postado em 27/10/2010 08:08
É possível reduzir a carga de poluentes emitidos pelos milhares de ônibus que circulam no Distrito Federal sem que isso custe tanto? Foi com essa ideia que o estudante Ricardo Castro de Aquino, 18 anos, elaborou o projeto vencedor do 24; Prêmio Jovem Cientista na categoria Estudante do ensino médio, que trouxe este ano o tema Energia e meio ambiente ; soluções para o futuro. Aluno do Centro de Ensino Médio 404 de Santa Maria, Ricardo desenvolveu um filtro automotivo separador de poluentes, economicamente viável e com o melhor índice de desempenho do mercado. O projeto concorreu com outros 1.924 de todo o país.Em comparação aos filtros comercializados, que não custarão ao consumidor menos de R$ 800, o novo filtro pode ser feito com custo máximo de R$ 60 e não exige manutenções recorrentes ;pode ser limpo a cada dois meses, enquanto os convencionais, em média, exigem limpeza a cada cinco dias. ;O maior diferencial do novo filtro é seu poder de retenção de gases poluentes: 86%. As opções disponíveis para venda mais eficientes filtram no máximo 50% das mesmas substâncias;, explica o jovem cientista.
O filtro automotivo é instalado no fim do cano de descarga dos veículos. Formado por um cilindro de metal de 28cm e diâmetro variável (de acordo com o modelo do carro), feltro automotivo, serpentina de metal e gel absorvente, o equipamento mostrou-se uma alternativa eficiente na redução da poluição atmosférica. O gel desenvolvido por Ricardo é o diferencial do protótipo. Trata-se de um composto orgânico que absorve a maior parte da fuligem que passa pelo filtro. ;Diferentemente dos mecanismos convencionais, que transformam os gases poluentes em gases menos perigosos, meu filtro recolhe toda a sujeira produzida, não havendo reação química;, explica Ricardo. ;Com isso, é possível reduzir o uso combustíveis fósseis, já que a fuligem retida no filtro pode ser reaproveitada na recauchutagem de pneus.;
Realizado em parceria com a Coordenadoria de Segurança e Transporte do Tribunal Superior do Trabalho (TST) em Brasília, sob a orientação da professora Vânia Lúcia Costa Alves de Souza, o projeto para o novo filtro automotivo foi submetido a um estudo de viabilidade econômica. ;Desde o início do trabalho, em 2008, a ideia era o desenvolvimento de um produto comercialmente viável e acessível à população;, explica Vânia Lúcia. ;A manutenção do filtro é muito fácil e rápida. Em apenas dois minutos, é possível retirar o filtro do cano, bater com um martelo de borracha e repor o gel absorvente;, ensina Ricardo. ;O mais importante é que, na falta da manutenção, haverá perda da capacidade de filtragem, mas não prejuízo do funcionamento do carro, como ocorre com os aparelhos atuais.;
Determinação
A motivação desenvolver o projeto nasceu da rotina diária do estudante, que utiliza o transporte público de Brasília para ir à escola e ao trabalho. ;Em 2008, enquanto estagiava no Tribunal Superior do Trabalho, tive a oportunidade de desenvolver e testar o sistema nos ônibus do tribunal;, lembra. Para isso, ele precisou fazer uma grande pesquisa antes de elaborar o projeto. ;Comecei a estudar em 2007 o funcionamento de filtros convencionais e os prejuízos que gases tóxicos liberados na atmosfera podem causar à saúde. Pedi material de referência a departamentos de engenharia e medicina da Universidade de Brasília (UnB) e a universidades de São Paulo e do Rio de Janeiro.;
Determinado, Ricardo teve que enfrentar a descrença de colegas e especialistas. ;Várias pessoas questionavam o motivo de um estudante do ensino médio estar tão interessado no funcionamento de filtros e gases. Até então, não pensava na possibilidade de me inscrever no prêmio. Minha motivação impressionava os outros, de forma negativa e positiva. Eu não deixei de lado meu ideal e continuei;, conta. Quando foi anunciada a premiação do Jovem Cientista, Ricardo ficou surpreso e muito feliz. ;Eu acompanhei o concurso dia a dia, procurando novas notícias. Sempre acreditei no potencial desse trabalho e na determinação de meus professores. Esse foi o principal motivo da inscrição no Jovem Cientista. É muito gratificante receber um reconhecimento desse porte;, afirma o jovem pesquisador.
Um pouco de cada vencedor
Eduardo Façanha de Oliveira, estudante da Universidade Federal do Ceará (UFC), 24 anos, desenvolveu um conversor de energia eólica de pequeno porte, apropriado para residências e estabelecimentos comerciais. Apresentado em duas versões, o equipamento pode carregar baterias ou ser interligado à rede elétrica. Nas duas formas de uso, o conversor procura extrair o máximo de energia disponível no vento e a torna compatível com o uso em aparelhos domésticos. Concorreu na categoria Estudante de ensino superior.
O investimento para a construção do modelo com baterias não ultrapassa R$ 40. ;Com um gasto mínimo para a compra de um catavento, para a construção do conversor e instalação, é possível zerar o consumo de uma casa com até quatro pessoas e que consome cerca de 300kwh de energia por mês. Isso tudo com menos de R$ 2 mil de gasto. Em menos de um ano, o investimento é todo revertido na economia da casa;, explica.
Ainda pouco utilizada no meio urbano, a energia eólica tem nas cidades do litoral mercado promissor. Para atender essa demanda, Eduardo já está expandindo seu projeto, em parceria com um fabricante nacional de turbinas eólicas, para desenvolver sistemas aplicáveis a ambientes urbanos.
Categoria Graduado
O mineiro Leandro Alves de Sousa, 27 anos, doutorando em engenharia química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) otimizou, durante seu mestrado, um catalisador para a produção de biocombustível a partir do óleo de girassol e de outros óleos vegetais, inclusive aqueles que já foram usados e armazenados. O objetivo do estudo, segundo Leandro, foi obter um combustível com propriedades semelhantes às do diesel e que pudesse ser produzido empregando a infraestrutura já existente em refinarias de petróleo, o que eliminaria a necessidade de novos investimentos.
Para isso, o processo utilizou um catalisador, substância que acelera reações químicas, capaz de converter óleos vegetais em biocombustível, dispensando a incorporação de enxofre. ;A partir do meu estudo, torna-se possível reutilizar restos de óleo vegetal e transformá-lo em combustível. Os carros não precisarão se adaptar, já que as propriedades são as mesmas do diesel. Além disso, esse novo biocombustível não gera resíduos como a glicerina e os gases restantes do processo químico para sua produção podem ser totalmente reaproveitados.;