Cidades

Ao menos quatro unidades particulares do DF registram infecção pela KPC

Secretaria, no entanto, se recusa a divulgar a lista detalhada das unidades onde houve contaminações e mortes

Adriana Bernardes
postado em 26/10/2010 08:17
Grávida, Elma Pereira de Souza questiona ginecologista sobre risco de contrair bactériasA superbactéria que contaminou 183 pessoas e matou 18 no Distrito Federal se alastra também pelos hospitais particulares. Ao menos quatro unidades privadas admitiram a presença da Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC). Nelas, houve o registro de 19 infecções e duas mortes, do total de casos anotados pela Secretaria de Saúde. Os problemas são os mesmos da rede pública: abuso de antibióticos e falhas com a higiene.

Sob a alegação de evitar pânico, a Secretaria de Saúde decidiu divulgar apenas os dados globais sobre a superbactéria, sem detalhar os casos por hospital. Mas isso não traz tranquilidade à população. Mãe de três filhos e prestes a dar à luz Vitor Hugo, a dona de casa Elma Pereira de Souza, 32 anos, questionou a ginecologista sobre os riscos de contrair a KPC. ;O neném vai nascer nesta quarta-feira e estou preocupada. Quis saber como se pega essa bactéria e se corro algum risco. A ginecologista disse que o perigo é para quem está na UTI e com a imunidade baixa;, contou a gestante.

Na tarde de ontem, o empresário Luciano Ribeiro dos Santos, 38 anos, aguardava para visitar a avó de 72, internada na UTI de um hospital particular da Asa Norte. ;Estamos preocupados com essa história de KPC, porque sabemos que ela pode ser contaminada;, comentou. Segundo ele, o controle dentro do hospital é rigoroso. ;Mandam a gente lavar a mão com água, sabão e depois passar álcool. Funcionários ficam ao lado, orientando. Só então deixam entrar na UTI;, relatou.

Antibióticos
Especialistas afirmam que os profissionais de saúde também são responsáveis pelo surgimento de bactérias resistentes e que o surto no DF pode contribuir para o aprofundamento das discussões sobre as práticas nos hospitais públicos e privados. Presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM-DF), Iran Augusto Gonçalves Cardoso diz que o medo de erro médico leva os profissionais a abusarem dos antibióticos. ;Em alguns casos, os médicos temem o erro e acabam usando de cara um antibiótico quando não é necessário. Essa situação obrigará os profissionais a fazer um histórico melhor do paciente;, avalia.

Luciano Ribeiro está preocupado com a avó, internada na UTI de um hospital da Asa NorteExames físicos e análise mais aprofundada dos sintomas podem evitar o excesso de medicação, segundo Iran Cardoso. O ideal, diz ele, é fazer exames laboratoriais sempre que um paciente apresenta sinais de infecção. ;É preciso fazer a cultura de bactérias para se ver se há ou não processo infeccioso e descobrir por qual bactéria. Só então, inicia-se uma antibioticoterapia;, recomenda. O resultado da cultura pode demorar entre 48 horas e 72 horas.

O assédio da indústria farmacêutica sobre os médicos, assim como a automedicação, são apontadas pela infectologista-chefe do Hospital Daher, Luciana Teodoro Lara, como agravantes para o problema. ;Às vezes, o médico prescreve um antibiótico superpotente para tratar uma dor de garganta. É como dar um tiro de canhão para matar mosquito. Um dos efeitos colaterais é a resistência adquirida pela bactéria;, afirma.

Mas, apesar de existirem falhas, Luciana Lara assegura que, na maioria das vezes, o uso do antibiótico no ambiente hospitalar é feito corretamente. ;Quando há tempo hábil, o exame de cultura bacteriana detecta qual é o tipo de organismo responsável pela infecção e então a prescrição é feita exatamente para aquele caso, na dose e pelo tempo necessário;, explica. A direção do Daher informou que não há registros de KPC no hospital.

Treinamento
Amanhã, médicos da área de ginecologia e obstetrícia da Rede Brasília de Hospitais participarão de um workshop sobre o uso racional dos antibióticos. A direção não informou quantos casos foram registrados na rede ; Hospital Brasília, Dr. Juscelino Kubitschek e Hospital das Clínicas de Brasília ; sob a alegação de que os dados são sigilosos. A infectologista Maria de Lourdes Worisch Ferreira Lopes, da Rede Brasília de Hospitais, afirma que os funcionários receberam treinamento intensivo para lidar com infecções pela KPC e que as normas de higiene das instalações e das mãos de enfermeiros e médicos foram reforçadas.

Paciente diagnosticado com a enzima carbapenemase ; que torna a bactéria resistente ; é isolado dos demais, segundo Maria de Lourdes. ;Para evitar abusos dos medicamentos para tratar dos pacientes com infecções, existe apoio diário da infectologia com discussão de todos os casos à beira de leito;, esclarece a médica. E, nesses hospitais particulares, pacientes vindos de outras unidades de saúde são submetidos a testes logo após a admissão.

Secretaria, no entanto, se recusa a divulgar a lista detalhada das unidades onde houve contaminações e mortes

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