postado em 27/10/2010 11:23
Parecia batuque de escola de samba, mas era manifestação. Armados de faixas, colheres, panelas e instrumentos de percussão, cerca de 30 alunos da Universidade de Brasília (UnB) invadiram ontem o prédio da reitoria do campus Darcy Ribeiro, no Plano Piloto. Eles pertencem aos campi localizados nas regiões administrativas de Ceilândia, Gama e Planaltina e reivindicavam isonomia na concessão de benefícios da Política de Assistência Estudantil aos universitários de todas as unidades. Membros da instituição tentaram dialogar com os manifestantes, mas as partes não chegaram a um acordo. Somente após quarenta minutos de conversa, os alunos deixaram o edifício."Vamos ocupar os nossos campi. A ideia é paralisá-los, não deixando ter aula até que haja a resolução do nosso problema. Na verdade, só viemos dar um recado ao reitor. Afinal, eles chamam a gente para estudar, falam que temos que nos dedicar integralmente à universidade, mas não dão estrutura para nos mantermos nela", denunciou o estudante de Gestão Ambiental, de Planaltina, Bruno Leandro. Ele foi uma das pessoas que liderou a manifestação de ontem. "Há uma disparidade geral entre as unidades, tanto sob o ponto de vista financeiro, como sob o de atendimento burocrático. Estudantes que moram em outras regiões não podem fazer matrícula aqui. Outro problema é que recebemos R$ 240 para alimentação, enquanto o pessoal do Darcy Ribeiro, que tem café, almoço e jantar, recebe R$ 653. Isso fora a moradia, que a gente não contabilizou", reiterou.
Os manifestantes do campus de Planaltina alegam que a universidade teria se comprometido a reajustar, semestralmente, o valor da bolsa alimentação, entretanto, nada aconteceu. Essas negociações já vinham acontecendo sem sucesso, segundo eles, desde o 5; semestre. Os dizeres, nas faixas carregadas pelos estudantes, demonstravam a impaciência com a demora na resolução do impasse. Em uma delas estava grafado: "Basta de diálogo, panelaço já", outra dizia: "Auxílio moradia e isonomia já". O protesto começou no Instituto Central de Ciências (ICC) Sul até chegar à reitoria. Durante o percurso, os universitários cantavam a frase "Ai, que nojo, nosso almoço só dá miojo". A promessa era cozinhar o macarrão e entregar ao reitor.
"O que sei é que há uma discrepância de valores. O Conselho de Administração da UnB recebeu a reivindicação de reajuste na bolsa alimentação para R$ 340. O estudo de viabilidade desse montante ou do valor que seria viável estava em fase de implementação quando começou a greve dos servidores. Um dos setores mais atingidos foi a Diretoria de Desenvolvimento Social (DDS) e não houve capacidade de recursos humanos para implementar", justificou o assessor do gabinete do reitor Rafael Moraes.
Briga pela moradia
A única concessão de moradia que a UnB possui atualmente é no campus Darcy Ribeiro. Representantes da instituição esclareceram que tanto os estudantes dessa unidade, como dos demais campi, podem concorrer à vaga.
De acordo com o assessor do gabinete do reitor, Rafael Moraes, houve uma mistura de conceitos pelos universitários, o que acabou gerando uma confusão. Eles acreditavam que os alunos do campus Darcy Ribeiro receberiam uma bolsa moradia de R$ 510. "Ninguém hoje na Casa do Estudante recebe esse dinheiro. O direito e a concessão da moradia estudantil, hoje, e que vai ser ampliado na construção da nova Casa, é uma política de moradia estudantil que vem sendo implementada e que deve ser ampliada no próximo período", introduziu Moraes. "Há uma necessidade de reforma no atual prédio de moradia, onde há, inclusive, estudantes do campus de Planaltina. Por essa necessidade, vai ser paga uma ajuda de custo com duração de oito meses e, finalizada a reforma, volta-se a casa", completou.
Divisão por grupos
A Universidade de Brasília divide os estudantes de baixa renda em diferentes grupos. Os que pertencem ao grupo 1 são os que possuem a situação socioeconômica considerada insuficiente para a manutenção do estudante na universidade. Os do grupo 2 são aqueles que têm a situação considerada parcialmente insuficiente para se manter. Existem também os não prioritários, que não têm direito a benefício financeiro.
De acordo com a classificação, os universitários recebem descontos diferenciados no Restaurante da UnB, conquistam o direito ao programa moradia estudantil e podem participar do programa Bolsa Permanência, que oferecem atividades remuneradas dentro da universidade.
Números
Para que o aluno possa receber o auxílio alimentação, ele deve estar enquadrado no grupo 1 ou no grupo 2. De acordo com a Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília (Secom/UnB), 402 estudantes recebem esse benefício ; equivalente a R$ 240. Só estudantes dos campi de Planaltina, Gama e Ceilândia podem receber o dinheiro. No total, 184 estudantes do grupo 1, recebem a Bolsa Permanência, no valor de R$ 465.