postado em 04/11/2010 08:00
As autoridades de Saúde do Distrito Federal continuam tentando encontrar estratégias para conter o surto da superbactéria nos hospitais públicos e privados da capital. Desde o início do ano, a KPC contaminou 194 pessoas e matou outras 18 em 17 unidades de saúde, segundo o balanço mais recente divulgado pela Secretaria de Saúde do DF. Ontem, a médica e diretora do Laboratório de Microbiologia do Complexo do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), Flávia Rossi, foi convidada a ministrar uma palestra no auditório do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre resistência microbiana, com destaque para Klebsiella pneumoniae carbapenemase. [SAIBAMAIS]Durante mais de três horas, a especialista orientou enfermeiros, médicos, entre outros profissionais da área, que estavam presentes no evento, sobre os procedimentos que devem ser adotados para evitar a propagação do micro-organismo . Ela avaliou como positivas as estratégias adotadas pelo Governo do DF no enfrentamento do problema, mas ressaltou que é preciso fazer ainda mais para tornar os hospitais menos vulneráveis à KPC.
;Um dos passos importantes neste processo é reconhecer o problema, e isso o DF já fez. Depois, é necessário consolidar estratégias, como por exemplo, fortalecer os laboratórios de microbiologia, e garantir que os hospitais apoiem os profissionais, mantendo todos bem informados;, enumerou Flávia Rossi, destacando também a importância do envolvimento de outros grupos no combate ao problema.
;Depois de detectada a bactéria, entra um outro grupo que vai tentar diminuir a extensão desse problema com medidas terapêuticas. O grande desafio é envolver todos e tomar ações que sejam benéficas a longo prazo;, complementou a médica.
Sem alarde
Apesar de considerar a KPC um problema de saúde pública, Flávia Rossi ressaltou que é preciso cautela ao lidar com o assunto para não provocar um alarde desnecessário. ;Vejo muitas pessoas criando uma neurose de limpeza, esterilizando a casa, usando produtos especiais, o que não é adequado. Se nós, que somos saudáveis, lavarmos bem as mãos antes de nos alimentarmos e depois de irmos ao banheiro, tudo sem pânico, já é o suficiente.;,
A especialista também elogiou a nova regulamentação adotada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que controla a venda de antibióticos e exige a apresentação de prescrição médica. ;Hoje, o uso de antibióticos sem orientação é muito alto nas comunidades. Quando isso ocorre, o organismo pode expulsar as bactérias boas e alimentar as ruins, tornando-as mais resistentes. O que se deve fazer é buscar o equilíbrio. Por isso, o conhecimento é tão importante nesse processo de combate a bactérias resistentes;, ressaltou Flávia.
Antibióticos
A Anvisa aprovou norma que prevê maior controle na venda desses medicamentos. Com a determinação, o paciente receberá do médico duas vias da prescrição do antibiótico e uma delas ficará retida nas farmácias por 30 dias. O uso indiscriminado de antibióticos é uma das causas do aumento de resistência das bactérias, segundo os técnicos da Anvisa.
Mais rigor na higiene
Além das palestras com especialistas de renome, a Secretaria de Saúde estuda medidas adicionais na contenção da KPC nos hospitais. Existe a possibilidade de o GDF adquirir dispositivos automáticos para disponibilizar álcool em gel nas unidades. Além de ser mais econômico, os aparelhos também são menos vulneráveis a contaminações, já não é preciso tocar no recipiente para ter acesso ao produto, como acontece com os equipamentos atualmente instalados.
A chefe da Gerência de Investigação e Prevenção de Infecções, órgão subordinado à Secretaria de Saúde, Eulina Menezes Ramos, disse que, como esses dispositivos são caros, a prioridade será implantá-los nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), onde o risco de o paciente contrair uma infecção é maior. ;Cada equipamento contém 2 mil doses e, além disso, e bem mais econômico. Vamos batalhar para tentar implantá-los pelo menos nas UTIs;, afirmou.
Além do DF, foram registrados casos de KPC no Espírito Santo, em Goiás, em Minas Gerais e em São Paulo. No entanto, só o Governo do DF admitiu que enfrenta um surto. No Brasil, o primeiro relato de contaminação pela KPC ocorreu em 2005, em Recife (PE). Desde então, o tratamento dos pacientes é realizado com os antibióticos Polimexina B e Colistina.
Resolução
No último dia 23, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), publicou uma resolução que obriga hospitais, postos de saúde e demais unidades de saúde ; públicos ou privados;, a instalar recipientes com álcool em todas as salas em que haja contato entre pacientes e profissionais da saúde.