postado em 04/11/2010 08:30
A aparência é de carro antigo, mas a tecnologia que vai no interior do motor é de ponta. Essa é a proposta do BR 12v, nome de batismo do primeiro veículo 100% elétrico nascido no interior de um laboratório da Universidade de Brasília (UnB). O projeto é assinado por um grupo de estudantes de diferentes ramos da engenharia, pertencentes ao Núcleo de Extensão do Gama. A previsão é de que o modelo ganhe as ruas em fevereiro do ano que vem.
A carcaça do Gurgel-BR 800 foi escolhida levando em conta o formato compacto e a leveza da lataria. Serão empregadas 14 baterias, cada uma pesando 18 kg. Quatro delas ficarão com o motor, enquanto as outras 10 serão acomodadas no banco de trás. ;Tivemos que optar pelas convencionais. Isso porque as usadas em automóveis elétricos que circulam pela China, pelos Estados Unidos, por países da Europa e pela Índia ; de íons de lítio ; ainda não podem ser comercializadas no Brasil por falta de legislação referente ao seu descarte;, explica o gerente do projeto, o estudante de engenharia automotiva Wagnei Lemes Martins.;A questão não é a falta de espaço, mas o peso das baterias. Fizemos vários cálculos no intuito de manter a estabilidade do carro;, acrescenta a também estudante do curso de engenharia automotiva Fernanda Almeida. Segundo ela, foi realizado, previamente, um cuidadoso estudo de viabilidade sob o aspecto de economia de gastos e facilidade de conversão do sistema de combustão interna para propulsão elétrica.
Novidade
O diferencial do BR 12v é o uso da corrente elétrica alternada no lugar da corrente contínua. Os alunos esclarecem que esse mecanismo deixará o carro mais leve e mais barato que outros em circulação. ;Em Brasília já há carros que fazem uso de energia elétrica, mas acreditamos que o nosso permitirá uma economia de aproximadamente 30% de dinheiro e 50% de peso do motor;, revela Glayson Quintiliano Souza, aluno de engenharia de energia com ênfase em eletrônica.
Diferentemente dos carros comuns, a potência do elétrico será variável entre 15 e 45 cavalos. Ele alcançará a velocidade máxima de 80km/h. ;A média para veículos urbanos em Brasília é de 42km/h. Pensando que a cada oito horas de carga o tanque está cheio, o motorista poderá rodar 50km. Esse é o limite de carga da bateria;, explica Wagnei.
Projeções e cálculos do BR 12v já estão prontos, mas ainda falta o motor, que deve chegar até o fim do ano, importado do Canadá. Os recursos, até o momento, são próprios, mas existe a possibilidade de apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). ;O motor ainda não é fabricado aqui, mas algumas empresas nacionais se interessaram pelo nosso projeto e quem sabe uma delas começa a desenvolver?;, sugere o estudante de engenharia automotiva Marcos Paulo Alves.
Vantagens
Nos cálculos dos pesquisadores, um carro elétrico eleva em cerca de 10% o consumo de energia por mês em uma residência comum. ;Isso é insignificante em comparação ao que você gastaria com combustível. Podemos pegar como exemplo uma pessoa que gasta R$ 500 nesse período abastecendo o carro comum. Se ela optar pelo veículo elétrico, ela passará a gastar R$ 70;, estima Glayson.
Mitos e verdades sobre o novo motor
; O professor Carlos Gurgel, especialista do Departamento de Engenharia Mecânica da UnB, alerta que muitas pessoas têm uma ideia equivocada sobre os veículos elétricos. ;Não podemos entrar nessa conversa de que eles não poluem nada, pois para fabricar polui, para descartar a bateria polui;, elucida. ;Acontece que, no caso do Brasil, do Canadá, da Noruega, a energia elétrica vem de hidroelétricas e é renovável, o que é muito bom. Nesse sentido, ele não lança gases no meio onde circula, isto é, nas cidades. Por outro lado, em países como os Estados Unidos, em que a energia vem da queima de combustíveis fósseis, acaba-se poluindo o ambiente para realizar essa produção.; Gurgel afirma ainda que é preciso especificar que o benefício se restringe à qualidade do ar nas cidades.