postado em 05/11/2010 08:40
Quando Beatriz Marinho dança, os olhos da plateia acompanham cada passo como se estivessem hipnotizados. Miúda, ela surpreende pela maturidade de seus movimentos. Ao sustentar-se nas pontas dos pés com leveza, passa a impressão de anos de prática. Transborda naturalidade. A menina traz no rosto o semblante seguro e suave de uma bailarina clássica experiente. Tem apenas 10 anos. Este mês, Beatriz será um dos destaques do novo espetáculo da Academia de Dança Clássica de Brasília Norma Lillia Biavaty, a mais tradicional escola de dança da capital, com 48 anos de ensino.
Nos próximos dias 10 e 11 e 13 e 14, o público brasiliense vai conhecer, no Teatro Nacional, o resultado de um longo aprendizado. Serão 500 estudantes e profissionais formados em Brasília no palco. Eles têm dos 3 aos 30 anos. A academia, geralmente, apresenta um espetáculo em novembro ou dezembro. Dessa vez, serão dois: Dom Quixote, do qual Beatriz participa, e Quadros de uma exposição, de dança contemporânea (jazz e lyrical jazz), o primeiro a ser exibido. ;Escolhemos fazer dois espetáculos porque nem sempre quem gosta do clássico também gosta do contemporâneo;, explicou a coreógrafa e professora Norma Lillia.
Adriana Palowa e Herlon Franklin, dois bailarinos profissionais formados no Ballet Norma Lillia, estarão à frente do show, nos papéis principais. Beatriz entra em cena no segundo ato de Dom Quixote, a famosa história do cavaleiro e de sua Dulcineia, ao lado do fiel escudeiro Sancho Panza. A menina interpretará o cupido, o mais famoso personagem do segundo ato da obra. ;Há outros talentos no palco, é claro. Mas, na idade dela, ela é única;, afirmou a coreógrafa.
Novos rumos
Daqui a dois anos, Beatriz terá a chance de ser encaminhada para Varsóvia, na Polônia, com bolsa de estudos oferecida pela Academia Norma Lillia. A professora é representante da Fundação Internacional de Dança da Escola de Balé de Varsóvia. Os pais do jovem talento, moradores do Park Way, ainda pensam sobre o assunto.
Tentam amadurecer a ideia de ver a filha única em uma terra tão distante. ;Ela vai ser muito jovem daqui a dois anos. Não temos condições de nos sutentarmos lá. Sozinha, ela não vai. A formação profissional, artística, é muito importante. Mas a formação humana pesa demais. Quando ela estiver um pouco mais madura, poderá decidir sozinha. Beatriz sempre foi livre para seguir o que quer. E ela é artista por natureza;, afirmou a mãe da bailarina mirim, a estudante Dalle Marinho.
A menina se mostra empolgada com o sonho de fazer parte de um corpo de baile internacional. ;Eu faço balé desde os três anos. Sinto alegria quando danço. Quero ser bailarina quando eu crescer. E esta é uma oportunidade muito grande;, disse Beatriz.
Tanta atenção destinada a Beatriz se justifica. Norma Lillia ; formada pela Escola de Dança do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e pela Royal Academy of Dancing of London (Inglaterra) ; garimpa talentos há quase 50 anos. Quando se vê diante de um nome promissor, nasce a inquietude. ;É raro o aparecimento de talentos. Geralmente, esculpem-se. Com Beatriz, é nato.Você identifica isso em uma bailarina quando ela se destaca entre os demais. Ninguém consegue tirar os olhos dela;, explica.
A pequena bailarina se desenvolve de forma perfeita. ;Há uma série de fatores que fazem uma boa bailarina. O corpo deve ser proporcional. O crescimento da Beatriz tem obedecido a essa regra. Os braços, as pernas, o tamanho das mãos, do pescoço e dos pés. É tudo perfeito para a dança;, elogiou a professora. Além disso, Norma ressalta a perspicácia da aluna, qualidade necessária para quem pretende seguir carreira no balé, assim como a disciplina. ;Ela tem um tipo de inteligência raro. Não é preciso falar com ela duas vezes a mesma coisa.;
Norma Lillia lamenta que Brasília não tenha um corpo de baile e que seja preciso enviar nossos talentos para serem lapidados no exterior. ;Temos um teatro maravilhoso e muitos artistas capacitados. Infelizmente, os órgãos responsáveis por investir nesse setor nunca se atentaram a isso;, criticou.
Os espetáculos
* Dom Quixote, balé em três atos, baseado na obra homônima de Miguel de Cervantes Saavedra, estreou em 26 de dezembro de 1869, no Teatro Bolshoi, pelo Ballet Imperial Russo, com coreografia de Marius Petipa e Alexander Gorsky. Os cenários e os figurinos foram criados por Vadin Rindim com iluminação de Natasha Katz, com música especialmente composta por Ludwig Minkus. Os papéis principais foram interpretados por Anna Sobeshenskaya (Kitri) e Sergei Sokolov (Basílio).
* Quadros de uma exposição é um espetáculo de dança inspirado nas artes plásticas, em obras de mestres que atuaram a partir do movimento impressionista até a arte moderna. O objetivo é traçar um paralelo entre as artes plásticas e a dança, e também mostrar como o movimento real da dança pode produzir milhares de ;fotos;, uma infinidade de quadros e fugazes telas de pintura.
Os espetáculos
Assista
Quadros de uma exposição
Data: Dias 10 e 11
Horário: 20h
Local: Teatro Nacional, Sala Martins Penna
Dom Quixote
Data: Dias 13 e 14
Horário: 19h
Local: Teatro Nacional,
Sala Villa Lobos Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada)
À venda na bilheteria do teatro Informações: 3242-9377