Cidades

Pelada no Eixo Monumental reúne familiares há quase 20 anos

postado em 03/11/2010 08:00
De um lado, o Memorial JK e o dos Povos Indígenas. De outro, a visão de todo o centro de Brasília. É ali, bem na área administrativa da capital federal, que familiares e amigos próximos se reúnem em todos os feriados para bater uma bolinha. O costume não é de agora: desde 1992 os jogos descompromissados acontecem, escondidos pelas árvores do gramado do Eixo Monumental, sede dos maranhenses ávidos por futebol.

Foi de São Pedro dos Crentes, cidade localizada no sul do Maranhão, que saíram os mais velhos dos jogadores. Entre eles há todos os graus de parentesco: irmãos, primos, sobrinhos; ;A gente veio estudar, procurar uma profissão e uma vida melhor;, recorda o vendedor Denilson Dias, hoje com 31 anos. Desde os 17, porém, idade com que chegou a Brasília, já adotou em sua rotina as partidas futebolísticas.

O responsável por ;juntar a turma; ; como ele mesmo diz ; foi o cabeleireiro Ageu Lopes de Castro, 40 anos. Tratado como o líder da pelada pelos demais, ele diz que a escolha do local foi pensada. ;Procuramos um lugar que fosse de fácil acesso para que quem não tem carro pudesse vir de ônibus;. Nos times montados há moradores de diversas cidades do Distrito Federal. Segundo Ageu, não houve até hoje nenhuma reclamação por parte do governo pelo uso do gramado.

O gramado próximo ao Memorial JK é palco, desde 1992, do futebol organizado por uma família de maranhenses radicada em Brasília: disputa é entre um time com camisa e outro, semAs partidas são realizadas sempre aos feriados ou, ao menos, em um domingo por mês. ;Exceto quando está seco, porque aí nem tem grama direito, e a gente prefere não vir;, revela o cabeleireiro. Bom mesmo, segundo os jogadores, é dar os dribles debaixo de chuva, como fizeram ontem sob as gotas que caíram na cidade. Quando um dia de folga aparece no calendário, é Ageu quem mobiliza os homens da família para uma nova disputa. ;Eu ligo para todo mundo. A gente costuma ter de 15 a 30 pessoas jogando, dependendo do dia;, conta. ;Como aqui em Brasília a gente mora afastado um do outro, essa foi a forma que eu encontrei de a gente se ver;, explica o organizador, que deu início à ideia jogando em um espaço do zoológico, antes de fixar, de vez, as partidas no Eixo Monumental.

Quando começa o jogo, é um time com camisa e outro sem. Entre os vestidos, predominam os uniformes rubro-negros. ;Eu tenho que vir sem, senão, apanho;, brinca o são-paulino e estudante Leonardo Barbosa, 18 anos. Dependendo da quantidade de jogadores presentes, alguns precisam sentar debaixo das árvores e esperar pela próxima rodada.

Perto dos que esperam pela sua vez, Ageu Filho, 10 anos, e o irmão, Paulo Ricardo de Castro, 4 anos, treinam os primeiros toques. ;Eles ficam no canto, doidos para jogar também;, conta o pai. ;É que eu ainda sou pequeno;, conforma-se o filho mais velho. E as mulheres? ;Antigamente elas vinham, porque desconfiavam da gente. Depois, viram que era verdade e pararam de vir;, conta o líder, provocando o riso dos parentes.

Craques
Eleito pela família o melhor jogador, o também cabeleireiro Jonadabe Tavares Dias, 40 anos, deixa seu salão no Sudoeste para curtir o hobby com os parentes sempre que pode. Morador do Recanto das Emas, conta que eles chegam a passar cerca de três horas jogando bola durante as tardes em que se encontram. Sobre a designação de craque recebida, ele fica tímido. ;A gente tenta ser bom, né?;, diz. ;Quando o ataque está fraco, vou para o ataque. Quando está melhor, fico na zaga, pois sou bom na marcação;, assume.

O menor dos jogadores já virou a grande promessa do time. Samuel Haikan, 12 anos, deu seus primeiros passes no futebol ainda no Maranhão, com o time Estrela da Manhã. Na capital federal, já treina na escolinha do Brasília e se prepara para fazer um teste na do São Paulo. A mistura de times não para por aí. O garoto é torcedor do Fluminense e admirador do Barcelona, o escudo que estampa a camisa selecionada para a pelada de ontem à tarde. Para ele, o futebol já é um sonho maior. ;Vou querer seguir nessa profissão;, conta, acrescentando que recebe, para isso, apoio dentro de casa.


MAIS ÁGUA À VISTA
As precipitações devem continuar em Brasília nos próximos dias. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão é de pancadas de chuva, além de trovoadas isoladas, para hoje, amanhã e sexta-feira. A temperatura deve variar entre 28;C e 18;C, com ventos fracos ou moderados.

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