Roberta Machado, Juliana Boechat
postado em 03/11/2010 08:00
A família de Olímpio Cassiano de Faria Neto, 47 anos, optou pelo silêncio. Uílson Ferreira, primo da vítima, limitou-se a dizer que preferia não comentar a tragédia para preservar o empresário. A esposa de Olímpio, Joelma, está grávida de dois meses e foi retirada do rancho ontem para se acalmar. Além do bebê, o casal tem uma filha e ainda cuida de um sobrinho do dono de restaurantes. A irmã e a prima de Olímpio acompanharam o resgate até a chegada do Instituto Médico Legal (IML) de Luziânia.Ex-bancário, Olímpio veio de Palmeiras (GO) para Brasília em busca de emprego há cerca de 10 anos e conseguiu abrir dois restaurantes, pelos quais é conhecido em Taguatinga e no Núcleo Bandeirante. ;Estão todos transtornados e não querem se expor;, afirmou Carlos Roberto Fernandes, amigo próximo da vítima que ajudou na busca pelos corpos. Há aproximadamente oito meses, Olímpio evitava pescar no Lago Corumbá com os amigos. ;A mulher dele achava perigoso e ele deu uma parada. Mas antes, ele tinha o hábito de pescar duas vezes por mês;, contou Carlos. Segundo o amigo, a água é tranquila e o lago é muito fundo.
[SAIBAMAIS]O dono de restaurantes também despertou a preocupação de algumas de suas funcionárias, que chegaram ao lago na manhã de ontem. ;No domingo, ele estava rindo e brincando com a gente e agora estamos aqui, esperando o corpo;, testemunhou Lorena Ferreira, 17 anos, moradora do P Sul e garçonete de um dos estabelecimentos comerciais de Olímpio. A funcionária conta que as empregadas preferiram ir ao rancho a esperar por notícias em Brasília. ;Antes de ser nosso patrão, ele era nosso amigo. Era uma pessoa que realmente se importava;, descreveu.
As funcionárias foram levadas ao local pelo amigo de Olímpio Ildeu Nunes, 49 anos. O comerciante, morador de Ceilândia, contou que ao menos uma vez ao ano a família do empresário se reunia na casa de veraneio. ;Achei estranho ter acontecido isso, pois eles sabiam nadar;, testemunhou Ildeu. ;Perdemos um grande amigo;, lamentou o colega.
Viúva
A família do mestre de obras Laércio Carlos Batista ainda procura entender a fatalidade que levou à morte repentina do mestre de obras. ;Está sendo terrível, não tenho nem explicação;, testemunhou a esposa de Laércio, Alciene José Bueno. A dona de casa, moradora de Vicente Pires, soube da fatalidade às 18h de segunda-feira e passou o dia seguinte esperando por notícias do marido no rancho de Olímpio Cassiano. Alciene é mãe do filho mais novo de Laércio, de apenas três meses ; ele ainda tinha um filho e uma filha de um casamento anterior.
Segundo a esposa, Laércio era um homem trabalhador e que procurava sempre ajudar os amigos. A mulher conta que não sabe explicar como se sentiu quando recebeu a notícia de que os bombeiros haviam encontrado o corpo do marido. ;Fico aliviada, mas também não fico. Meu pensamento era que ele tivesse saído e estivesse perdido no meio do mato;, lamenta a dona de casa. De acordo com Alciene, Laércio sabia nadar, e essa era a primeira vez que Olímpio não exigia que o grupo usasse colete salva-vidas no lago.
PARA SABER MAIS
Energia por 100 anos
Inaugurada em 4 de fevereiro de 2006, a hidrelétrica Corumbá IV deverá abastecer a população do Distrito Federal e Entorno pelos próximos 100 anos. O Lago Corumbá, onde a usina foi construída, fica em Luziânia (GO), município localizado a 66 quilômetros da capital federal. Com 173 quilômetros quadrados ; cinco vezes maior do que o Lago Paranoá ;, o espelho d;água pode chegar à cota máxima de geração quando alcançar 842 metros acima do nível do mar. Nos períodos de cheia, a profundidade próxima à barragem pode chegar a 76 metros, o equivalente a um prédio de 25 andares.
A construção da hidrelétrica começou em setembro de 2001, mas o desvio do rio Corumbá só aconteceu em julho de 2003. Foram gastos R$ 716,2 milhões na obra ; mais de duas vezes o valor previsto inicialmente ;, sendo parte de recursos privados e parte financiada por bancos. Para tirar o projeto da usina do papel, 17 mil hectares de vegetação próxima à bacia do lago foram alagadas e 623 pessoas foram obrigadas a deixar as suas casas nas áreas rurais de Abadiânia, Luziânia, Alexânia, Santo Antônio do Descoberto, Silvânia e Corumbá de Goiás.
A supervalorização da construção de Corumbá IV envolve polêmica e um suposto esquema de desvio de dinheiro. O inquérito 650 da Operação Caixa de Pandora ligou a obra na usina ao esquema de corrupção posteriormente deflagrado pela Polícia Federal, que culminou na prisão de alguns políticos, inclusive o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda.