foi tão fácil. As facilidades de pagamento e a abundância de crédito impulsionam as vendas. Sem desembolsar um real de entrada, o consumidor pode sair da concessionária de veículo novo e com prestações que cabem no bolso. Mesmo assim, o aluguel é considerado mais vantajoso por algumas empresas e mesmo por pessoas físicas. Entre os benefícios da escolha, está o desprendimento de gastos anuais com seguro e impostos.
A terceirização de frotas empresariais responde por cerca de 65% do faturamento da Its Rent a Car, locadora com quatro anos no mercado brasiliense. A mensalidade do aluguel de um carro popular sai por R$ 1,3 mil ; quase o dobro do valor médio de uma prestação em caso de financiamento. Mas não é essa a conta que o empresário faz ao fechar contratos de um ano. ;O carro próprio se deprecia. O alugado pode ser trocado;, diz o proprietário da locadora, Ricardo Borges.
Com os juros, um veículo zero acaba custando, ao fim das parcelas, o preço de dois. ;As empresas preferem investir em coisas que dão maior retorno. Em automóveis, elas não ganham nada. Pelo contrário;, argumenta Borges. ;Se o carro alugado bater ou quebrar, colocamos outro à disposição. No aluguel, a empresa não se preocupa com a frota e foca no negócio dela;, acrescenta a gerente de atendimento da Localiza, Cristina Chaves.
Pessoas físicas também usam o serviço das locadoras, em vez de comprar um veículo. Não são raros os clientes que, por opção, não têm carro próprio. Alugam o modelo que querem, quando querem, pelo tempo que definem. ;São pessoas que preferem ter carro apenas quando precisam dele e de acordo com a necessidade do momento. Para fazer uma apresentação melhor, impressionar alguém, por exemplo, escolhem um modelo executivo;, conta Cristina. Na Localiza, a diária de um carro econômico, 1.0, sem ar- condicionado, custa R$ 99,90. Há desconto para pacotes mensais.
Eletrônicos
Administradores de hotéis e hospitais também vivem o conflito entre alugar e comprar quando vão equipar os quartos. Para decidir, os empresários põem na balança, além da diferença de valores, as consequências de cada aposta. Quem prefere o aluguel prioriza o fato de não se preocupar com a manutenção dos aparelhos nem com a atualização da tecnologia no caso de eletroeletrônicos. Privar-se do investimento inicial para montar a estrutura também é algo levado em conta.
O aluguel de uma televisão LCD de 22 polegadas custa em torno de R$ 20 por mês. Uma nova, de marca tradicional, sai por cerca de
R$ 700. Em três anos, com parcelas do tamanho da taxa de aluguel, o televisor seria pago. ;Mas quando saísse da garantia e desse problema, a pessoa teria dor de cabeça;, pondera Ademir Araújo, gerente da Colortel, que trabalha no ramo de locação de aparelhos como ar-condicionados, frigobares e geladeiras, além de televisões.
Um ar-condicionado split ; de 7 mil BTUs de potência ; custa nas lojas cerca de R$ 900. A instalação pode exigir mais R$ 400, incluindo mão de obra e contrato de manutenção. O aluguel sai, em média, por R$ 50 mensais. ;Para quem precisa estruturar dezenas de quartos, vale a pena. Aos poucos, o empresariado tem entendido as vantagens;, diz Araújo.
Como o volume de compra é muito alto, as empresas de aluguel conseguem negociar diretamente com as fábricas e, assim, mantêm os clientes com aparelhos sempre atualizados. ;Hoje você compra uma televisão e daqui a um ano ela já está obsoleta. Com o aluguel, não temos esse problema. Não é preciso fazer novos investimentos com frequência;, comenta Delcimar Moreira, controller do Naoum Plaza, onde os quase 200 apartamentos possuem frigobar e televisão alugados.
Colaborou Mariana Branco
Locação não é a regra
Palavra de especialista
;Tanto a compra quanto o aluguel são viáveis, dependendo do bem e do objetivo da pessoa física ou jurídica. No caso de um imóvel, se a intenção for adquirir como forma de investimento, para o leigo é uma excelente aplicação. Os imóveis têm tido valorização bastante grande, e a situação de Brasília é atípica, só comparável a algumas regiões nobres de São Paulo e Rio de Janeiro. Dá para comprar e vender por um valor muito maior mais tarde, mesmo se for para vender o ágio. Já no caso de empresas é diferente. A pessoa jurídica depende de capital de giro, então é melhor ela optar por aluguel, aplicar no crescimento, na rotação de estoque. A compra onera muito. Mesmo assim, alugar não é regra, depende, na verdade, do imóvel, de quanto teria que dar de entrada, da saúde financeira do empreendimento. Falando de veículos, o número de locadoras vem crescendo muito no Brasil. O fator do imposto, do custo do seguro, do roubo, está tornando a locação uma opção atraente tanto para pessoa física quanto para jurídica. Em Brasília, particularmente, onde estacionar está cada vez mais complicado, usar o táxi ou o transporte público e alugar em ocasiões especiais pode ser uma solução.;
Bento Félix, chefe do departamento de Economia da Upis
Imóvel é bom investimento
Quando a dúvida entre alugar e comprar paira sobre um imóvel, o mercado se apressa em convencer os temerosos de que a resposta é mais clara: caso tenha oportunidade, compre. O fenômeno imobiliário de Brasília continua impressionando. A valorização dos imóveis tem sido de 15% até 50% ao ano, segundo as imobiliárias. ;Fica fácil explicar que o melhor é comprar. Perder dinheiro, a pessoa não vai;, sustenta o diretor comercial da Lopes Royal, Leonel Alves.
Se o montante disponível é suficiente para custear apenas o aluguel ; e apertado ; não há outra saída. Mas, caso o capital seja um pouco maior, vale encarar o imóvel como investimento, sustenta Alves. ;Pelos próximos 10 anos, ao menos, o mercado continuará pujante. E a valorização é certa;, afirma o diretor da Lopes Royal. Mesmo as empresas, que geralmente alugam espaço para montar escritório ou comércio, têm optado pela compra. ;Pela falta de espaço e pela valorização;, diz Alves.
A decisão, na avaliação do gerente regional da EBM Incorporações, Fábio Teles, envolve três fatores: a real necessidade do interessado, o tamanho do dinheiro em caixa e o fator emotivo, ou seja, a intensidade do desejo de conquistar um bem. ;O fator emocional chega a ser decisivo;, comenta. Com a oferta de crédito em alta, ele defende, porém, que a compra se apresenta como opção mais vantajosa. ;Há valores de aluguel que são os mesmos de parcelas de financiamento;, compara Teles.
Valorização
De acordo com o último Boletim de Conjuntura Imobiliária, elaborado pelo Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi-DF), o preço médio de um apartamento de dois quartos no Plano Piloto era, em julho, de R$ 417.800 ; com valor médio do metro quadrado a R$ 6.949. O aluguel saía, em média, por
R$ 1.576. No caso de salas comerciais no DF, o preço médio para compra era de R$ 234,701 ; com valor médio do metro quadrado a R$ 6.531, nas asas Sul e Norte. O aluguel médio de uma loja: R$ 2.633.
O diretor da Beiramar Imóveis, Pedro Fernandes, comenta que, se a análise na hora de optar pela compra ou pelo aluguel for estritamente financeira, a pessoa física acabará decidindo pela primeira opção. ;O nível de valorização tem superado as taxas de financiamento;, reforça. No caso das empresas, ele conta que a preocupação em não prejudicar o fluxo de caixa ainda leva a maioria dos empresários a alugar um imóvel e usar o dinheiro aplicado para expandir o próprio negócio.