postado em 30/10/2010 08:46
Se o dólar em queda está preocupando o governo federal e os exportadores para o varejo especializado em produtos importados o momento é de comemoração. Os comerciantes que atuam nesse segmento no Distrito Federal esperam turbinar as vendas neste Natal graças à depreciação da moeda americana, que, nos últimos dois meses, vem fechando em um patamar próximo de R$ 1,70 e chegou a atingir R$ 1,65. O fenômeno resulta de forma direta no barateamento dos produtos vendidos por eles. Para especialistas, o movimento cambial vai favorecer principalmente o mercado dos eletrônicos, que devem ser as vedetes deste fim de ano. Apreciadores de bebidas, itens de delicatessen e de roupas e acessórios de marca também podem ficar atentos. A hora é apropriada para realizar o sonho de consumo.;(O efeito) é mais visível na questão dos eletrodomésticos porque as lojas têm estoques grandes, com itens que custaram caro em relação ao preço atual. Se não desovarem logo, vão perder dinheiro. Por isso investem em promoções;, analisa a economista Mariângela Abrão, professora do Centro Universitário de Brasília (UniCeub). ;Quem não comprou tevê nova durante a Copa do Mundo, está comprando agora com mais vantagem;, acrescenta ela, que estima que a desvalorização da moeda americana tenha ocasionado um recuo de até 30% nos preços de televisores desde a época da Copa. De acordo com Mariângela, tevês, videogames, DVDs e aparelhos de som também estão com os preços mais em conta e são uma boa aposta para o presente de Natal. Alguns tipos de vinhos, castanhas e frutas, artigos apreciados no cardápio das festas de fim de ano, devem ficar igualmente mais acessíveis ao bolso. ;Resumindo, o recuo do dólar deve ter efeito sobre esses itens e sobre tudo que vem de fora: roupas, sapatos, maquiagem, perfumaria;, comenta.
A economista reconhece que o cenário é bom para o consumidor final, mas lembra que as implicações do movimento de queda do dólar vão além do mercado varejista e impactam a cadeia econômica do país como um todo (veja Para saber mais). ;Não é só a questão de consumo interno. A moeda americana em baixa reduz o lucro dos exportadores. O efeito do câmbio está tornando a venda dramática para eles;, destaca Mariângela, lembrando que por esse motivo o governo brasileiro e os de outros países estão adotando uma série de medidas (veja quadro) a fim de conter uma valorização excessiva das moedas nacionais frente ao dólar. ;A tendência é que seja atingido um equilíbrio;, prevê.
Economista e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB), Marco Aurélio Bittencourt tem uma visão diferente. Para ele, movimentos de valorização e desvalorização do dólar são naturais em um país com as características que hoje tem o Brasil quanto à política monetária. ;Às vezes, vai cair, outras vai subir. A definição de um mercado flutuante é isso, principalmente em estados que, como o nosso, têm ampla participação no mercado internacional;, opina. Bittencourt discorda das medidas de contenção adotadas pela equipe econômica do governo federal e não acredita que elas possam ser eficazes em última instância. ;A cotação da moeda é um preço que envolve milhões de outros preços. É errado dizer que exportar é bom e importar é ruim. Exportação tem que ser decisão da empresa, não do governo. O Natal deve ser satisfatório, e a importação é algo saudável. É razoável dizer que com esse câmbio as vendas serão altas;, diz.
Otimismo
À frente da Áudio e Vídeo Interiores, loja que trabalha com equipamentos de home theater por encomenda com unidades no Park Shopping e Boulevard Shopping, o empresário Raul Prates Pinheiro Filho comemora a estabilidade do dólar na economia brasileira. ;Existe um alvoroço por causa da queda, mas já houve desvalorização maior do que a atual. Na realidade, quando a economia está indo bem não existe especulação, não existe mercado negro, e a coisa funciona para exportadores e importadores;, acredita. Raul diz que os preços de seus produtos já caíram até 10% desde que o dólar começou a recuar em 2010.
Diomédio Alves Filho, proprietário da joalheria Grifith, que funciona no Park Shopping, também baixou o valor de venda de seu estoque, composto por peças de marcas famosas como Cartier, Dreidling, Panerai, IWC e Hudlot. ;Já houve duas alterações do preço de tabela por parte das importadoras. Repassamos para o cliente. A peça final na loja teve de 12% a 17% de redução. Se o dólar continuar nesse patamar, teremos um Natal bastante aquecido;, prevê ele, que estima trabalhar com 90% de artigos importados.
Dono da loja de vinhos e delicatessen Art du Vin, no Lago Sul, Marcos Augusto Rachelle comercializa, além da bebida, azeites, massas, geleias e chás. Quase todo o estoque ; 97% ; é importado. Marcos conta que no período de Natal, suas vendas costumam crescer de 20% a 30% em relação aos demais meses Com o dólar em baixa, ele espera um desempenho melhor ainda para 2010. ;Ainda não houve redução na tabela das distribuidoras, mas existe uma pressão do setor.;
Lojas abertas
; As lojas do Distrito Federal, tanto de artigos importados quanto nacionais, ficarão abertas amanhã, dia do segundo turno das eleições, e na terça-feira, quando é celebrado o Dia de Finados. De acordo com comunicado divulgado pelo Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), os shopping centers funcionarão das 14h às 20h, e os estabelecimentos de rua terão liberdade de optar pelos melhor horário. Todas as empresas terão que oferecer tempo livre para
que os funcionários
votem no domingo.
PARA SABER MAIS
Ressaca americana
O principal motivo por trás da derrocada do dólar, que vem se acentuando desde setembro, é o desempenho fraco da economia norte-americana interna e externamente. Diante de um mercado desaquecido, que enfrenta uma ressaca após o estouro da bolha econômica em 2008, os Estados Unidos estão liberando mais e mais moeda na tentativa de combater a estagnação, dando fôlego às operações de compra e venda. Isso deu margem a uma depreciação do dólar não apenas frente ao real, mas na comparação com as moedas de outros países. Outros países, além do Brasil, optaram por adotar medidas para combater o fenômeno, já que ele afeta diretamente suas balanças comerciais, prejudicando as exportações e favorecendo as importações. Na prática, os produtos vendidos pelos EUA ao exterior ficam com preço mais competitivo, enquanto os artigos dos demais países ficam mais caros. Alguns especialistas definem essa conjuntura como uma guerra cambial.
Dinheiro depreciado
Medidas que o Banco Central e o governo federal adotaram para conter a queda do dólar
* Ampliação, no dia 19 último, da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente sobre os ingressos externos para mercados financeiros e de capitais. A tarifa aumentou de 4% para 6%. Em 4 de outubro, essa taxa já havia sido elevada de 2% para 4%.
* Tributação dos depósitos de margem, relativos às operações de câmbio feitas por estrangeiros que querem investir no mercado futuro. Antes, eram taxados em 0,38%. Agora, a tarifa subiu para 6%.
* Aumento da capacidade do Tesouro de comprar dólares no mercado à vista, "enxugando" o excesso da moeda. Antes, era permitida a aquisição para fazer frente aos vencimentos da dívida externa de até dois anos. Agora, o limite é de quatro anos de vencimentos.