Luiz Calcagno
postado em 29/10/2010 09:19
A Polícia Civil está à procura do terceiro assaltante acusado de matar o professor de tênis Pedro dos Santos Soares, 26 anos. O rapaz foi assassinado na noite da última quarta-feira, no estacionamento do bloco O da 413 Sul. A vítima foi abordada por três assaltantes, entre eles, dois adolescentes de 17 anos que foram apreendidos em flagrante e encaminhados ao Centro de Atendimento Juvenil (Caje). O outro comparsa continua solto. Até as 22h30 de ontem ele podia ser preso em flagrante, mas não foi encontrado pela polícia e, agora, se for identificado, só pode ser detido 48 horas depois das eleições deste domingo, ou seja, a partir da 17h de terça-feira, conforme prevê o Código Eleitoral. Como se trata de um crime hediondo, isso só será revertido caso o juiz determine a prisão do suspeito (veja o que diz a lei).Pedro levou dois tiros, um no olho e outro no ombro no momento em que se recusou a entregar o carro, um Audi de cor azul, placa JFX-5293/DF, e lutou com um dos bandidos. A investigação da polícia aponta para crime de latrocínio (roubo com morte), cuja pena, no caso de ser praticado por adulto, pode chegar a 30 anos de prisão. Na hora do assalto, Pedro estava acompanhado da namorada, a comerciante Samantha Coelho da Silva, 19 anos. Os assaltantes ainda chegaram a atirar contra ela, mas não acertaram. Os dois namoravam há um ano e oito meses e planejavam se casar no próximo ano. ;Foi um sonho interrompido. Eles se gostavam muito;, disse o pai adotivo de Samantha, o comerciante Ryad Abdel Assis Carajá, 68 anos.
O corpo de Pedro foi sepultado ontem no cemitério Campo da Esperança. O dia foi de muita tristeza e angústia para amigos e familiares. Eles cobravam justiça e uma punição mais rigorosa para os menores infratores. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê pena de no máximo três anos de apreensão para jovens com menos de 18 anos que cometem ato infracional. ;O que eu vou dizer? Não existe justiça. Com essa lei, tudo vai continuar do mesmo jeito. Mais gente vai morrer, menores que matam vão continuar sendo soltos e os jornais vão continuar publicando artigos. Quem paga é sempre a família;, criticou o engenheiro eletrônico Bruno Venâncio, 32 anos, concunhado da vítima.
Pedro morava em Santa Maria e era o único filho homem da dona de casa Maria de Lourdes dos Santos, 52 anos, com o pintor José Maria Soares Pereira, 58. Ele tinha acabado de trocar o Peugeot pelo Audi que tanto sonhava ter. ;Meu filho era tudo na minha vida. O que eu vou fazer sem ele?;, dizia a mãe, ao celular. Muito abalada, Maria de Lourdes era só lágrimas. ;Era um filho muito bom para mim. Ele pagava as contas dele e queria formar uma família, como qualquer pessoa. Espero justiça e que todos paguem pelo que fizeram;, disse a mãe ao Correio. O pai preferiu não falar com a imprensa.
Histórico de violência
Os adolescentes infratores foram pegos em flagrante pela equipe de investigação do 1; Batalhão da Polícia Militar, que fazia policiamento ostensivo na quadra no momento do crime. Antes de tentar roubar Pedro, os três assaltantes ainda levaram documentos, dinheiro, roupa e material escolar de um garçom e de um estudante de psicologia que estavam na parada de ônibus da 413 Sul. ;Por pouco não atiraram na gente. Eles estavam muito impacientes e andando para lá e para cá. Falaram para sentar no banco e não olhar para trás porque, senão, iriam nos matar;, contou o estudante.
Durante todo o dia de ontem, várias testemunhas foram chamadas para prestar depoimento na 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul), onde o caso está sendo investigado. Samantha voltou a prestar novos esclarecimentos. Na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), na 204/205 da Asa Norte, a apuração está encerrada em relação aos dois adolescentes. Eles vão responder pelo latrocínio e ficarão à disposição da Vara da Infância e da Juventude (VIJ), que determinará qual será a punição de cada um.
Os adolescentes são reincidentes. O primeiro tem seis passagens, sendo cinco por tráfico de drogas e uma por homicídio. O outro menor também matou uma pessoa no Guará e ficou internado no Caje por tráfico de drogas. Um deles foi reconhecido por Samantha como autor dos disparos que mataram Pedro. Entretanto, o acusado nega ter atirado contra o professor de tênis. Como a arma do crime não foi encontrada, a polícia não descarta a possibilidade de, na verdade, o autor dos disparos ser o maior de idade, que está foragido.
O QUE DIZ A LEI
O artigo 236 da Lei n; 4.767/65 (Código Eleitoral) proíbe a prisão de pessoas nos cinco dias que antecedem as eleições até 48 horas depois do seu encerramento, exceto em casos de flagrante ou sentença condenatória por crime inafiançável como os hediondos.
DEPOIMENTO
Edson Raw, 41 anos, professor de tênis
;Fui professor do Pedro quando ele era criança. Ele tinha sete anos e começou a profissão pegando bolas para os jogadores na Academia de Tênis, no Setor de Clubes Sul. A família veio do Maranhão e é de origem humilde. O pai era pintor da própria academia e o Pedro começou a se interessar em jogar tênis. O que era uma brincadeira virou uma coisa séria e o esporte abriu as portas para ele e muitos meninos crescerem e terem uma profissão. É incrível o que aconteceu porque nunca vi o Pedro falando alto com ninguém. Era um jovem muito tranquilo. Todo mundo gostava dele. Com certeza é uma perda muito grande.;
Entrevista - Samanta Coelho da Silva, 19 anos
Como tudo aconteceu?
Chegamos atrás do meu prédio por volta das 22h20. Ele (Pedro) já parou o carro de ré. Ele estava se despedindo de mim, ia me dar um último beijo quando chegaram três homens, um com a arma, e pediram para o Pedro ;passar o carro;. Eu disse: ;Vamos levantar, Pedro;. Deixei o celular e saí. Eu estava de costas. Achei que ele estivesse deixando o carro, mas ele começou a esmurrar o assaltante.
O que aconteceu em seguida?
O Pedro começou a bater nele. Ele pegou e atirou nele. Eu saí correndo. Ele caiu no banco do carro e eu saí correndo, porque eles também atiraram em mim. Gritei pra todo mundo, chamei todo mundo. A multidão começou a abrir a janela e eles saíram correndo. Depois eu voltei de novo para falar com o Pedro, para ficar com ele, mas ele já estava inconsciente, não respondia. Eu vi meu namorado morrer.
Como foram os últimos minutos juntos?
Antes de me deixar em casa, ele estava estranho. Parecia sentir o que ia acontecer. Estava muito mais amoroso que o normal. De um jeito diferente. Ele só me deixava na parada da L2, não me deixava ali. Do nada ele quis me deixar ali. Eu perguntei por que, e ele disse que era melhor. Está muito difícil. Mas sei que agora ele está em um lugar melhor, está lá em cima.
E a família dele, você falou com eles? Como eles estão?
A família dele está muito abalada. Eu que resolvi todos os trâmites do enterro. A mãe dele está passando muito mal, não consegue falar direito. Todo mundo está arrasado. A mãe o ama muito. Ela fez de tudo por ele. Ele era uma pessoa boa, todo mundo gostava dele. Ele ficava revoltado com injustiças. Já perdeu um amigo em um assalto.
Vocês ficaram muito tempo no carro?
Estávamos há um ano e oito meses juntos. A gente não ficou namorando no carro. A gente só parou para se despedir e os caras vieram. Estávamos pensando em nos casar. Íamos comprar um apartamento em agosto. Já estávamos resolvendo problemas no banco. Em agosto, também, íamos nos casar. Agora eu não sei. Não sei o que vai ser da minha vida. Eu não sei. Eu não sei se eu vou aguentar.