postado em 29/10/2010 09:16
Pais, estudantes e professores estão assustados com a onda de violência que toma conta das escolas do Distrito Federal. Somente esta semana, três casos graves envolvendo alunos foram registrados nas delegacias brasilienses. Um adolescente de 13 anos é acusado de efetuar dois disparos contra seu desafeto de 16, em Planaltina, na tarde de quarta-feira. O rapaz foi atingido no braço e no peito, passou por cirurgia no Hospital Regional de Planaltina (HRP) e se recupera bem. O ato infracional ocorreu a menos de 100 metros do Centro Educacional Dona América Guimarães, situado no bairro Arapoanga.No dia anterior, uma estudante de 14 anos teve o rosto cortado por uma lâmina. A agressora é uma jovem de 16. As duas estudam em uma escola pública da Fercal, em Sobradinho, e brigaram a poucos metros do portão de entrada do estabelecimento de ensino. No mesmo dia, policiais civis prenderam Luan Raoni dos Santos, 21 anos, o principal suspeito de assaltar pelo menos 14 estudantes de escolas públicas e privadas da Asa Sul. Sua área de atuação era entre as quadras 912 e 915 Sul. Os roubos aconteciam sempre nos horários de saída das aulas, por volta das 13h e das 19h.
Diante dos últimos acontecimentos, a comunidade escolar está em alerta. Na porta dos centros de ensino, nunca foi tão grande o número de pais esperando por seus filhos. A dona de casa Sônia Maria da Silva Monteiro, 42 anos, sai de Águas Lindas (GO) às 5h40, de segunda a sexta-feira, rumo ao Plano Piloto para deixar os dois filhos nas escolas Elefante Branco, na 908 Sul, e Caseb, na 909 Sul. Muitas pessoas, ao conhecer os filhos de Sônia, se surpreendem: o mais novo tem 15 anos e a mais velha, 18. Os dois garantem que não se sentem constrangidos com o cuidado da mãe. ;Sei que ela faz isso porque é bastante preocupada com a gente. Sem contar que eu gosto muito de voltar para casa na companhia da minha mamãe. Não tenho vergonha nenhuma de a minha mãe me buscar na escola;, contou o rapaz.
A dona de casa confirma que tomou a atitude de acompanhar os dois com medo dos crimes praticados contra alunos no Plano Piloto. ;Ha pouco tempo vimos aquele menino sendo espancado no Caseb. Morro de medo que algo parecido ocorra com meus filhos. Fico mais segura sabendo os passos que eles dão;, disse.
O fato recordado por Sônia ocorreu em 15 de julho deste ano (Veja Memória) a cerca de 300 metros do Caseb. Na ocasião, um aluno do 1; ano do ensino médio foi espancado por oito rapazes, todos menores de idade. O jovem teve de passar por três cirurgias e até hoje faz tratamento psicológico para se recuperar do trauma.
O mesmo cuidado de Sônia tem a aposentada Francisca Costa de Souza, 60 anos, que todos os dias deixa e busca o neto na porta do colégio Elefante Branco. Quando vai embora com ele para a parada de ônibus, ela ainda leva outros três adolescentes. ;Os pais deles me pediram para eu acompanhá-los até o ponto. Está todo mundo um pouco neurótico com esses assaltos e essas brigas que acontecem em frente às escolas. Faço esse favor porque eu, se não pudesse acompanhar meu neto, também ficaria preocupada;, comentou a aposentada.
Ação policial
O comandante do Batalhão Escolar do DF, tenente-coronel Maurício Andrade da Silva, considerou os fatos isolados e garantiu que o policiamento foi intensificado nas regiões onde observou-se uma incidência maior de delitos. ;Na medida em que tomamos conhecimento de situações assim, intensificamos as ações, principalmente nos horários de saída dos estudantes das aulas;, disse.
O oficial também fez questão de frisar que, no caso de Planaltina, onde um aluno foi baleado, uma tragédia maior foi evitada graças à resposta imediata dos dois policiais do Batalhão Escolar que estavam de plantão na hora da tentativa de homicídio. ;O rapaz que estava armado só não consumou o fato, ou seja, executou o estudante, porque a guarnição reagiu prontamente. O mais importante de se ressaltar nesse caso é que o jovem já vinha sendo ameaçado e não comunicou o fato à escola, nem à polícia. Se ele ou o pai tivessem procedido dessa forma, a ação teria sido a de orientá-los no sentido de evitar que sua integridade fosse colocada em risco;, observou Maurício.
Para o diretor-geral da Polícia Civil do DF, Pedro Cardoso, a ação das instituições responsáveis por garantir a segurança pública deve ser a de estudar como agem os grupos criminosos que procuram fincar raízes dentro dos estabelecimentos de ensino, recrutando jovens e até crianças para o tráfico de drogas, entre outros delitos. ;A Polícia Civil faz um trabalho de mapear os perímetros das escolas em que há mais crimes registrados. Com isso, elaboramos relatórios e encaminhamos à Secretaria de Segurança Pública, para que os policiais que atuam no fronte sejam orientados;, destacou Cardoso.
Crítica
Um professor da rede pública de ensino, que preferiu não se identificar, criticou a forma de atuação dos policiais. ;Não adianta o policial ficar parado na porta do colégio e deixar o aluno exposto no caminho de casa. Claro que eu entendo que não dá para levar cada aluno em casa, mas deveria haver mais viaturas fazendo rondas nos caminhos usados pelos estudantes. Basta isso para inibir muitos crimes cometidos a 100, 200, 300 metros da escola.;
Na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), a presença de crianças e jovens uniformizados é comum. A maioria das ocorrências é relacionada a brigas, ameaças e injúrias, mas também são registrados assaltos e agressões mais graves. O delegado-chefe adjunto da unidade policial, Yuri Fernandes, ressaltou que os pais devem participar da educação dos filhos para evitar surpresas desagradáveis. ;Não é muito comum chegarem para nós ocorrências graves envolvendo estudantes, mas é bom que os pais acompanhem como seus filhos se comportam no ambiente escolar;, aconselhou.
Números
Segundo a delegada-chefe da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), Eliana Alipaz, 27% das ocorrências registradas no ano passado envolvendo menores de idade ocorreram dentro ou próximo a estabelecimentos de ensino. No entanto, apenas 1% chegou a ser considerado um ato infracional de natureza grave.